Escutar essas palavras vindo de sua boca me fez estremecer.
- Oi, Cristofer. Feliz dia dos namorados para você também.
Madame Delacroix assistia a cena com seu típico olhar de desprezo apoiando as duas mãos cheias de anéis no balcão. Nunca mais sorriu para mim novamente... Estava compenetrada em nossa conversa. Talvez a experiência de vida dela denunciasse as reações que eu estava tendo. Espero que apenas ela tenha notado.
- As caixas recheadas de coração estão na cozinha, me ajuda?
- Claro – me seguiu até a cozinha.
- São aquelas três. Vou falar com a Madalena e já volto para ajudar.
- Tudo bem – se encaminhou para as caixas.
Madalena estava nos observando do balcão sem piscar.
- Estou indo, Mada.
- Feliz dia dos namorados – maliciou.
- Tá – respondi tentando não rir.
Cristofer segurava duas das grandes caixas quando retornei à cozinha.
- Hoje você vai conhecer minha máquina – contei enquanto pegava a caixa que faltava.
- Máquina? – perguntou enquanto saímos do café.
- Eu vim de carro hoje... Não esperava que a gente fosse de ônibus com essas caixas, esperava?
- Para falar bem a verdade, nem me ative a este detalhe de total relevância, eu confesso. Me passou despercebido. Pensei num taxi, quem sabe...
- Está ali do outro lado da rua.
- Tudo bem – assentiu.
Em dois passos chegamos ao meu carro.
- Pode colocar aqui.
- Fusca?
- Conversível!
Ele ria descontroladamente do meu fusca conversível enquanto eu tentava não ceder às risadas também.
- Qual é o problema? – tentei segurar o riso.
- Nada, é engraçado. Na verdade não tem graça, mas o que eu posso dizer? Senti vontade de rir. Desculpe – falou tentando conter o riso sem obter muito sucesso enquanto eu o ignorava.
Ok. Ele sabia dar gargalhadas. Que alívio.
- Além do mais, o médico aqui é você, eu sou só a cozinheira.
- Cozinheira? Você é a chef! Com parede da fama e tudo... – falou em tom de gozação.
- A propósito, ele nem é meu, é dos meus pais, peguei emprestado hoje.
- Tudo bem – estava tentando se conter.
- Pronto? Se acalmou? Podemos ir? – forjei um tom de reprovação.
- Sim, sim. Vamos.
Quando chegamos ao hospital notei que Cristofer estava um pouco apreensivo, mas não pude entender o porquê. O caminho todo havia sido tranqüilo, mas Cristofer têm dessas crises de bipolaridade, por isso resolvi relevar.
Os médicos já me conheciam por lá e sabiam do conteúdo valioso das minhas caixas, mas eu não podia distribuir corações de cupcake aleatoriamente, já que nem todos os pacientes podiam colocar em sua dieta a iguaria açucarada. Eu deixava os doces na cozinha do hospital e de lá eles eram entregues a quem podia receber.
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O Novo Inquilino
RomanceSofia teve um problema no coração e precisou de transplante. Agora, Sofia tem um novo coração e um novo vizinho que vai oferecer muito mais que apenas uma xícara de açúcar. Uma história de amor que envolve um mistério capaz de derreter qualquer cora...