20. CHOCOLATE MEIO AMARGO - PARTE I

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Tive que disfarçar o tormento que sentia por mais de meia hora enquanto falava com minha mãe ao telefone. Não queria falar sobre esse assunto de maneira alguma, pelo menos não naquele momento. Pelo menos nunca! Se minha mãe soubesse disso, era capaz de me deixar de castigo por ter conseguido tirar da enfermeira o nome da doadora.

Talvez ela me abraçasse e fizesse essa sensação horrível passar...

Do cemitério fui direto para casa, não passei na patisserie, não havia condições de ficar por lá com o peso que eu carregava dentro de mim.

Quando cheguei em casa, fechei a porta e sentei no chão. Não consegui chegar até o sofá. Me recostei na porta mesmo e fiquei quieta, queria poder forçar o desligamento dos meus pensamentos, mas quanto mais eu tentava, mais intensos eles ficavam, pareciam me torturar com uma descarga pesada que chegava a fazer minha cabeça latejar.

Meu olhar estava fixo no horizonte, eu piscava algumas vezes, e minha garganta começava a doer de vontade de chorar. Eu estava quase me entregando, meu olhos já estavam cheios de água deixando minha visão turva e eu não tinha mais forças para segurar a lágrima que parecia pesar uma tonelada nos meus olhos. Estava realmente tão pesada que não chegou a escorrer pelo meu rosto quando caiu. Saiu dos meus olhos em direção ao chão entre minhas pernas estendias, mas antes que eu pudesse notar o chão molhado fui surpreendida pelo barulho da porta de Cristofer batendo ali ao lado.

Dei um pulo com o susto que levei, meus olhos se arregalaram e senti um frio na barriga que dominou todo meu corpo. Fiquei imóvel por alguns instantes e depois fui para o meu quarto tentando ser o mais silenciosa possível para que ele não notasse que eu estava ali. Desliguei meu celular e sentei nos pés da cama, mas não me sustentei por muito tempo. Caí de costas na cama e fiquei olhando para o teto.

***

Quando Cristofer chegou em seu quarto, se jogou na cama de qualquer jeito, suas mãos passavam sem parar por seu rosto, o sono já estava o dominando e ainda assim seu cérebro não parava. Piscou profundamente para firmar a visão e se revirou na cama. Abriu seus olhos mais uma vez, e os teria fechado novamente se algo não tivesse lhe chamado a atenção.

Algo amarelo nos pés da cama o fez abrir os olhos e não fechar mais. Fazendo um pouco de esforço se sentou e pegou minha blusa que estava sobre a cama. A olhou com cuidado. Estava confuso. Tinha certeza que havia deixado minha blusa sobre a cadeira na noite anterior. Aquilo o intrigou, havia algo errado, ele não iria conseguir dormir.

Saiu de casa novamente a passos largos e apressados para me encontrar no café.

Quando chegou lá Madalena foi direto em sua direção, mas ele nem a cumprimentou.

- Preciso falar com a Sofia.

Madalena arregalou os olhos e deu um sorriso torto.

- Bom, eu também adoraria falar com ela.

- Como assim? – perguntou confuso.

- Não vi Sofia hoje. Tentei ligar, mas não tive sucesso. Quando te vi tive a esperança de que fosse ter noticias dela.

- Ela não apareceu por aqui hoje?

- Não, doutor.

- Tudo bem, falo com ela depois. Obrigada, Madalena.

- Tudo bem.

Madalena notou que havia algo errado, mas não podia abandonar o café. Então voltou ao trabalho. Passaria na minha casa quando saísse de lá.

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