10. CHOCOLATE QUENTE - PARTE II

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E se ele fosse um tarado maníaco? Nunca se sabe onde você vai topar com um sado masoquista que vai querer te pedir o favor de te acorrentar e te dar umas cintadas...

- Não se preocupe. – ele falou interrompendo minha mente doentia. – Não é nada que vá te dar trabalho. Na verdade, talvez algum trabalho, mas fique a vontade para recusar, por favor – ele queria ser delicado.

- Sem problemas, Cristofer. Pode falar – respondi para que ele ficasse confortável enquanto eu levava a xícara até a boca. Minha curiosidade já estava me matando.

- Você faz todos os doces que estão aqui no seu café?

- As receitas são minhas e da Madalena, ajudo a fazer quando posso. No começo eu achava que ia fazer todos, mas a realidade é que agora a maior parte deles são feitos sob meu comando, mas não por mim. Algum problema com eles?

Não estava entendendo onde ele estava querendo chegar.

- Nenhum, muito pelo contrário, adoro eles. O que eu quero saber é se você é chef de cozinha... Não que isso faça diferença, claro, mas só torna o que vou pedir mais razoável.

- Sim – sorri. – Madalena também é, mas eu sinceramente não estou entendendo nada, Cristofer.

- Se importaria de me ensinar a cozinhar? – ele pareceu desconfortável. Talvez colocando em palavras não soasse tão normal quanto quando estava apenas nos pensamentos dele. – Se você é chef, então pode ter uma variedade de coisas para me ensinar, e não só os doces. Quero aprender bastante coisa.

Bastante coisa?

Eu juro que, por mais que tivesse me esforçado, e olha que eu sou boa em conjecturas absurdas, nunca pensaria que a tal proposta fosse essa. Até levar cintadas me pareceu mais provável que pedir para ensinar como cozinhar. Acho que ele percebeu quando juntei as sobrancelhas num olhar de estranhamento.

- Como eu disse – ele se antecipou –, não veja isso como uma proposta obrigatória de ser aceita. Eu pago pelas aulas. O que for melhor para você.

- Claro... – coloquei minha xícara na mesa novamente. – Quero dizer, sim, posso te dar algumas dicas, sem problemas.

- Sério? - O olhar dele estava brilhante apesar de não estar sorrindo.

- Sim. Por que não? Imagine. Temos que administrar o tempo que eu tenho, mas nisso posso dar um jeito.

- Veja, não quero aprender nada da cozinha requintada, preciso aprender a fazer coisas simples e que sejam práticas.

- Tudo bem, posso ajudar. Não precisa me pagar nada.

- Faço questão.

- Conversamos sobre isso depois – tentei cortar essa parte desconfortável do assunto.

- Tudo bem. Muito obrigado, Sofia. Muito obrigado – ele parecia aliviado. – Tenho que administrar o meu tempo livre também, não tenho muito, mas eu resolvo.

Achei que ele fosse levitar depois do suspiro de alivio que deu. E eu queria perguntar, queria muito, mas fiz toda a força que pude para não saber por que ele não tinha tempo e o porquê dessas aulas, se é que havia algum. Não perguntei, fui forte. Como sempre pensei, o que é para ser dito, na grande maioria das vezes, não precisa de perguntas para ser feito. Se ele tivesse interessado em me contar o que quer que fosse, assim o faria, caso contrario, eu ficaria na dúvida.

- Sofia!

Daniel surgiu atrás de mim e me fez pular quando falou meu nome um pouco alto demais.

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