Capítulo XXVII

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- O Alex sabe? - Perguntou-me por fim o Michael, após um longo silêncio, quando finalmente consegui parar de chorar. Provavelmente porque estava demasiado cansada. Ou então, as lágrimas tinham acabado.

- N-não - murmurei. - Ninguém sabe. Foste a primeira pessoa a quem contei.

O Michael não respondeu. Não o conseguia olhar nos olhos. Aposto que ele estava chocado. Provavelmente ia zangar-se comigo por eu nunca ter contado a ninguém. E talvez tivesse razão.

- Lyra, lamento muito - disse ele por fim. - Nenhuma rapariga devia passar por aquilo que passaste. Se só tivesse estado lá...

Sorri tristemente.

- Como querias estar lá? Foi há meses. Nem nos conhecíamos.

- Mas tu e esse Dean namoravam?

- Sim - respondi amargamente. Fora provavelmente o maior erro da minha vida. - Nem sei como pude gostar dele. Nem o conseguia olhar na cara, depois do que ele me fez. Graças a Deus, no fim do ano escolar, a empresa do pai mudou de estado e nunca mais o voltei a ver.

- Sorte a dele que foi viver para longe daqui.

- Sorte? Porquê?

- Porque se eu alguma vez na vida me encontrar com esse Dean, vou dar-lhe um murro sete vezes pior do que aquele que dei ao Tom.

- Pessoalmente espero mesmo nunca mais o voltar a ver - murmurei.

- Mas, Lyra, porque é que nunca contaste a ninguém?! Aos teus pais, ao Alex, ao Alfie? - Perguntou o Michael, de sobrolho franzido de preocupação.

Não respondi. Eu própria não sabia.

O Michael ficou em silêncio, e abraçou-me uma última vez.

- Acho que pelo menos ao teu irmão devias dizer.

- Mas para quê?! Já passaram meses, o Dean não vive mais aqui.

- Então porque é que me contaste a mim?

- Porque perguntaste, e não te queria mentir de novo.

- Muito nobre da tua parte - sorriu o Michael.

Revirei os olhos. Levantámo-nos e saímos do dormitório, atravessando o prado.

Apesar de tudo, agora que pensava nisso, fora bom contar o meu segredo a alguém. Sentia-me mais leve. Apesar de o problema não ter desaparecido (nem de longe!), agora que alguém além de mim o sabia, eu estava um pouco mais aliviada.

- Michael - disse eu.

- Sim.

- Tens de me prometer uma coisa. Promete que não vais contar isto a ninguém.

O Michael olhou para mim, e suspirou.

- Apesar de achar que isto é demasiado grave para ser mantido em segredo, a escolha é tua. Não conto a ninguém.

- Prometes?

- Prometo. Pinky promise - disse ele, estendendo o mindinho.

- Meu Deus, eu fazia isso quando tinha seis anos - ri-me, abanando a cabeça, mas mesmo assim entrelacei o meu mindinho no dele.

A Maya já estava no dormitório, a arrumar as suas coisas na cama que originalmente pertencera à Gabby.

- Precisas de ajuda? - Perguntei-lhe.

Ela abanou a cabeça. Parece que a sua timidez habitual voltara. Agora, era preciso ficar de olho dela e mantê-la afastada do Tom, nos próximo dias.

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