Era uma sexta-feira clássica no café. Todas as mesas estavam ocupadas e, por alguns instantes, eu desejei que todos os humanos pudessem se comunicar pela língua dos sinais tamanho era o barulho.
Já trabalhava no automático a aquela altura. Meus olhos estavam pesados de cansaço, eu estava hipnotizada por uma laranja sendo espremida quando notei que alguém havia acabado de se debruçar no balcão.
- Pois não? – perguntei com gentileza, mas sem olhar a quem eu me dirigia e, na verdade, com uma pitadinha de descaso enquanto mexia em algumas xícaras no balcão.
- Sofia.
Era o Cristofer...
Congelei todo o sangue que corria nas minhas veias. A queda brusca da minha pressão se combinou com o zumbido das conversas alheias e quase me ensurdeceu. Com os pensamentos na velocidade do meu coração escutei ele repetir meu nome.
- Sofia? – falou entusiasmado como se estivesse a metros de mim. Desconfiei que ele estivesse fazendo um sotaque meio italiano enquanto pronunciava meu nome, mas não tive certeza. Mas que empolgação mais estranha, não combinava com o comportamento usual dele.
- Oi! – respondi como se as minhas condições de temperatura e pressão estivessem normais, tentando responder a altura de seu entusiasmo.
- Onde você estava?
- Onde eu estava? Eu... – comecei olhando para os lados como se fosse óbvio. – estava aqui, ué?
Ele sorriu e concordou com a cabeça.
- Seu corpo sim, mas e a mente?
- Minha mente? – ri de nervoso. – Faz tempo que a gente não se encontra... Eu e ela.
- Quer tomar um café?
Não entendi a pergunta dele e acabei respondendo com outra. Ele estava me deixando tonta.
- Você quer um café? – retruquei com uma cara confusa.
- Não, não – ele sorriu achando graça da minha confusão. – Quero que você tome um café comigo.
Sorri também, mas me senti um pouco envergonhada pensando numa resposta conveniente para aquele momento.
- Olha só. Como você pode ver e ouvir...
Ele me interrompeu.
- Não precisa ser agora, Sofia. – falou num tom mais sério.
- Nesse caso tudo bem, claro que sim – pareci mais confiante do que previa.
- Hoje? – quis saber.
- Hoje? – fiquei confusa mais uma vez. – Talvez eu saia tarde do café...
- Pois eu espero, hoje não tenho problemas, estou livre.
- E vai gastar todo o teu tempo precioso num café barulhento?
- Eu trouxe meu livro, vou comer meu bolinho favorito, e esse zumzumzum das pessoas falando ao mesmo tempo acaba me deixando concentrado no que estou lendo.
- Sério? – perguntei incrédula.
- Sim. Ou eu estou no mais completo silêncio, ou tenho que estar num lugar onde não possa distinguir tantos sons diferentes. Acaba virando um mantra.
- Tudo bem – me dei por vencida. – O que vai querer para acompanhar sua leitura?
- Uma Madonna, para começar, e uma água. Sem gelo, por favor.
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O Novo Inquilino
RomanceSofia teve um problema no coração e precisou de transplante. Agora, Sofia tem um novo coração e um novo vizinho que vai oferecer muito mais que apenas uma xícara de açúcar. Uma história de amor que envolve um mistério capaz de derreter qualquer cora...