10. CHOCOLATE QUENTE - PARTE I

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Era uma sexta-feira clássica no café. Todas as mesas estavam ocupadas e, por alguns instantes, eu desejei que todos os humanos pudessem se comunicar pela língua dos sinais tamanho era o barulho.

Já trabalhava no automático a aquela altura. Meus olhos estavam pesados de cansaço, eu estava hipnotizada por uma laranja sendo espremida quando notei que alguém havia acabado de se debruçar no balcão.

- Pois não? – perguntei com gentileza, mas sem olhar a quem eu me dirigia e, na verdade, com uma pitadinha de descaso enquanto mexia em algumas xícaras no balcão.

- Sofia.

Era o Cristofer...

Congelei todo o sangue que corria nas minhas veias. A queda brusca da minha pressão se combinou com o zumbido das conversas alheias e quase me ensurdeceu. Com os pensamentos na velocidade do meu coração escutei ele repetir meu nome.

- Sofia? – falou entusiasmado como se estivesse a metros de mim. Desconfiei que ele estivesse fazendo um sotaque meio italiano enquanto pronunciava meu nome, mas não tive certeza. Mas que empolgação mais estranha, não combinava com o comportamento usual dele.

- Oi! – respondi como se as minhas condições de temperatura e pressão estivessem normais, tentando responder a altura de seu entusiasmo.

- Onde você estava?

- Onde eu estava? Eu... – comecei olhando para os lados como se fosse óbvio. – estava aqui, ué?

Ele sorriu e concordou com a cabeça.

- Seu corpo sim, mas e a mente?

- Minha mente? – ri de nervoso. – Faz tempo que a gente não se encontra... Eu e ela.

- Quer tomar um café?

Não entendi a pergunta dele e acabei respondendo com outra. Ele estava me deixando tonta.

- Você quer um café? – retruquei com uma cara confusa.

- Não, não – ele sorriu achando graça da minha confusão. – Quero que você tome um café comigo.

Sorri também, mas me senti um pouco envergonhada pensando numa resposta conveniente para aquele momento.

- Olha só. Como você pode ver e ouvir...

Ele me interrompeu.

- Não precisa ser agora, Sofia. – falou num tom mais sério.

- Nesse caso tudo bem, claro que sim – pareci mais confiante do que previa.

- Hoje? – quis saber.

- Hoje? – fiquei confusa mais uma vez. – Talvez eu saia tarde do café...

- Pois eu espero, hoje não tenho problemas, estou livre.

- E vai gastar todo o teu tempo precioso num café barulhento?

- Eu trouxe meu livro, vou comer meu bolinho favorito, e esse zumzumzum das pessoas falando ao mesmo tempo acaba me deixando concentrado no que estou lendo.

- Sério? – perguntei incrédula.

- Sim. Ou eu estou no mais completo silêncio, ou tenho que estar num lugar onde não possa distinguir tantos sons diferentes. Acaba virando um mantra.

- Tudo bem – me dei por vencida. – O que vai querer para acompanhar sua leitura?

- Uma Madonna, para começar, e uma água. Sem gelo, por favor.

O Novo InquilinoOnde histórias criam vida. Descubra agora