Capítulo XXXIV

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Era a Christina.

Ali, parada, na ombreira da porta, com uma expressão de gozo estampada na cara, a Christina fitava-me.

Apesar de ter o mesmo cancro que a Daiana, o facto de ter tomado o medicamento certo era evidente. Tinha ar de adolescente, mas ao contrário da Daiana, tinha um ar saudável, cabelo sedoso e pele relativamente bem cuidada, apesar de, à luz da lua, se notarem algumas veias salientes. Os seus olhos castanhos estavam a brilhar.

- Olá, Lyra - repetiu ela, ao ver que eu nada dizia. - Não estás espantada por me ver?

Espantada?

Não era espanto. Era algo que não tinha nome.

- Tu. - Murmurei, de olhos arregalados.

- Que é? Aposto que nunca te passou pela cabeça. E no entanto, quase íamos sendo apanhadas. - A Christina fitou a Miley. - Devido a um estúpido erro teu.

- Que é. Correu tudo bem, no final, não foi? Não correu? - Respondeu a Miley. A Christina aproximou-se lentamente da minha cama. Tudo parecia uma espécie de nuvem escura, e eu queria acordar. Queria acordar daquele pesadelo. Fechei os olhos com força e abri-os, mas elas continuavam lá, as caras delas a flutuarem sob mim.

Por mais que abrisse e fechasse os olhos, nada me ia tirar dali.

- Como é que eu não percebi antes? - Gaguejei, atordoada. Uma espécie de onda de enjoo varreu-me a cabeça. - A tinta. Era sangue falso. Vinha da espingarda.

- Elementar, caro Watson - troçou a Christina. Algo nela lançava-me arrepios pelas costas, mas arrepios de verdade. - Desde o início que eu e a Miley estabelecemos que uma de nós teria de morrer logo. Eu fui a escolhida. Quando os monitores escreveram os nossos nomes nos papéis para nos dividir em grupos, logo no primeiro dia, o Marcus, disfarçadamente, pôs-me a mim e à Christina no mesmo monte de papéis, de modo a ficarmos juntas, e posteriormente na mesma equipa de laser tag.

< A coisa engraçada, no meio disto, é que nunca houve uma espingarda de verdade. A espingarda que o Marcus "acidentalmente" deu à Miley era tão falsa como qualquer outra. A única diferença é que era exatamente igual a uma verdadeira, e em vez de lasers disparava pequenos cartuchos iguaizinhos a balas, mas que ao rebentar explodiam em tinta vermelha.

< A Miley escondeu-se naquele buraco e esperou um pouco enquanto o jogo se desenrolava, e quando viu a altura certa, disparou sobre mim. A "bala" acertou-me no peito e só tive de me fingir morta, enquanto ficava coberta de "sangue".

< A Miley fez uma ótima representação de histeria. Vocês todos caíram. O Marcus mandou-vos para longe, dizendo que me iam levar para uma cova na floresta, e assim que vocês desapareceram de vista levantei-me, limpei a tinta e fugi para os canos.

- E-engenhoso - gaguejei, após um silêncio inquietador.

- Muito. Fui eu que o planeei - gabou-se a Christina. - Claro que nada teria sido possível sem o dinheiro da Miley, mas os canos, a espingarda, saiu tudo da minha cabeça. Bem, depois disso, era suposto a Miley ir buscar a espingarda quando ninguém estivesse a ver, e levar-ma aos canos. Mas... - A Christina fuzilou a companheira. - Ela esqueceu-se.

- Desculpa - disse a Miley, com os olhos estreitos. - Com a canoagem e toda a coisa de o Marcus, o Tyler, a Sasha e a Lisa desaparecerem, o Marcus levou a espingarda para o barracão juntamente com o equipamento de laser tag e acabei por me esquecer. Mas como é que podia saber que eles se iam lembrar de a ir procurar?!

- Bem, mas lembraram - disse a Christina. - Já não sei quem deu a ideia de irem buscar a "espingarda verdadeira" à arrecadação para se defenderem.

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