Ódio & Luxúria - Degustação

Capítulo 5

Ele se perguntou, 'Como assim sempre foi?' O que ele fizera a ela? Então sua ira era não só apenas pela proposta indecorosa? Era pessoal então? Mas então, ele deixou seus questionamentos de lado e voltou ater-se ao que realmente importava naquele momento.

— Posso salvar vocês da miséria. — insistiu, com a fala mansa e estabilizada. — Pense em como a história de amor entre a noivinha órfã e seu noivo generoso será emocionante. — ele riu cínico.

— Você é ridículo. — ela revirou os olhos. — Aliás, você por acaso tem noção do quanto tudo isso é ridículo? — perguntou retoricamente e completamente chocada.

— Como eu disse ninguém vai se machucar, são apenas negócios.

— Belinda é apaixonada por Caio Aguiar, todos sabem disto. E além do fato de que ninguém acreditaria neste casamento, ela também não irá te aceitar nunca. Você é doente!

— Quem se importa com um pobretão como o Caio Aguiar?

— Ele não é um pobretão! — ela protestou. Anthony não disse nada, ainda tinha aquele ar autoritário e machista, sentando em sua cadeira, todo seguro de si.

Caio não vinha de uma família abastada como os Bardini. Apesar de família Aguiar ter conseguido entrar para elite paulistana, nem de longe teria o renome dos Mattes.

— Eles namoram há anos, ninguém irá acreditar que minha irmã se apaixonou por você. — Annabelle insistiu, mas Anthony não se importou.

Ele conferiu suas abotoadoras de ouro por meio segundo, em um gesto involuntário. Logo torcia os lábios em desgosto. Annabelle pensou ter visto alguma emoção nos olhos dele, mas enganou-se. Ele estava apenas entediado com o rumo daquela conversa.

O olhar duro e frio estava de volta. Anthony ergueu o queixo, soltando uma lufada de ar voltou a dizer.

— Com alguns milhões de sobra e divorciada, daqui a um ano ela poderá se casar com quem ela quiser.

— Você é um desgraçado imoral! — Annabelle disse chocada. Os olhos marejados e perdidos, suas mãos frias.

Ela havia acabado de perder suas esperanças, e só lhe restava mesmo ir embora daquele escritório.

Ela já deixava a sala quando sentiu aquela mão grande e forte segurar seu braço. Perto demais! Ela pensou. Sentindo o perfume almiscarado que a deixava tonta.

— E você? — perguntou, ainda segurando o braço de Annabelle.

— Eu o que? — ela perguntou ríspida, soltando-se do aperto de Anthony.

— Perdão. — desculpou-se pelo aperto. — Eu quero saber se você tem namorado.

Annabelle apenas negou com a cabeça.

— Perfeito! — Ele comemorou. — Podemos dar entrada no casamento neste fim de semana e declarar a imprensa que temos uma paixão avassaladora... — ele declarou, voltando em direção a sua mesa enquanto falava sobre seus planos para o casamento.

— Nem pensar. — Annabelle disse completamente ultrajada, aborrecida, ela esqueceu-se de que segundos atrás pretendia deixar aquele escritório e não percebeu que seguia Anthony.

— Tanto faz a irmã, pode ser você, já que está disponível. — Declarou, pegando o telefone sem fio da base e discando uma única tecla.

— Eu não estou disponível! — Annabelle sentiu o corpo tremer, estava furiosa.

— Não me importo com qual irmã casarei. — ele ignorou o protesto de Annabelle, a opinião dela não lhe parecia razoável naquele acordo. — Inicialmente pensei em Belinda apenas por... — Ele não completou a frase, do outro lado da linha Vivian atendeu e ele perguntou se Otto, seu sócio e advogado já havia chegado à empresa.

— Porque ela é a mais bonita? — a pergunta veio como um sussurro enquanto Annabelle sentia-se sufocada.

Ainda ao telefone, Vivian o informou que Otto não havia chegado, ele desligou e jogou o telefone sem fio de qualquer maneira sobre a mesa. A pergunta ficou no ar. Anthony tinha apenas um sorriso frio nos lábios e voltava a sentar-se em seu trono de couro negro.

— Isto está fora de cogitação. — Annabelle declarou, tomando a direção da porta. Sentia-se sufocada naquela sala.

— Quer saber por que escolhi a Belinda? — Anthony perguntou divertido, isso incomodou Annabelle. No entanto, a curiosidade era maior, e ele sabia que aquela resposta iria fazê-la voltar.

Ela virou-se para ele e com a mão em sua cintura enquanto a outra estava em punho.

— Você já me ofendeu de tantas maneiras hoje que... — Não tinha certeza se queria mesmo ouvir, depois de ter sido tão ultrajada.

— Diga, por quê?

— Achei que fosse lésbica. — Anthony não segurou o riso.

— O que? — Annabelle gritou chocada.

— Não que eu seja preconceituoso sabe... acho até sexy mulheres transando, desde que eu participe, é claro. Mas você... — ele ainda sorria. — Não me parece do tipo que compartilha a sua mulher.

— Minha mulher? — Annabelle estava ofendida, chocada, enfurecida, entre outros sentimentos que ela não conseguia distinguir no momento, tamanha sua fúria.

O ódio por Anthony ganhava forças.

— Aquela sua amiga, a tal Gaiah; ouvi umas histórias dela e pensei que vocês duas... — ele levantou a mão direita e roçou o dedo indicador com o do meio, em um gesto quase obsceno, abafando sua risada com a mão esquerda.

A fúria de Annabelle estava divertindo Anthony, enquanto ela estava a ponto de soltar fumaça pelas ventas, ele se controlava para não se contorcer de risos.

Pegando o que restava de sua dignidade, Annabelle tratou de sair daquele escritório, batendo os saltos agulha de suas botas Jimmy Choo sobre o piso de mármore, atraindo olhares curiosos.

Ela alcançou o corredor dos elevadores sentindo o coração bater acelerado em sua garganta, sufocando-se com a falta de escrúpulos do repugnante Anthony, e enraivecida, por um dia ter sentido atração por aquele homem.

Lembrou-se quando o viu pela primeira vez; na noite do seu décimo sétimo aniversário. 

Seu pai convidou a família Bardini e, Anthony, recém-chegado à cidade compareceu. Ela se encantou com a postura elegante e o sorriso polido daquele jovem que usava um smoking combinado a tênis All Star, irradiava algo que ela não conseguia distinguir, mas era encantador ao extremo.

— Demônio! — praguejou quando as portas do elevador se fecharam e finalmente respirava aliviada por estar longe de Anthony Bardini.