Na manhã seguinte, comecei a me arrumar para ir para o café, disposta a continuar com a rotina de sempre, mas já não conseguia dominar a falta de ânimo que sentia. Sentei na cama para calçar as botas, mas não o fiz. Deitei novamente e permaneci olhando para o teto. Estava sonolenta, mas pulei quando escutei a porta de Cristofer bater no apartamento ao lado.
Sentei-me na cama para ter certeza que eu não havia pegado no sono e aquilo tudo fosse coisa da minha imaginação cansada. Voltei-me para a parede e agucei os ouvidos em busca de novos sons. Era verdade, Cristofer estava lá dentro, talvez outra pessoa, não sei. Me aproximei da parede e estendi a palma da mão contra ela. Mais uma vez quebrei minha promessa de não derrubar lágrimas por causa dessa história.
Os sons que vinham de lá cessaram, o mais completo silêncio se abateu sobre minha casa. Não era diferente do silencio que existia dentro de mim.
O dia estava cinza ainda que o sol tentasse aparecer por entre as nuvens. Não era o dia mais convidativo a caminhadas, mas não me importei. Finalmente vesti as botas e coloquei uma blusa com capuz já que garoava lá fora. O meu primeiro plano, quando coloquei os pés para fora do prédio, era seguir direto para o café, mas não foi lá que terminei.
Quando dei por mim estava no cemitério mais uma vez. Queria pedir desculpas, mas pelo quê? E para quem? Amanda não estava mais lá de qualquer forma, no entanto, ali era o lugar que parecia ser o mais próximo de qualquer contato com ela. Meus dedos estavam congelando quando resolvi colocar luvas, depois meti as mãos dentro do bolso do casaco para ver se me aquecia. Foi então que escutei passos na grama molhada atrás de mim. Não me virei para olhar, pois temia saber quem estava ali. Virei meu pescoço suavemente para o lado e tirei um pedaço do capuz que tampava minha visão para tentar ver algo. A silhueta dele era inconfundível. A confirmação veio depois que o ouvi se afastar de mim com rapidez quando notou que era eu que estava ali. Fui procurar paz, mas acabei encontrando Cristofer. Não era, naquele momento, meu ideal de paz.
Acabei desistindo de ir trabalhar, seria inútil ficar no café com a falta de vontade que eu estava. Quando cheguei novamente em casa, parei de tentar fugir do que sentia, não ia mais enganar meu corpo o obrigando a sair ou se levantar. Deitei-me na cama e dormi até meu corpo doer.
Quando acordei estava cambaleante por dormir demais, havia me levantado apenas por não suportar mais o peso do meu corpo em minha coluna enquanto estava deitada. Resolvi então ligar para Madalena e avisar que não iria mais à patisserie naquela semana. Acho que enganei bem quando disse que ia procurar descansar para voltar com força total, talvez ela soubesse que eu tava mesmo é sem o menor pingo de vontade de fazer absolutamente nada.
Quando a noite chegou, o silêncio dentro da minha casa era tão grande que consegui escutar meu estômago roncar com força. Foi então que me lembrei que seres humanos precisam de comida pra viver. Não sentia fome, mas sabia que precisava comer.
Ainda que não quisesse me mover, fui para a cozinha, abri a geladeira e encarei o que ela continha por alguns segundos, mas nada me apeteceu. Depois aconteceu o mesmo com os armários. Cheguei a morder uma maçã, mas não terminei de comer a fruta.
Fui para a sala e deitei no sofá sem acender nenhuma luz. Como a penumbra estava forte, acabei adormecendo novamente, mas desta vez, quando acordei, estava faminta. Alguns pensamentos incômodos em relação a Cristofer me vieram à cabeça, mas eu não estava muito disposta a aceitar, preferi dar ouvido ao meu estômago que estava falando bem alto.
Encarei o telefone algumas vezes e quando decidi ligar para a pizzaria descobri que não tinha um catálogo. Não quis ligar o computador para olhar na internet. Meu celular estava sem bateria há dias.
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O Novo Inquilino
RomanceSofia teve um problema no coração e precisou de transplante. Agora, Sofia tem um novo coração e um novo vizinho que vai oferecer muito mais que apenas uma xícara de açúcar. Uma história de amor que envolve um mistério capaz de derreter qualquer cora...