Como se tivesse piscado os olhos, ele acordou. Uma ducha morna o despertou completamente. Em seu closet, uma mala estava pronta – feita por sua única empregada, Martha – ele a conhecia desde menino. Anthony vestiu-se impecavelmente como sempre, pegou sua maleta de documentos e sua mala de viajem e saiu de seu apartamento duplex antes mesmo que Martha pudesse acordar.
No caminho para o escritório, ligou para Otto, imaginando que ele não chegaria cedo ao escritório, já que deveria estar cuidando de outro assunto chamado 'Ellen'.
— Como estão as coisas?
— Ela ainda está dormindo. — Otto olhou para a jovem sobre a cama da suíte e sorriu, sentando à mesa e tomando o café da manhã. — Você acabou com ela.
— Isso não tem graça. Se Annabelle souber, eu estou fodido.
— É, eu sei. — Otto tomou outro gole de café antes de voltar a dizer. — Fique tranquilo, vou convencê-la de que você estava confuso e nervoso com o casamento e lhe pagar uma boa grana para que este seu pequeno deslize não vá parar nas principais revistas de fofocas.
Anthony recostou a cabeça no encosto do banco de seu carro ao parar em um sinal de trânsito.
— Obrigado. — agradeceu de mau humor. — Vou passar suas tarefas da manhã para o Tadeu... Ele vai ficar puto, mas não temos outras opções.
— Ele irá lhe encher de perguntas sobre as procurações que Annabelle deve assinar.
— Eu sei. — o sinal abriu e Anthony acelerou, enrugando o canto dos lábios. — Mais cedo ou mais tarde ele iria ficar sabendo sobre a sua brilhante ideia.
— E sobre a Ilha?
— Não. Ele não precisa ficar sabendo disto. — Anthony já virava a esquina próximo ao prédio do escritório da empresa quando vira passar por ele o carro de sua ex-namorada. Ficou confuso e sem palavras. O que ela fazia tão próximo do escritório? Ele se perguntou.
— Anthony? Está ai? — Otto perguntava do outro lado da linha.
— Sim... — Anthony balançou a cabeça ao responder. — Vou desligar, já cheguei aqui no prédio, falo com você depois.
No escritório...
— Um casamento comprado? Você ficou maluco? — Tadeu quase gritava enquanto segurava a pasta de documentos que Anthony lhe passara.
— Menos drama, por favor. — Anthony disse exasperado, sentando em sua cadeira de couro negro, atrás de sua mesa com moderno designer feita em vidro e aço.
— Se isso vai parar na mídia, é o fim da reputação dos nossos hotéis!
— Meus hotéis... Não esqueça que, você e o Otto possuem apenas uma ninharia desta empresa. — Anthony desdenhou. — E agradeça ao idiota do meu pai. Por que se não fosse por ele, vocês estariam advogando em algum escritório mofado de São Paulo.
As palavras de Anthony enfureceram Tadeu, mas ele controlou-se. Ainda que não tenha sido a primeira vez que Anthony lhe humilhava lembrando-o de que nunca teria nada se não fosse por Henri Bardini, ele parecia estar a ponto de jogar tudo para o alto a qualquer momento. Mas tinha apreço àquela empresa. Mais até que o próprio herdeiro.
— E o que você quer que eu faça? — perguntou com sua voz carregada de desgosto e humilhação. Controlando sua fúria.
— Vá até a casa de minha noiva e leve estas procurações para que ela assine antes de viajar, depois encaminhe para um cartório e de andamento à minha posse da rede hoteleira Mattes.
— Isso é ridículo. — Tadeu murmurou, Anthony ignorou seu antigo amigo de faculdade. — Aquelas garotas já devem ter pagado seus pecados por tudo... Primeiro perderam a mãe. Depois, o pai morre de forma misteriosa.
— Ele enfartou. — Anthony disse sem paciência. Como se repetisse isto o tempo todo.
— Foi o que disseram, mas existem muitos mistérios nesta história.
— O que você está querendo dizer? — Anthony pergunta ríspido, levanta-se de sua cadeira e encara Tadeu de forma nervosa.
— Nada. — Tadeu percebe que falara demais. — Não quero dizer nada. Vou fazer o que você quer.
— Não faz mais que seu trabalho. — Anthony revida de mau humor.
— Boa sorte no Rio.
—Obrigado. — Anthony agradece, mas antes de Tadeu sair, a curiosidade volta a sua mente. — Espera, Tadeu.
— Tem mais alguma ordem? — Tadeu pergunta, com uma careta ele tenta disfarçar sua fúria e humilhação.
— Só uma pergunta.
— E qual seria? — Tadeu segura a pasta de documentos em uma mão, quase amassando o envelope mediante ao esforço para manter-se calmo diante de Anthony.
— Ainda tem se encontrado com Julia Tedesco?
Tadeu sorri. Um riso nervoso e sem humor algum.
— Não só tenho me encontrado com ela, como estamos namorando. — ele responde. — Mas não entendo como isso possa te interessar, já que foi você mesmo quem deu um pé na bunda dela.
Anthony percebe o ciúme nas palavras de Tadeu, e descobre ali um ponto fraco.
— É, você tem razão. — ele afirma, sorrindo falsamente amistoso. — A pergunta, se veio pelo fato de tê-la visto essa manhã próxima ao prédio.
— Ela me trouxe ao escritório. — Tadeu demonstra o quanto não se sente à vontade em falar sobre Julia.
— Então é sério mesmo... — Anthony debocha. — Bem, espero ser convidado para o casamento.
Tadeu não responde a provocação de Anthony, apenas balança a cabeça contrariado.
— Você não sabe nada sobre aquela mulher, Tadeu... — sua voz está mais seria mas ele ainda mantém seu tom de deboche, mesmo quando parece advertir o patético jovem apaixonado.
— Isso não lhe diz respeito, sabe disso não é? — Tadeu está completamente irritado.
— Absolutamente. — Anthony encara Tadeu, sua feição ficando ainda mais seria . — No entanto, fará respeito se aquela vaca que você pensa que é sua namoradinha fiel, atrapalhar a minha vida.
— Você está se tornando um psicótico. — Tadeu revida. — Está tão focado em vender uma imagem, que chega a pensar que o mundo gira em torno de você.
— Avise-a. — sem paciência alguma, Anthony fica de pé e aponta o dedo indicador para Tadeu, que está próximo a porta de saída. — Se ela tentar se aproximar de mim, ou de Annabelle, vou foder com a vida dela de tantas maneiras que ela será obrigada a deixar o país.
Tadeu estava no seu limite, ambos estavam a ponto de se agredirem caso a troca de ofensas continuasse. Sendo racional, Tadeu deixa a sala de Anthony antes mesmo de ouvir qualquer outra ameaça de seu superior.
E Anthony percebe que ali estava travada uma guerra. Ou ele afastava de vez Tadeu de sua empresa, ou teria de lidar com as consequências que o tolo apaixonado traria por conta de sua inocência e fraqueza com as mulheres.
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Ódio & Luxúria - Degustação
RomanceO patriarca Rócio Mattes morre misteriosamente em uma suíte de seu Hotel em São Paulo, deixando órfãs suas filhas Belinda e Annabelle Mattes, ambas que já sofreram anos atrás com a morte de sua jovem e amada mãe. Mas será a filha mais velha, Annabel...