Capítulo dezesseis

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Olho em volta e vejo que os alunos me encaravam em silêncio. Eu congelei ali no meu lugar. O que aquele homem queria comigo? Pensar naquilo realmente me assustava. Eu simplesmente não havia dito nada demais.

Ou havia?

Levanto-me, tentando evitar constrangimentos – como cair no chão por nada – e não olho para ninguém. Respiro fundo e vejo que o professor me esperava do lado de fora da sala. O que Jason queria? Eu estava me remoendo por dentro com perguntas e mais perguntas.

- Venha comigo, Brooke – ele falou.

Assinto temerosa, e o sigo. Andamos pelos corredores, onde os jovens me olhavam como se fosse à diretoria ou algo do tipo. Eu não tinha ideia de para onde eu ia.

Descemos uma escadaria escura que dava caminho para uma estufa. Espera. Uma estufa? Eu vou regar plantinhas, agora?

Nós entramos na estufa vazia e ele me entregou um vaso de flores mortas. Olho para ele, perplexo. Se quiser me dar presente, pelo menos me entrega uma flor viva!

- Há muitos anos, uma aluna disse que possuía a mesma característica que você.

Hum-hum. Muitas pessoas possuem essa mesma característica, professor.

- O que o senhor quer dizer com isso? – tentei manter a voz neutra.

- Eu quero que a senhoria tente fazer essa planta reviver.

Olho para ele, confusa. Depois de levitação vem isso. Ótimo!

- Eu não posso fazer isso.

- Sim , querida. Você pode. Existem Fantasmas Maiores curandeiros. Você pode ser um deles. Você está aqui por uma razão, querida.

- Fantasmas curandeiros?

- Sim, sim. Nós temos vários dons especiais em nosso corpo, que só conseguimos ganhar depois da morte.

Aquilo estava muito estranho.

- E por que isso?

- Um dia saberá – ele riu pelo nariz. Sua testa era enrugada, com certeza, ele se preocupou muito com alguma coisa enquanto estava vivo.

- Ah, professor! Explique-me!

- Prometo que explicarei tudo em breve. Primeiro, vamos ver se você é uma curandeira.

Assenti. Olhei para o vasinho de plantas na minha mão e fechei os olhos. Um sentimento devastador tomou conta de mim. Eu queria proteger aquele vasinho. Eu queria salvá-lo. Eu senti uma escuridão enorme dentro de si. Eu precisava afastar essa sensação que me queimava.

Mas então, eu retirei tudo. Eu limpei aquele vazio enorme que preencheu. Foi surreal. Tão indescritível, que quando eu abri os olhos, lágrimas quentes desciam pelo meu rosto.

Olho para as flores. Eu havia restaurado sua vivacidade. Suas cores exuberantes brilhavam para mim.

Eu sorri.

Jason tinha razão. Eu podia curar e aquilo era... Magnifico.

- Obrigada – eu sussurro.

Jason olha para mim, maravilhado. Ele anota algo em uma caderneta e olha para mim com expectativa.

- Você me surpreendeu! Fazia anos que eu não via algo assim! Consigo enxergar a sua personalidade, Williams. Sabia que você poderia salvar essas flores!

Corei.

- Obrigada, professor.

- Mas algo ainda me deixa encafifado... Você não levita certo?

Beijada pela Morte | livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora