Capítulo XXX

25.8K 2.2K 2.6K
                                    


Sabem quando estão num dormitório, com mais cinco amigos vossos, e uma rapariga morta no chão a sangrar, e vocês estão todos encurralados contra a parede sem saber o que fazer enquanto um psicopata armado com um facalhão avança para vocês com a intenção de vos espetar o mesmo facalhão na barriga?

Pois, era isso que me estava a acontecer.

Vi o Alex pegar em qualquer coisa, que mais tarde percebi ser a sua mala, e atirá-la para cima do Josh. Este esquivou-se, mas deu-nos uma abertura para fugirmos pela porta.

- CORRAM! - Gritou o Alex.

Saltei pelo beliche e corri para a porta como se a vida dependesse disso. Bem, por acaso dependia. O Tom estava ali, com o canivete na mão. Tentou agarrar-me, mas eu empurrei-o e disparei para fora da porta.

Comecei a correr. Sentia pessoas atrás de mim a correr também e ocasionais gritos, mas não conseguia entender quem eram. Estava a dar o meu maior sprint pelo prado fora, em direção ao bosque, e apesar de já estar cansada não parei. Já não ouvia pessoas a correr atrás de mim, apenas os meus próprios passos na relva e a minha respiração.

Quando finalmente atingi as árvores, atirei-me para trás de um dos pinheiros e fiquei ali, a recuperar o fôlego. Sentia como se uma mão me tivesse arrancado os pulmões. Tentei não respirar muito alto para não desvendar a minha localização, mas era impossível.

Quando finalmente o meu peito parou de arder e consegui respirar normalmente, o meu cérebro também começou a processar.

O que é que eu fizera? Deixara o Alex, o Alfie, todos para trás! À medida que o pânico ia dando lugar à lógica, fui percebendo que fora uma cobarde. Fugira pelo prado fora, mesmo após ouvir os gritos, sem sequer olhar para trás. Eles podiam estar todos mortos agora mesmo, e eu não fizera absolutamente nada para os ajudar a não ser fugir como uma parva.

Engoli as lágrimas e espreitei pelo tronco. No fim do prado, lá ao fundo, viam-se os dormitórios, mas não se via nem ouvia ninguém. O silêncio que me circundava era tão irreal que até doía. Onde estavam todos?

E de repente vi.

O Tom. Estava a vir da esquerda, com o canivete na mão, a olhar para os lados como a procurar alguém. Mas o pior foi ver que o seu canivete estava manchado de vermelho.

Sentei-me atrás do tronco, com o coração descoordenado em relação ao corpo. Agora as lágrimas estavam a cair, mas não era eu que as controlava.

"Se o Tom não me vir, vai passar direto. Depois, vou a correr procurar os outros."

Deixei-me ficar, no silêncio do bosque, a suster a respiração. Ouvia os passos dele a cerca de vinte metros da minha árvore. Fechei os olhos com força e esperei que os seus passos fossem casa vez mais longe... cada vez mais longe...

Mas tal não aconteceu.

De repente senti uma dor lancinante na coxa.

Não tive tempo para raciocinar o que ia fazer. A minha boca abriu sozinha e arquejei de dor. Um dos espinhos da silveira no chão espetara-se na minha perna.

Por um breve segundo, perguntei-me se a minha exclamação fora suficientemente alta para o Tom ouvir.

No segundo a seguir, tive a resposta.

O Tom atirou-se para cima de mim e o meu corpo bateu na terra. A minha cabeça bateu com força numa das pedras, fazendo-me ver estrelas, e senti o Tom prender-me as mãos contra o chão. Gritei e comecei a pontapear ao calhas, tentando atirá-lo para o lado, mas o Tom manteve-me firmemente presa contra o chão, com o canivete encostado ao meu pescoço.

Campo de FériasOnde histórias criam vida. Descubra agora