Capítulo IX

37.4K 2.3K 1.8K
                                    

Aquele método era provavelmente a coisa mais estúpida jamais inventada, mas conseguimos surpreendentemente apanhar mais três esquilos incautos. Mesmo assim, esta brincadeirinha levou-nos quase três horas. Tinha as pernas arranhadas e doía-me o rabo de ter estado tanto tempo imóvel e agachada.

Fomos à cozinha, mas como era de esperar, o gás do fogão não funcionava.

- Vamos ter de acender uma fogueira.

- Alguém sabe como se faz? - Perguntou alguém.

- Eu - disse a Berenice, para surpresa de todos. - Andei nos escuteiros. Preciso de ramos secos e duas pedras.

A Eleanor e mais alguns foram buscar uns ramos caídos no chão, e usámos as duas pedras de antes que tínhamos usado para tentar cortar o arame.

Fomos lá para fora e, durante cinco minutos, a Berenice ficou ali a esfregar as pedras uma na outra, até que de repente uma faísca soltou e os ramos incendiaram-se.

- OK, agora vou cortar os esquilos com o meu canivete e cozinhá-los em fatias de carne. A mim não me faz diferença, mas se alguém aqui ficar incomodado com intestinos e cenas abertas e assim, é melhor irem embora e eu chamo-vos quando acabar - disse o William. Parecia um pouco nervoso por ter de, de repente, cozinhar quatro esquilos, coisa que obviamente nunca antes fizera.

Pessoas como o Alex, a Gabby, o Michael e o Josh ficaram. Outras, como eu (que não lido nada bem com coisas destas), a Daiana e o Kay demos rapidamente meia volta.

- Queres ir para o dormitório conversar ou assim enquanto eles cozinham por aqui? - Sugeriu ele.

- OK - encolhi os ombros. Qualquer lugar menos ali, com esquilos abertos.

O dormitório dos rapazes eram igualzinha ao nosso mas do outro lado da colina, e era o número quatro da fila. O Kay ficara na cama de baixo e sentámo-nos em silêncio.

Com esta agitação toda já era hora do almoço e eu estava a ficar com fome. Demorei por isso um pouco de tempo a perceber que o Kay estava a falar comigo.

- ... achas?

- Hum? - Respondi, desatenta.

O Kay riu-se debilmente.

- Ouviste uma única palavra que eu disse?

- Não, desculpa - admiti, embaraçada. - Podes repetir?

- Estava a perguntar-te o que achas disto tudo.

- Hum... Como assim? Do facto de os monitores nos terem deixado aqui trancados? Ou de nos estarmos a alimentar de esquilos?

- De tudo.

Fiquei a ponderar no que responder.

- Sei lá. Um pouco estranho.

- Só um pouco?

- Ok, MUITO.

- Podes crer. Que raio de ideia... Isto foi para quê, no fundo? Deixar-nos aqui fechados?

Não havia resposta para isso.

- Hey, podia ser pior. Hoje é Terça... Só temos de aguentar até ao próximo domingo, ou seja, treze dias. Temos água, ao que parece comida, e lugar para dormir.

- Como é que podes estar tão relaxada? - Inquiriu o Kay, soando admirado.

- Não adianta stressar, pois não? Só podemos esperar pelos nossos pais.

No fundo eu não estava tão descansada como dava a mostrar. Pessoas como o Michael e o Alex nunca se deixariam levar por este teatrinho, mas o Kay deixou-se enganar pela aparência.

Campo de FériasOnde histórias criam vida. Descubra agora