5. PIQUINIQUE

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O dia que comuniquei a minha mãe que sairia de casa ela quase perdeu a lucidez. Achei engraçadíssimo todo o tipo de desculpa que ela deu pra que eu abandonasse minha ideia. Mas foi um esforço em vão da parte dela. Meu pai, como sempre, me apoiou e eu estava decidida. Antes mesmo dela se dar conta eu já estava com tudo praticamente arranjado.

Demorei um pouco para criar coragem de sair da casa dos meus pais, talvez por culpa dos problemas de saúde que tive. Perto deles me sentia segura, mas não iria para longe.

Não era uma questão de fuga, e sim de buscar um espaço só meu. Essa nova fase não estaria associada à distância, muito pelo contrário, e meus pais seriam sempre bem vindos à minha nova casa. Com certeza eu escaparia para a casa deles quando sentisse saudade, principalmente da comida da minha mãe.

***

Cada pedaço do novo lar parece ser uma extensão de mim. Posso colocar em prática minha paixão por passar bons momentos só de meia, de preferência, com qualquer barulhinho no rádio e preparando alguma coisa na cozinha.

Ficar algum tempo sem fazer absolutamente nada. Abrir as janelas da sala e ficar no sofá escutando o barulho que vinha da rua ou o som das outras janelas. Mesmo que já tenha acreditado que esse ato fosse a mais completa perda de tempo, hoje, depois de tudo que passei, acho que é tempo ganho, já que poucas coisas me inspiram mais que o ócio.

Apesar de adorar passar um tempo sozinha, nunca fico solitária. Daniel sempre que pode me visita. Confesso que já tentei sentir outro tipo de amor por ele. Seria tão bom. Seria perfeito. A presença dele sempre me conforta.

Além disso, a casa dos meus pais é muito próxima à minha, por isso, minha mãe faz visitas sempre que pode e insiste em fazer uma inspeção rigorosa em todos os armários da casa pra saber se estou me alimentando bem e se me agasalho adequadamente apesar de eu não ter mais dezoito anos. Aliás, eu já estava um pouco longe disso a essa altura.

Sinto que será assim sempre, parece que minha mãe não viu que eu envelheci desde o primeiro dia que meu nome foi parar numa fila de transplante, quando eu mal havia feito dezessete anos.

Admito que até gosto de tanto mimo. Reclamo um pouco quando ela está em casa, mas basta uma vez que ela não venha para que eu fique choramingando pelos cantos fazendo um drama digno de qualquer atriz mexicana. Muita gente disfarça, mas a verdade é que colo de mãe é uma delícia.

Finalmente minha vida tinha entrado nos eixos.

Minha saúde na mais perfeita ordem e eu ocupando meu tempo com o que eu mais adoro fazer. Passava horas dentro da pâtisserie e só não dormia lá por falta de uma cama.


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