21. MAÇÃ DO AMOR

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Passei a manhã toda ocupada na pâtisserie. Uma senhora havia pedido uma entrega enorme para suas bodas de ouro. Não sabia se estava mais atordoada com o fato de ter que fazer dúzias de cupcakes em tempo recorde ou com o fato de alguém passar tanto tempo junto de outro alguém. Cheguei a invejá-la por um momento, mas logo pensei que talvez eles não fossem tão felizes. Parei quando considerei que meus pais também estavam juntos há muito tempo e que me pareciam bem. Eu esperava do fundo do coração da Amanda que eles realmente fossem felizes juntos.

Fiz questão de entregar pessoalmente a encomenda que me foi feita. Eu preferia ter certeza de que todos os bolinhos chegariam bem e depois armazenados corretamente antes da festa começar.

Ao chegar no local me surpreendi com o espaço. Era uma chácara que desde a entrada denunciava o evento que teria mais tarde. A entrada estava enfeitada com algumas flores assim como o caminho todo que se seguia até a recepção.

Quando entrei no lugar onde seria a festa, fiquei maravilhada com a decoração. Já havia presenciado todo tipo de festa, mas esta estava especialmente bonita. 

De lá de dentro da casa enorme com janelas que iam até o chão, uma senhora veio em minha direção e me recebeu com um sorriso singelo.

- Olá. Posso ajudar?

Os cabelos branquinhos eram curtinhos, pareciam de algodão.

- Olá – respondi devolvendo o sorriso. – Vim entregar os cupcakes.

- Ah! Claro. Fui eu mesma quem encomendou – respondeu a simpática velhinha.

- Muito prazer. Sou Sofia. Foi comigo que a senhora falou.

- Igualmente, Sofia. Muito prazer.

- Onde posso colocá-los?

Logo uma mulher mais jovem apareceu para me auxiliar, era sua filha. Mostrou onde deixar os doces até a festa começar. Depois que verifiquei se o lugar era adequado, fui até o carro para buscar a encomenda. Fiz umas três viagens para dar conta de todos os bolinhos, mas não me demorei muito.

Modéstia à parte, eu sabia que a decoração do lugar ficaria ainda mais bonita depois que meus cupcakes fossem colocados no salão. Estava fascinada andando pelo lugar, queria encontrar a senhora, dona da festa para me despedir, mas não a encontrei. Deixei o recado com a filha, passei recomendações de como manusear os doces e que se precisasse de alguma coisa que me ligasse que eu viria na mesma hora.

Estava saindo pelo jardim quando pude ouvir a voz da senhora que tanto procurei. A voz estava distante, mas pude vê-la mesmo que fosse de longe. Ela estava com um velhinho, os dois conversavam bem próximos um do outro, davam risada, e se encaminhavam para dentro do salão. Quando estavam quase entrando pela porta pude ver que suas mãos estavam entrelaçadas. Senti uma pontada forte em meu coração quando vi a cena. Apertei meus olhos para aliviar a dor e quando minhas pestanas se fecharam foi Cristofer quem apareceu. Abri os olhos rapidamente para fazê-lo sumir, mas ele continuava aparecendo a cada piscar de olhos.

Essa situação precisava ter fim. Eu tinha que vê-lo, não iria mais me manter afastada.

***

Em momentos como os que a gente enfrentava era difícil não se tornar um tanto quanto egoísta, dando atenção para as próprias lamúrias e sentimentos pessoais. Só pensei em mim e na minha dor por muitos dias.

Por mais que eu tentasse adivinhar o que havia acontecido com Cristofer nos dias que sucederam a descoberta que ele fez, eu nunca poderia imaginar como deve ter sido difícil para ele assimilar tudo aquilo.

Eu nunca iria saber de nada, a não ser que ele resolvesse me contar um dia. Contar que saiu de casa desesperado se sentindo um covarde por ter avançado em mim da forma que avançou.

 Primeiro pensou em sair e nunca mais voltar para aquele prédio. Depois achou melhor manter distância, apenas, dormindo no hospital alguns dias. Além disso, tentava não parecer estranho para não regredir aos olhos da terapeuta.

Tudo o que ele havia conseguido deixar para trás tinha voltado para sua vida de uma vez só e com uma complicação a mais: eu. Chorou como criança quando lembrou tudo o que havia acontecido até aquele momento. Se culpou por ter perdido Amanda uma vez e depois a mim.

Foi até o cemitério jurar diante do túmulo de Amanda que nunca mais iria me ver, mas quando chegou lá acabou mesmo é me encontrando. Ficou furioso. Depois, até ele que é cético, encarou o fato como um sinal.

Resolveu voltar a dormir em casa regularmente, mas não podia mais suportar a situação em que o apartamento se encontrava e então, com muito sacrifício, começou a desencaixotar as coisas que permaneceram dentro das caixas desde a nossa arrumação e que estavam espalhadas por toda a casa. Até prateleiras ele pregou na parede. No entanto, não conseguiu mexer nas coisas de Amanda que ainda lhe traziam lembranças dolorosas. Agora, para piorar, não se sentia digno de mexer em suas coisas.

Sentia alívio ao me ouvir através da parede, mas ficava perturbado por não se permitir pensar em mim.

Sem que eu soubesse, do quarto dele, ele também imaginava como é que eu estava quando me ouvia dentro do meu. Ensaiou tocar a parede um dia, mas se controlou. Passou essa mesma noite em claro dividido, brigando consigo mesmo. Em certos momentos queria me ver, em outros ao pensar em mim sentia raiva.

Depois que me ajudou a ir para o hospital resolveu que precisava me ver mais uma vez, mas quando foi no café não me encontrou. Ele que também não acredita muito em destino acabou atribuindo o fato ao mesmo e desistiu. Mas, eu estava ali, o assombrando todo dia como ele mesmo fazia comigo sem saber.

Acabou colocando a cabeça no lugar e percebeu que nenhum de nós tinha culpa pelo que estava acontecendo. Chegou à conclusão de que eu não sabia a tanto tempo que o coração que eu carregava era de Amanda. Sentiu remorso por ter me acusado, mas eu já havia pedido para ele manter distância no hospital, então ele acatou meu pedido.

Em um dia de folga, sem muito o que fazer, ele pensou umas duas vezes antes de sair de casa, mas logo cedeu à tentação. Chamou um táxi, pegou um endereço que havia achado na internet e saiu. Pediu que o taxista não o esperasse quando chegou em seu destino, pois sabia que demoraria.


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