Epílogo

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Nunca mais nada foi o mesmo depois daquelas duas semanas. E duvido que alguma vez o volte a ser.

Eu era a única que sabia o que acontecera. Sabia exatamente o que acontecera. E quando os pais chegaram, o portão se abriu e eu, o Alex, a Summer, o Michael e o Kay saímos, a pergunta foi: "O que se passou?"

Pouco antes do Michael acordar, arrastei o corpo da Miley e da Christina para uma vala no bosque, e deixei-os lá, cobertos pela folhagem, pela terra e pela densidade dos pinheiros. E, no momento em que toda a gente se virou para nós, em que o Alex e o Michael me perguntaram se eu vira alguém, no momento em que ia abrir a boca para contar tudo...

Não o fiz.

- Não sei. Acordei mais cedo que vocês. Acho que não se passou nada.

O assunto foi discutido. Foi debatido. A polícia pediu-nos os detalhes de tudo o que tínhamos presenciado e para lhes dizermos tudo o que sabíamos, mas a investigação não levou a lado nenhum e acabou por ser fechada dois meses depois. Nunca ninguém soube quem nos fechara e matara naquele campo de férias.

Os meus pais não nos perguntaram nada. Limitaram-se a abraçar-nos. Ainda não consegui olhar a mãe do Alfie na cara, mas sei que o vou ter de fazer. E vou reconfortá-la como puder, porque sei a dor que ela está a sentir. Oh, se sei.

Já passou um ano. Bem, onze meses, para ser precisa. E, ainda hoje, dou por mim à noite a olhar para o tecto do meu quarto e pensar: "Porque é que não contei nada?"

Acho que sei a resposta.

Um, não há nada que se possa fazer para as castigar que eu já não tenha feito. E a pobre da Summer não merece saber que toda esta gente morreu por culpa dela.

E dois. Imaginei a Christina e a Miley com dez anos, deitadas nos lençóis brancos do hospital a morrer, e percebi que lá no fundo, uma parte minúscula e extremamente primitiva, tinha pena delas.

Uma pena tão inexplicável.

Prometi a mim mesma, quando crescer, seguir medicina e descobrir a cura para o cancro. E impedir que mais pessoas sofressem como nós tínhamos sofrido. E como elas tinham.

Eu e o Alex continuamos em contacto com a Summer, o Michael e o Kay. Não vivemos perto, mas vamos falando. No entanto, sempre que olho para a cara deles, relembro aqueles quinze dias trancados na vedação do campo de férias. Não é culpa deles, mas a cada dia que passa sinto-me pior só com a ideia de os ver.

Não sei o que se passa entre mim e o Michael. Talvez continuemos amigos, ou talvez nos casemos um dia. Não faço ideia, e neste momento não me consigo concentrar nisso. Não é justo para ele, mas não há nada que eu possa fazer.

A verdade é que mudámos.

Não podíamos não mudar.

No fundo, acho que os vencedores disto tudo não fomos nós. Nem a Miley, ou a Christina.

Saímos todos destruídos por dentro, uns mais, outros menos.

E isso não mudará nunca.

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