19. BANANA - PARTE II

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"Eu conhecia aquele nome. Não sabia quem era, mas conhecia muito bem o seu nome. Havia um lugar que eu precisava visitar urgentemente".

Sofia


Quando Cristofer chegou em casa alguns minutos depois que eu havia fugido de lá, se espantou quando notou que não havia trancado a porta. Mas, estava cansado demais para dar importância a isso naquele momento.

Foi direto para o quarto tirando os sapatos pelo caminho e depois as meias. Quando chegou nos pés da cama, sentiu algo colar em seu pé. Era uma foto que estava praticamente sob a cama. Nesta foto a moça loira estava diferente da que eu tinha visto. Usava roupas de frio e o nariz estava até vermelho, provavelmente pela temperatura baixa do lugar onde estava. Ele pensou ter deixado cair ali na noite anterior, não podia imaginar que uma intrusa havia revistado suas coisas pessoais deixando cair uma foto por acidente. Abriu o armário para colocar a foto novamente em seu lugar, dentro da caixa azul. Não notou que ela tinha sido mexida. 

Como eu havia feito, ele a colocou sobre a cama e com cuidado abriu a tampa florida encontrando o bolo de fotos. Talvez estivesse muito cansado para notar que não estava como ele tinha deixado na noite anterior.

Parou por um momento, segurou a foto em sua mão e deitou na cama, encarando-a sem piscar. Permaneceu assim por um tempo até sentar novamente e retirar da caixa a tal foto da moça com a flor, para repetir o que havia feito com a outra. Passou os dedos sobre a foto e fechou os olhos parecendo sentir dor. Largou a foto dentro da caixa displicentemente. Levantou como se estivesse furioso agora. Se encaminhou para a janela e parou próximo a ela. Passou a mão por seu rosto como se quisesse despertar do cansaço que sentia, encarou o horizonte lá fora com olhos de raiva e tristeza. Então reparou que tinha algo errado no quarto. Uma coisa estava fora do lugar. Mas sem dar muita importância e sem parar muito para raciocinar saiu de lá, passou pela sala, calçando as meias e o sapato. Mais uma vez não trancou a porta e desceu as escadas em disparada.

O sol estava a pino quando Cristofer chegou em seu destino. Não se sentia muito bem, estava muito cansado por ter passado a noite em claro no hospital e por culpa dos pensamentos que passavam por sua cabeça algumas vezes rapidamente demais.

Quando passou grade a dentro, se sentiu culpado por não ter voltado ao cemitério antes. Andava de uma forma lerda, parava algumas vezes e olhava para os lados pensando se deveria chegar até o fim com sua "visita". 

Faltavam poucos passos para chegar ao seu destino, era tarde demais para voltar atrás, então ele continuou.

Ainda que não tivesse apressado seus passos, ainda que estivesse andando como se sofresse de dores nas pernas, ele continuou. Franziu o cenho quando viu, de longe, que alguém havia chegado antes dele. Parou onde estava, mesmo que estivesse um tanto quanto distante, e continuou olhando a pessoa que estava de pé a sua frente de costas para ele. Em seus pensamentos se perguntou várias vezes quem mais poderia estar fazendo uma "visita", mas ninguém vinha à sua cabeça.

Queria chegar mais perto para ver se reconhecia quem estava ali, mas não queria falar com ninguém no momento, por tanto, estabeleceu uma distancia segura, deu mais alguns passos silenciosos, mas parou repentinamente antes do que havia pretendido, cerrou seus olhos e sentiu necessidade de esfregá-los. Sua vista estava afetada pela claridade do dia e pela ausência de uma noite bem dormida. Seus olhos pareciam enganá-lo, mas não era truque de sua mente cansada. Ainda que estivesse de costas para ele, ele reconheceria de longe quem estava de pé em sua frente a apenas alguns metros. Quando teve certeza resmungou confuso.

- Sofia...? – sussurrou pra ele mesmo.

Seguiu para perto de uma arvore que fazia sombra, queria esfriar suas idéias que queimavam sob o sol escaldante. Ficou me observando por algum tempo. Pensou em me perguntar o que eu fazia ali, mas achou melhor esperar. Tirou do bolso a foto que o instigara a ir até lá e deu uma boa olhada, então voltou os olhos para mim novamente. Cristofer observava de longe meu comportamento. Eu estava imóvel, parada sob o sol quente a algum tempo, inconformada. Não conseguia reagir. Sarcasticamente, quase enfartei quando meu celular tocou. Era minha mãe, ela parecia ter um radar. Foi o que me acordou do transe que tinha tomado conta de mim por toda manhã.

Cristofer notou que eu estava deixando o cemitério e se escondeu. Acompanhou silenciosamente meus passos com seus olhos até que saí de sua vista. Ficou por um tempo processando o que havia visto, mas estava muito confuso. Sem muito raciocinar foi se encaminhando para a sepultura em que eu estivera há poucos minutos e teve a confirmação de que ele estava no lugar certo. Fazia tempo que ele não passava por ali, mas ainda assim, era um lugar que ele nunca esqueceria.

Quando ele leu o nome na lápide precisou se agachar, não suportava mais o peso do corpo sobre as pernas. Abaixou a cabeça e a apoiou sobre as mãos sussurrando um pedido de desculpas.

Cristofer não sentia a menor vontade de se mover, mesmo que o sol estivesse insuportavelmente quente. Mas a lembrança da minha visita fez com que ele se inquietasse. Quando fechou os olhos e viu minha silueta novamente, se levantou num susto. Foi direto para casa dormir, precisava colocar as idéias no lugar antes de tomar qualquer atitude.


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