Capítulo XXIX

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- ... estava com soluços.

Durante o que pareceram vinte minutos, ninguém disse nada.

Depois, as reações foram variadas.

Senti alguém abraçar-me. A Mel começou a chorar. O Julian estava com uma expressão partida. Literalmente partida. Suponho que também teria essa cara, se soubesse que ia morrer.

O Josh pegou no meu peão verde e, com uma expressão sombria, pô-lo no 100.

Devia estar feliz. Eu ganhara. Ia sobreviver. E isso era bom.

Mas eu não conseguia estar feliz. Não, sabendo que três pessoas iam ser assassinadas por eu ter acertado uma adivinha.

Pela primeira vez na vida, ganhar o troféu não era uma boa sensação.

Não vou dar muitos pormenores do que aconteceu depois, simplesmente porque aconteceu demasiado depressa. Nessa noite, apesar das nossas vigias, apesar de termos tentado ficar acordados, apesar de termos trancado tudo e selado as janelas, a Mel, a Maya e o Julian foram mortos esfaqueados. O resto também aconteceu depressa. Os seus corpos foram levados para a vala no bosque, onde se encontravam todos os outros, e todos voltamos para a cama, apesar de ninguém ter pregado olho até a manhã seguinte.

SEXTA

Sabem quando vocês acordam e sentem-se tão estranhos que é como se nada importasse e só querem deitar-se da cama a olhar para o tecto e não conseguem parar de pensar nas três pessoas que foram mortas e não entendem como é que o assassino conseguiu entrar mas já não conseguem mais pensar nisso porque sentem que vão explodir e por isso ficam simplesmente ali parados a sentir um medo irracional?

Era assim que eu me sentia.

Acordei na sexta absolutamente a zero. As cores pareciam ter perdido o brilho. Sons, cheiros, tudo desaparecera. Era como se o meu cérebro estivesse a bloquear a informação, e pessoalmente não me importava que ele o fizesse.

9.

Sobrávamos 9.

Ninguém fizera muito espalhafato à volta da morte da Maya, do Julian e da Mel. Tínhamos-lhes dito que os íamos proteger, que não íamos deixar o assassino matá-los, que íamos redobrar as vigias, bla-bla-bla. Mas todos, sem excepção, eles os três incluídos, sabíamos que nada ia parar o inevitável. Por isso, ao vê-los a sangrar, deitados na cama, foi nada mais nada menos que uma previsão correta. Como quando o meteorologista diz que vai chover, olhas pela janela, vês um temporal e vês isso confirmado. E não sentes nada.

Soluços. Soluços. Repeti a palavra na minha cabeça, tantas vezes que deixou de fazer sentido. Uma palavra tão inofensiva, engraçada, até, que porém determinara a morte de três pessoas. E fora dita por mim.

Será que a Maya teria chegado lá, mais cedo ou mais tarde? Será que o Julian teria tido um golpe de génio? Será que, se eu tivesse mantido a boca fechada, neste momento estaria um deles vivo e não eu?

E, quem sabe, talvez eles merecessem mais viver do que eu mereço?

Os outros não me pareciam culpar. O Michael abraçara-me e não dissera mais nada, mas aquele gesto dissera tudo. O Kay, a Summer e o Alfie continuavam a tratar-me como sempre. E o Alex...

E se ele me culpasse pela morte da namorada?

Pela primeira vez na vida, senti dúvidas em relação ao meu irmão gémeo.

Levantei-me e fui procurá-lo.

***

- Alex? - Bati à porta do dormitório. Como ninguém me respondeu, entrei devagarinho.

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