- FOGO. Está a arder TUDO!
Era o Michael, a correr desenfreadamente na nossa direção. Todos nos levantámos da relva, de repente em pânico. Já nem era medo. Era terror.
- Aonde é que está a arder? - Perguntou a Maya.
- O edifício TODO. Temos de arranjar água!! Vocês não têm noção, o incêndio é enorm...
De repente ouvimos um craque e algo a cair.
A única coisa que percebi foi o Alex atirar-se para cima de mim e empurrar-me para o lado, no momento que uma árvore incendiada caiu no lugar onde eu estava antes.
Bati com a cabeça no chão. As pessoas começaram a gritar e a fugir. O Alex agarrou a minha mão.
- Lyra, CORRE. - Berrou o meu irmão.
Levantei-me e olhei por fim à minha volta.
Fogo. Foi a única palavra que me veio à cabeça. O edifício, a alguns metros de nós, era uma grande bola de labaredas laranja. O prado e o pátio também estavam a ser devorados pelas chamas, e a árvore caída trouxera o fogo para a relva onde estávamos a comer.
Não foi preciso o Alex puxar-me. Eu própria desatei a correr como se não houvesse amanhã.
Ninguém decidira uma direção. Apenas que tínhamos de ir o mais longe possível do fogo, ou seja, o bosque.
Enquanto corria e ultrapassava os mais lentos, o incêndio começou a circundar-me. O estalar da madeira a arder rebentava-me nos ouvidos, e o
calor estava a queimar-me a pele, enquanto corria pelo prado.
Mas rapidamente parámos.
- O bosque! - Uma miúda gritou. - Também está a arder!!
Era verdade. Viam-se dois rolos de fumo sair dos pinheiros.
Parámos, 25 pessoas no meio do prado, com fogo atrás e à frente e sem saber para onde fugir.
- Oh meu Deus. Vamos morrer queimados!! - Começou a gritar a Rose.
- Não vamos nada! - Gritou o Julian, com os olhos arregalados, mas não parecia muito seguro.
- Temos de sair daqui!!
Algumas pessoas correram para o arame e começaram a abanar e a tentar cortá-lo. Isto eram claros sinais de pânico, e se toda a gente se passasse a coisa não ia correr bem.
- Não precisamos de fugir - gritou então a Maisie. - Temos é de apagar o fogo.
- Quê?! Estás a ver a dimensão daquilo?!
- Se o fogo atingir a nossa comida e os dormitórios, estamos perdidos. Vá, usem a água da piscina, baldes, não sei!!
- A Maisie tem razão - apoiei, grata por alguém conseguir manter a cabeça fria - Dividam-se em dois grupos, para apagarmos o fogo do bosque e do edifício. Depressa, vá!
Tínhamos de apanhar o fogo antes que ele nos apanhasse a nós. Já devorara parte do edifício e do bosque. Se não fosse controlado e atingisse também o prado onde estávamos, não tínhamos para onde fugir.
- O que podemos usar como balde para levar a água? - Gritou o John.
- Os copos de plástico do almoço - lembrei-me. - E as gavetas da cozinha. Retirem-nas e encham-nas de água.
- Nos dormitórios há arcas. Também as podemos usar - acrescentou o Alfie.
Cada um foi para seu lado. Os dormitórios ainda estavam a salvo do fogo, e toda a gente se dirigiu para lá à procura de containers para a água.
- Gabby, Alfie, John - gritei-lhes. - Vamos às cozinhas buscar as gavetas. RÁPIDO antes que ardam todas.
- Lyra, estás doida? - Gritou-me o John. - Para irmos às cozinhas temos de entrar no edifício, e está fogo por todo o lado.
Olhei para a porta da entrada.
- O incêndio é principalmente nas traseiras. Se nos despacharmos ainda conseguimos - disse, apesar de não estar muito confiante.
Que alternativas tínhamos?
O John, a Gabby e o Alfie olharam uns para os outros. A hesitação era óbvia. Mas por fim o Alfie disse:
- Vamos.•
No momento que entrámos no edifício pareceu que entrávamos num forno.
O calor parecia querer-nos esmagar. De repente o fumo entrou-me pelas narinas e tudo à minha volta pareceu dançar.
- Não respirem!! - Avisou o John, tapando o nariz com a manga da camisa.
O caminho até as cozinhas nem era demasiado comprido, mas pareceram horas. O calor aumentava a cada passo que dávamos. Apesar de não se ver o fogo que ainda ali não chegara, o fumo era bem evidente e a minha pele parecia estar a rebentar.
Finalmente chegámos às cozinhas. O fogo ainda não lá chegara e pudemos finalmente respirar.
- Depressa. Agarrem todas as gavetas que puderem e saímos por ali - apontei para a porta das traseiras.
Começámos a tirar gavetas e pô-las debaixo dos braços.
Sabem quando estão num Campo de Férias presos com 24 outras pessoas e alguém vos está a tentar matar e não sabem porquê e está tudo a arder à sua volta e sentem a cabeça à roda devido ao fumo e estão a tentar agarrar em todas as gavetas que conseguem antes que o incêndio vos queime vivos?
Era isso que me estava a acontecer. De repente senti como se estivesse literalmente a arder e percebi que se não saíssemos dali agora não íamos conseguir.
- Vamos! AGORA.
Cada um de nós tinha três os quatro gavetas. Em grupo, corremos até à porta das traseiras.
E então explodiu.
Não há outra maneira de dizer. O fogo rebentou pelas brechas da madeira e a porta irrompeu em labaredas.
Parámos de correr.
Nesse momento, percebi duas coisas.
Uma, o meu plano afinal não era tão fantástico assim.
Duas, estávamos ali presos e cercados pelo fogo. E a culpa era minha.
- O que é que fazemos?!! - Gritou o John.
Não sabia.
- Tem de haver uma porta!! - Gritou o Alfie. Estava a suar em bica, com a t-shirt colada ao corpo.
Mas não havia. As duas estavam a arder como se não houvesse amanhã, e alguns armários também pegaram fogo.
Demos por nós num pequeno círculo, no meio da cozinha, ainda a segurar as gavetas. Sentia-me dentro uma enorme fornalha, e alguém do lado de fora aumentava a temperatura de um grau a cada segundo. Percebi que estava basicamente a hiperventilar de medo.
- Lyra - disse de repente a Gabby - acabou, não é?
Olhei para ela. O fumo estava-me a asfixiar lentamente e a mistura de calor e terror que me estavam a sufocar não estavam a ajudar.
- Acabou...? Gabby, o que...
- Vamos morrer, não é? Sabia que ia acontecer, mais cedo ou mais tarde. Já foram a Christina, o Oliver, a Pilar, a Olivia, a Eleanor... era questão de tempo até sermos nós.
Não podia acreditar no que estava a ouvir.
- Gabby...! Tu... não podes perder assim a esperança!! Vamos sair daqu... - Um enorme ataque de tosse interrompeu-me. O fumo tóxico do incêndio queimou-me os pulmões e comecei a tossir sem parar.
A Gabby estava impassível. Não parecia assustada. Apenas resignada. As olheiras fundas de quem não andava a dormir bem estavam mais fundas que nunca. Lembrei-me do seu ar abatido dos últimos dias, os sintomas de esgotamento nervoso, a expressão de desespero que nunca antes lhe vira, a nossa conversa ainda há pouco.
E percebi o que ela ia fazer mesmo antes de efectivamente acontecer.
- GABB... - A tosse fez-me curvar sobre mim mesma. Dei por mim de joelhos. Tinha os olhos a lacrimejar devido ao fumo e não conseguia respirar sem tossir.
- Já não aguento mais, Lyra. Isto é demais para mim. Estive a tentar, aguentei-me estes dias, mas estou tão aterrorizada, Lyra, TANTO. Nunca fui corajosa como tu, ou o Alex, ou o Michael, ou a Maisie. Tu tinhas razão. Nunca devíamos ter vindo para aqui. Mas... as pessoas erram. - A Gabby fez uma pausa e depois acrescentou: - Adorei conhecer-te, Lyra. Foste a melhor amiga que alguma vez poderia ter desejado. Mas já não aguento mais, e se vou morrer, prefiro ser eu a fazê-lo, e não este psicopata que anda a fazer isto.
E dito isto a Gabby correu.
Não pude fazer nada, absolutamente NADA, no momento que a vi atirar-se para as chamas.
O grito que eu dei sobrepôs-se ao dela.
- GABBY!!!
Comecei a soluçar e a tremer. Qualquer tosse, qualquer fraqueza, que pudesse ter, passaram. Levantei-me, lágrimas a correrem-me pela cara, direta às labaredas.
Eu tinha de a salvar. Ainda ia a tempo de a salvar, não ia?
Não.
Não ia.
- Lyra!! - Gritou o Alfie. - Para!! Não podes f-fazer nada por ela...!
Senti dois braços agarrarem-me pela cintura e puxarem-me para trás. Mas o meu cérebro não queria saber.
A única coisa que me importava naquele instante era a minha melhor amiga que se acabara de suicidar.
De repente perdi as forças e deixei-me ficar ali, nos braços do Alfie. As lágrimas eram tantas que perdera qualquer visibilidade. O soluço que dei fez-me tremer da cabeça aos pés.
- Gabby. Porquê, Gabby...?
Agarrei-me ao Alfie e chorei.
De repente não quis mais saber do incêndio.
Só queria saber quem era este assassino. Quem era este monstro.
E dar-lhe o mesmo fim que a Gabby tivera.
O fogo estava cada vez mais perto. O John nem parecia ter reparado na falta da Gabby e estava a tentar domar o fogo, mas tudo o que conseguira fora incendiar as suas calças, que estava a tentar apagar.
Mais fumo. A tosse sobrepôs-se ao choro, e dei por mim a cair de joelhos, se não fosse o Alfie a agarrar-me.
Talvez me conseguisse manter de pé sozinha, se quisesse.
Mas não queria.
Perdera a energia, a força de lutar. A Gabby morrera. A Gabby, a minha melhor amiga, matara-se, e eu não fizera nada. Ela tinha razão. Íamos acabar por morrer. De que adiantava?
O fogo e o calor foram demasiados e tudo desfocou. Via a boca do Alfie abrir e fechar, mas o estranho é que não saíam sons.
Também, que importava...? Deixei-me ficar ali, parada...
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Campo de Férias
Mystery / ThrillerEra para ser um campo de férias normal, não era? Era para nos divertirmos e passarmos duas semanas inesquecíveis, não era? Era para conhecermos gente nova e aproveitarmos o Verao, não era? Mas então, porque é que morreram todos? *Esta história foi e...