Kauê me acompanhou até sua casa e durante todo o trajeto ia tentando me tranquilizar, mas não importava o que ele dissesse, o sentimento de culpa e raiva permaneciam.
Fomos se aproximando de sua casa, quando me deparei com Mirella sentada na calçada em frente ao seu portão, observando atentamente Enzo, que brincava na rua com outras crianças.
Ela percebeu minha presença e rapidamente se levantou vindo em minha direção, dando passos calculados.
— E minha mãe? – digo abraçando meus braços, e fungando.
Ela me fita dos pés a cabeça, e vejo seus olhos lacrimejar.
— Olha pra você Thay, o que ele fez contigo? Meu Deus. – falou enquanto me envolvia em um abraço apertado, passando levemente suas mãos em meus cabelos.
— Isso não importa. – digo se soltando dela, e ela se afasta. — Quero saber da minha mãe, como ela está? – indago aflita.
— Kauê manda o Enzo entrar agora! Ele tem que ir para a escolinha. – Kauê balança a cabeça positivamente e sai, mas antes de ir, deposita um beijo em minha testa.
— Vem, vamos entrar. – falou me puxando, e fui lhe seguindo.
Entramos na casa, e logo fomos para a sala. Tudo em meu corpo doía, eu estava exausta, e com certeza estava com olheiras horríveis, pois não consegui dormir no mesmo teto que aquele monstro, tinha medo de adormecer e ele querer me matar estrangulada.
Me joguei no sofá, e Mirella se sentou no outro.
— Olha, ontem aquela sua vizinha, Dona Ana, sabe? – balanço a cabeça positivamente e ela continua. — Ela ligou aqui em casa, disse que sua mãe tinha passado mal e que estava com ela no hospital, queria que você fosse lá, mas como você estava com o LC, eu fui. – disse de cabeça baixa encarando seus dedos.
— Ela ainda está lá? Eu preciso ir então, não posso largar minha mãe nesse momento. – digo me levantando rapidamente.
— Calma, agora ela já está em casa. – disse me olhando.
Quando derepente, um barulho no portão e alguém falando alto.
— Olha quem eu achei na rua. – disse entrando na sala, dando um sorriso largo e de mãos dadas com Enzo. — Esse moleque ta enorme, né?
— Luana? – disse com um semblante de assustada, e Luana caiu na gargalhada.
— Enzo, vai tomar banho meu amor, você tem que ir para escola ainda. – digo dando um sorriso sem mostrar os dentes, ele se solta de Luana e revira os olhos.
— Olha Enzo, quando tu fizer 18 aninhos me procura viu? – deu uma piscada para Enzo, que sorriu e subiu correndo as escadas.
— Para de dar em cima do meu filho, sua puta de 5 reais. – disse dando um tapa no braço de Luana, e logo se abraçaram.
— Luana e uma piranha mesmo, não perdoa nem as crianças. – digo dando risada, e Luana revira os olhos.
— Chegou quando? – indaga de braços cruzados.
— Isso não importa, o importante é que eu voltei e foi pra ficar! – diz firme e dando um sorriso forçado.
— Olha, a conversa ta boa mas eu tenho que ir. – digo batendo algumas palmas e dando um sorriso forçado.
— Thayane safadinha, me largou no pagodinho pra ir fazer sexo selvagem com o boy, né? Arrasou, gosto assim. – falou me observando e deu uma piscada.
Antes fosse um sexo selvagem com alguém normal, pensei comigo.
— Espera, você não pode sair assim, vamos esconder essas coisas. – falou me puxando para o andar de cima.
Subimos e fomos para o quarto de Mirella. Enzo já tinha tomado banho e estava arrumadinho com o uniforme da escolinha, se despediu de mim e de Luana e logo desceu com Mirella para entrar na pirua.
Enquanto isso, quem fazia a minha "maquiagem" era Luana, que não parava de tagarelar.
— Nossa, esse teu boy deve ser um negão feroz hein miga, olha teus braços. – disse rindo e dei um sorriso forçado.
— Qual é Thay? Quero detalhes, quem é o negão? Ele tem amigos negões também? Se tiver me apresenta mona. – disse toda animada.
Não queria contar para Luana sobre meu envolvimento com LC, pois igual Mirella, ela ia julgar minha escolha até a morte. Ela não parava de perguntar com quem eu estava "ficando", mas eu sempre metia outra conversa no meio ou desconversava, não queria que ela soubesse.
Mirella logo retornou ao quarto, e Luana já tinha me ajudado a esconder os hematomas. Me despedi das duas, e sai rumo a minha verdadeira casa.
Preciso ver como minha mãe está, não posso abandona-lá agora, pois assim como eu, ela também só tem á mim.
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Sonhos Perdidos
Teen Fiction"O ódio e o amor, caminham lado a lado." Esta frase se encaixa perfeitamente nessa história. De um lado, uma garota humilde, da favela da Rocinha, que sonha apenas em ter uma vida melhor. Do outro, o dono de tudo ali, frio e calculista, essas são s...