33. MENSAGEM PARA BEM VIVER

56 0 0
                                    


A FELICIDADE

"Desde a época mais recuada da antiguidade, o homem sentiu necessidade imperiosa quão inadiável de vencer a dor e as vicissitudes, libertando-se da angústia e superando o medo da morte. Sustentado nos primeiros tentames pela inspiração espiritual, buscou na intimidade dos santuários a elucidação de vários dos enigmas que o afligiam, para diminuir a crueza das perspectivas de sombra e morte a que se via constrangido a considerar. No entanto, com o nascimento das primeiras escolas de pensamento, que buscavam, através dos seus insignes mestres, a elucidação dos tormentosos mistérios a respeito da vida, perlustrou roteiros diversos, ora em ansiedade, ora em lassidão, padronizando por meio de regras fixas uma conceituação filosófica de tal modo eficaz que o libertasse do medo, fazendo-o tranquilo.

Sem remontarmos à Antiguidade Oriental estabeleceu-se, a princípio, na Grécia, que a felicidade se nutre do belo, por meio do gozo que decorre da cultura do espírito. Enquanto viveu, Epicuro procurou demonstrar que a sabedoria é verdadeiramente a chave da felicidade, mediante a qual o homem desenvolve as inatas aptidões da beleza, fruindo a satisfação de atender as mais fortes exigências do ser.

Pugnavam os epicuristas pela elevação de propósitos, demonstrando que as sensações devem ceder lugar às emoções de ordem superior, a fim de que o homem se vitalize com as legítimas expressões do belo, consequentes aos exercícios da virtude por meio da qual há uma superior transferência dos desejos carnais para as alegrias espirituais.

Posteriormente, o ideal epicurista, também chamado hedonista, sofreu violenta transformação, passando essa Escola a representar um conceito deprimente, por expressar gozo, posse, prazer sensual. Fixaram os descendentes do filósofo de Samos – que elaborara o seu pensamento nas lições de Demócrito oferecendo-lhe vitalidade moral –, o epicurismo nas lutas pela propriedade, ensinando que o homem somente experimenta felicidade quando pode gozar, seja através do sexo desgovernado ou mediante o estômago saciado. Fomentaram a máxima: possuir para gozar, ter para sobreviver, esquecidos de que a posse possui o seu possuidor, não poucas vezes, atormentando-o, por fazê-lo escravo do que tem.

Antes do pensamento epicurista, Diógenes, cognominado o Cínico, graças à sua forma de encarar e viver a vida, estabelecia que o homem deve desdenhar todas as leis, exceto as da Natureza, vivendo de acordo com a própria consciência e com total desprezo pelas convenções humanas e sociais. Era um retorno às manifestações naturais da vida, em harmonia com o direito de liberdade em toda a sua plenitude. Pela forma como conceituava a Filosofia, incorporando-a à prática diária, foi tido por excêntrico. Desdenhando os bens transitórios passou a habitar um tonel. E como visse oportunamente um jovem a sorver água cristalina que tomava de uma fonte com as mãos em concha, despedaçou a escudela de que se servia por considerá-la inútil e supérflua, passando a fazer como acabava de descobrir... Desconsiderou, em Corinto, o convite que lhe fora feito por Alexandre Magno, desprezando a honra de governar o mundo ao seu lado e admoestando-o por tomar-lhe o que chamava "o meu sol".

Fundamentada no amor à Natureza e suas leis, a doutrina cínica considerava a desnecessidade do supérfluo e a perfeita integração do homem na vida, pois que nada possuindo não podia temer a perda de coisa alguma, desenvolvendo o sentido ético do "respeito à vida". Os continuadores exaltados, porém, transformaram-na em uma reação contra as regras da vida, semeando o desdém ou proclamando uma liberdade excessiva, a degenerar-se em libertinagem.

Toda vez que o direito precede ao dever, esse se desequilibra pela ausência de bases que lhe sustentem os interesses, pois que, somente pode usufruir quem haja retamente exercido o compromisso que a vida lhe impõe.

Primeiros Passos na Doutrina Espírita - Volume IVOnde histórias criam vida. Descubra agora