Capítulo 7

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Thay narrando:

Os bailes rolavam numa quadra perto daqui. Dava pra ir até andando, mas Juninho e Kauê fizeram questão de ir de moto. Certeza que era para se aparecer, porque né.

Subi na garupa do Kauê, e ele já foi dando partida. Foi passando a mil pelas ruas e becos dali, chegamos em 5 minutos. O baile já estava lotado, várias meninas com o short enfiado no útero baforando lança, caras fumando maconha ali mesmo, enfim.. Não conseguia me sentir confortável naquele lugar. Olhei para Mirella que estava com um sorriso de orelha a orelha, parecia super empolgada. Não queria estragar a noite dela, então fingi que estava animada também.

Fomos entrando e passando pelas pessoas, chegamos em um bar que tinha ali e pedimos algumas bebidas. Kauê e Juninho saíram dizendo que iam cumprimentar alguns aliados, e que logo voltava.

Fiquei observando eles enquanto tomava minha catuaba de açaí com energético. Eles subiram em um camarote na parte esquerda da quadra, lá tinha alguns homens com fuzis, várias mulheres dançando, e alguns caras sentados. Deduzi que ali ficava os traficantes. Observei Kauê e Juninho fazendo toque com o LC.

Só te olhar para aquele homem me dava arrepios, não de desejo. Mas sim, de medo. Diferente do antigo dono da Rocinha, que pregava a paz no Morro,  morte para ele então, era a última coisa. Mas depois que ele morreu, LC assumiu o comando, e ai as coisas mudaram um pouco. Ele continua fazendo algumas coisas que seu pai fazia, como fortalecer a comunidade, dá ajuda a quem chega agora e tal. Mas mata qualquer um, seja qual for o motivo. Até a namorada não escapou, muitos dizem que ele à matou com 10 tiros na cabeça, e ainda arrancou seus braços e pernas, depois de descobrir que ela traia ele.

Nunca tinha olhado diretamente para aquele homem, mas aquela noite senti uma curiosidade. Pela crueldade que ele prática, até que não e feio como pensei, ao contrário, era muito bonito. Tinha olhos esverdeados, pele morena, cabelos escuros. Ele estava sentando em uma cadeira, não havia nenhuma mulher em sua volta, como os outros caras no camarote. Ele estava apenas fumando, bebendo, e observando o baile rolar.

— O que tu tanto olha para aquele camarote? – falou me encarando curiosa.

— Essas mulher que ficam ali, ganham alguma coisa ou só ta lá por status mesmo? – falei enquanto dava um gole na minha bebida.

— Algumas são amantes de traficantes. – falou colocando seu braço em meu pescoço.

— E o LC, tem amante? – falei observado ele de longe.

— Tempos atrás até que ele tinha uma doida ai, mas ela não aguentou. Agora não sei se ele matou, ou cortou ela. – riu debochando.

— Uma carinha de anjo assim nem parece que é um demônio. – falei ainda observando LC, e bebendo.

— Orra. – riu. — Chega de falar, e vamo sambar na cara das inimigas, porque eu não sou obrigada a nada, querida. – falou me puxando para o meio do povo.

Tava tocando Mc Delano Na ponta ela fica. Cara, eu adorava aquela música, então comecei a dançar loucamente junto com Mirella. E detalhe, sem largar o copo.

Se acabamos de dançar, alguns caras passavam nos secando com os olhos, jogando cantada, e até perguntando se tínhamos tomado doce, pois estamos praticamente alteradas. Já tinha bebido não sei quantos copos de catuaba, energético e vodka. Misturei tudo, tava um pouco bêbada. Mas nem liguei continuei dançando com Mirella, que estava mais chapada que eu.

— Mi? – falei sussurrando em seu ouvido enquanto dançava.

— Solta a voz, mona. – falou ainda dançando.

— Como faço pra virar amante do LC? – falei virando mais um copo vodka.

— Tu tá doida é? – arregalou os olhos. – Ah é, tu ta bêbada, susto. – riu.

— Posso estar bêbada, mais to consciente sim. – ri.

— Miga cê tá doidona? Tanto traficante maneiro, tu vai querer logo o que não bate bem das idéia. – falou me encarando.

— Não vem que não tem, eu não vou ficar com teu irmão por dinheiro. Antes outro, do que ele. – falei encarando, e cruzando os braços.

Kauê e Juninho foram se aproximando da gente. Como eu sabia que Juninho era braço direito de LC, ele iria conseguir o que eu desejava. Então, chamei ele de canto.

— Júnior quero sua ajuda. – falei um pouco apreensiva.

— Qual foi? Só fala. – falou me olhando sem entender nada.

— Quero ser amante do LC, e tu vai me ajudar. – falei confiante, enquanto Juninho ainda tentava entender o que eu tinha falado.

— Mano, o cara é firmeza comigo, mas tu sabe o que ele faz com as mina dele? – falou me encarando.

— Eu to precisando de dinheiro, não arrumei emprego, aqui da mesma forma, também não vou achar. Ou e isso, ou é o tráfico. – falei nervosa, enquanto Juninho olhava para os lados, como se estivesse procurando alguma coisa para dizer.

— O que a Mirella achou disso? – me encarou novamente.

— Deu super apoio. – falei cruzando os braços.

— Mano, vocês estão bêbadas. Amanhã nois vê isso. – falou dando as costas.

— Júnior, por favor me ajuda nisso. Eu sei o que eu to fazendo, por favor. – falei segurando em seu braço, impedindo que ele saía.

— Ta bom. – falou soltando o ar, e eu soltando seu braço. — Cê sabe o que tu tá fazendo, né? – falou me olhando, e eu balancei a cabeça positivamente.

— Firmeza, vou ver o que posso fazer. Porque ele tá meio pá com esse negócio de amante, tendeu? Mas vou trocar umas idéias com ele agora, fechou?

— Fechou. – dei um sorriso de lado, e Juninho logo sumiu do meu campo de visão.

Já era, agora é sem volta.

Sonhos PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora