18. MAÇÃ

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Quando abri meus olhos na manhã seguinte notei que Cristofer não estava mais ao meu lado. O sol invadia o quarto que era muito mais bagunçado na luz do dia. Continuei deitada na cama dele vasculhando o lugar apenas com os olhos. Era muita informação, para não chamar de bagunça. No entanto, não havia muita cor.

Queria ficar enrolada nas suas cobertas por mais tempo, mas a curiosidade era muito forte, então me levantei e andei por seu quarto.

Vi que tinha uma camisa sobre uma cadeira. Não resisti e enfiei o nariz nela inspirando forte para ter para mim o cheiro dele. Com ela ainda na mão, vi que uma porta do armário estava aberta revelando outras roupas, passei a mão nelas que ficaram balançando no cabide. No chão havia uma pilha grande de livros de medicina.

Não havia fotos, não havia nada pessoal, o quarto podia ser de qualquer pessoa.

Senti uma pontada de tristeza, não só o quarto como toda a casa era um reflexo fiel de sua personalidade, ou de um traço de personalidade que ele havia criado. Eu podia ver que em momentos não tão raros ele não parecia um quarto revirado ou uma sala cheia de caixas amontoadas. Queria poder ajudá-lo, mas tinha medo de que ele se sentisse pressionado. Nos últimos dias ele estava tão bem, queria que continuasse assim.

Saí do quarto para ver se ele estava na sala, mas ele não estava por lá também, apenas as mesmas caixas de sempre e seu sofá. Na cozinha, quando me aproximei da mesa, encontrei uma caneca com um saquinho de chá ainda fechado e do lado um bilhete.

Tive que ir cedo para o hospital, não quis te acordar. Tome seu chá. Tem fruta na geladeira.

Cristofer


Olhei para a xícara e sorri. Esquentei a água da chaleira que já estava sobre o fogão e obedeci tomando meu chá enquanto meu olhar vasculhava sua cozinha desta vez. Dentro da geladeira havia mesmo uma quantidade grande de frutas, mas era só. Não tinha mais nada.

Passei em casa apenas para um banho rápido e fui caminhando para a patisserie. Entrei no café, mas não ia ficar lá. Peguei duas madonnas e embrulhei.

- Mada não vem hoje – falei para um dos meninos na cozinha. – Vou fazer uma entrega e volto logo, está bem?

Queria ver Cristofer. A saudade que eu sentia dele parecia doentia, e pensando friamente, era. Se alguém estive fazendo o que eu fazia, diante de mim, eu chamaria de problemático. Mas era meio que automático. Apenas segui meu instinto.

Quando cheguei no hospital, me perguntei umas vinte vezes se não estava ficando maluca. Mas afinal, o que tinha de mal? Peguei meu celular para mandar uma mensagem para ele e avisar que estava lá, mas não precisei. Passei pela cafeteria e o vi. Lindo como sempre. Os cabelos bagunçados daquele jeito que nenhum médico jamais deveria deixar. O uniforme deixava ele ainda mais lindo, os olhos ficavam acesos. Mas meu coração ficou apertado quando ele se levantou ao mesmo tempo que a mulher sentada na mesa com ele e o abraçou muito intimamente.

Meu deus do céu. Minha mente gritou muito alto dentro de mim.

Fiquei cravada no chão como uma estaca. Pude ver que ela estava chorando, e também era médica pelo uniforme igual ao dele.

Eles se separaram, ele disse mais alguma coisa que eu não pude decifrar e então, ela foi embora enquanto ele ficou parado sem se mover.

Cheguei mais perto, enquanto ele ainda estava imóvel.

- Oi – sussurrei.

- Sofia! – ele virou assustado.

Estava com os olhos mais claros que o normal. O nariz vermelho denunciava a vontade de chorar.

O Novo InquilinoOnde histórias criam vida. Descubra agora