20. CHOCOLATE MEIO AMARGO - PARTE II

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Não sei bem quanto tempo se passou quando escutei baterem na porta. Não me movi. Temi que fosse Cristofer, mas duvidava que ele estivesse querendo falar comigo. Não atendi mesmo assim, então uma voz falou comigo do outro lado da porta.

- Sofia? Você está aí?

Era Madalena.

- Sou eu Madalena. Sofia!

Eu não podia me mexer, não podia falar, não podia viver, estava abrindo mão do direito de usar um coração que não era meu. Tinha resolvido rejeitá-lo a partir de agora.

- Sofia, se não abrir vou mandar arrombarem essa porta.

Não precisaria de tanto esforço, a porta estava aberta, e logo Mada percebeu.

Entrou desesperada porta a dentro e se ajoelhou do lado do sofá aproximando seu rosto do meu preocupada quando percebeu o estado em que eu me encontrava

- Sofia? O que foi? O que você tem? Fala comigo, por favor. Precisa de um médico?

As lagrimas escorriam dos meus olhos, mas eu não respondia suas perguntas, estava farta de escutar perguntas.

- Sofia... – sussurrou e então ergueu minha cabeça, se sentou no sofá e me apoiou em suas pernas.

Passando a mão em meus cabelos, aflita, parou de tentar encontrar respostas para o meu estado. Não falou mais nada, apenas ficou comigo, passando a mão em meus cabelos e observando assustada meu catatonismo.

Madalena permaneceu calada ao meu lado por mais de uma hora. Provavelmente estivesse cansada de esperar que eu resolvesse falar, e apelou.

- Sofia... – falou baixo olhando no meu rosto para ver se eu reagia. – Não posso ficar aqui parada vendo você deste jeito, não vai mesmo falar comigo?

Não respondi.

- Vou ligar para os seus pais – falou tentando provocar alguma reação, mas nem assim surtiu efeito.

Então, com minha cabeça ainda em seu colo Madalena pegou seu celular e ligou para minha mãe. Contou o que estava acontecendo, mas de forma suave para não assustar meus pais.

A verdade é que senti um alívio imenso quando escutei minha mãe falando do outro lado do telefone que já estava a caminho.

Meus pensamentos estavam confusos, como se eu não dormisse há dias e estivesse sofrendo de algum tipo de estafa mental.

Meus pais não demoraram a chegar, e quando chegaram nem bateram na porta, foram entrando como se fossem apagar um incêndio, talvez minha mãe tivesse entendido a gravidade da situação. Pelo faro que ela tinha para essas coisas, não sei como não tinha me ligado ainda, antes mesmo de Madalena chegar em casa.

- Sofia! – ela gritou quando viu minha expressão.

Me tomou em seus braços libertando Madalena desta função. Me senti tão protegida, não queria estar em outro lugar. Meu pai estava desesperado com um olhar assustado, parecia perdido parado como uma estátua no meio da sala.

- Sofia – ele sussurrou com olhos tristes.

Era o tipo de situação que minha mãe não permitiria por muito tempo.

- Sofia – sua voz agora era mais baixa, mas também mais ríspida. – O que está acontecendo?

Na ausência de uma resposta ela pareceu ficar nervosa.

- Minha filha, o que é isso? – ela estava ficando cada vez mais irritada.

- Mãe... – foi só o que consegui resmungar e voltei a chorar.

O Novo InquilinoOnde histórias criam vida. Descubra agora