Capítulo IV

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Capítulo IV

É inútil dizer que o jogo de laser tag ficou por ali.

Foram precisos três copos de água com açúcar e uma boa meia hora para conseguir acalmar a Daiana. Ela estava completamente histérica e não conseguia parar de gritar.

Eu não a podia censurar.

Ela acabara de matar uma pessoa. E a culpa não fora dela.

O Marcus, quando viu o corpo morto da Christina, ficou com um ar indecifrável.

- Lyra - não sei porquê, dirigiu-se a mim. - Leva todo o grupo para o pátio e sentem-se lá à minha espera. Vou chamar os outros monitores para retirarmos o corpo e já lá vamos ter. Tu, o Michael e o Kay assegurem-se que ninguém entra em pânico.

Olhei assustada para o Michael e o Kay, que pareciam ainda mais receosos que eu.

- OK pessoal - decidi assumir o comando porque senão, aquilo ia ser o caos. - O Marcus disse para irmos para o pátio esperar por ele e pelos outros monitores! Venham em fila atrás de mim.

Observei um a um as expressões de todos. Havia desde histeria (a Daiana, muito compreensível) a excitamento, como as amiguinhas da Christina, a Rose e a Tessa, e expressões incrédulas e confusão, como o Joseph e o William.

- Anda, Daiana - ela já parecia mais tranquila mas a respiração ainda estava acelarada e os olhos estavam a fixar um ponto distante. - Já passou. Não tiveste culpa. A culpa não foi tua.

- Ninguém vai acreditar nisso, Lyra - soluçou ela. - Vão todos pensar que... Sei lá, eu a matei INTENCIONALMENTE ou assim, com uma espingarda de verdade!! Mas eu juro que não sabia...!

- Óbvio que não sabias, Daiana!! - O Kay já estava a ficar impaciente. - Dou-te a minha palavra que ninguém vai pensar isso. É impossível que tivesses tido alguma coisa a ver com a arma ser de balas e não de lasers. O Marcus é que nos distribuiu as armas.

- Agora... - Disse ao Kay, quando a Daiana se afastou - falta saber COMO é que uma troca destas aconteceu.

- De onde veio uma espingarda de verdade?! Quer dizer... Não é que haja assim muitas por aqui espalhadas e misturadas com as de laser tag.

- Tu... - Não sabia bem como dizer isto. - Achas que foi... De propósito?

- Que o Marcus deu uma espingarda de verdade à Daiana de propósito? - O Kay olhou para mim com os olhos arregalados. - Isso não é dramatizar um pouco? Isto é um campo de Férias, Lyra, não é uma guerra. Que motivos teria o Marcus para dar uma espingarda à Daiana e arriscar que alguém morresse, como efetivamente aconteceu?

Calei-me. De facto, a minha teoria não fazia sentido.

Estava toda a gente a cochichar e a olhar para trás na direção do bosque. Ainda era uma pequena caminhada por isso decidi que era melhor pô-los a falar, para não haver o risco de alguém entrar em choque.

- Muito bem! Não parem de andar e oiçam! - Gritei. - Alguém mais aqui não disparou uma única vez durante o jogo?

- Para que queres saber isso? - Perguntou a Rose.

Bufei, impaciente. Como é possível ser-se tão burro.

- Para ver se mais alguém tem uma arma verdadeira e não de laser - expliquei devagarinho.

- Ah - disse a Rose. - Não, eu disparei. E saíram lasers, não balas.

Toda a gente acenou.

Então, a pessoa que tivera o enorme azar de calhar com a única espingarda letal fora a Daiana.

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