3. TORTA DE MORANGO

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- Sofia? - escutei a voz da minha mãe me acordando dos meus pensamentos.

- Hm? – resmunguei ainda voltando pra realidade.

- Você está bem?

- Tô bem. Tô bem... Tava pensando e me distraí. Acho que preciso dormir um pouco.

- Tem certeza?

- Tenho sim. Estou bem.

- Então eu e sua mãe vamos assinar alguns papéis, comer alguma coisa e voltamos logo, tudo bem?

- Claro, vou estar aqui – brinquei.

Depois que todos saíram extasiados do meu quarto eu pude voltar para o presente e colocar as idéias no lugar. Tantas sensações passavam por mim que eu mal conseguia decifrar todas elas. Eu quis chorar, mas não fiz. Sentei na minha cama sentindo que as pernas ainda estavam bambas e tremendo, mas ainda assim, consegui levantar e chegar ao banheiro carregando meu soro e toda minha parafernália médica.

Lembrei da enfermeira me pedindo para evitar levantar, mas eu queria me ver mais uma vez, talvez a última.

Fiquei de frente para o espelho e me deparei com um rosto cansado, os cabelos despenteados, não era um rosto vibrante, corado. Até o verde dos meus olhos pareciam estar desbotados. Eu que sempre fui tão vaidosa mal parecia estar viva. Fiquei triste ao ver aquele reflexo com olhos opacos.

Um medo profundo de nunca mais voltar a ver meu reflexo novamente se apoderou de mim. Olhei fixamente para os meus olhos e explorei cada defeito que eu tinha e tudo o que eu mais gostava em mim. Parecia tudo muito pequeno diante do que estava acontecendo.

E se eu não conseguisse me sair bem como era previsto? A última vez que um médico falou que tudo ia acabar bem eu fui parar numa fila de transplante!

Se qualquer imprevisto viesse a acontecer eu nunca mais passaria por aquele momento novamente. Nunca mais iria ver meu rosto, nem o de ninguém. Eu parecia estar em estado de choque. Tinha uma estranha nostalgia do que poderia vir a não acontecer na minha vida caso eu morresse sem fazer tantas coisas que eu já havia planejado. Eu queria poder me olhar no espelho inúmeras vezes durante a vida, mesmo que algumas vezes (muitas vezes) não gostasse do meu reflexo. Talvez essa fosse a última vez que eu estivesse fazendo isso.

Permaneci parada feito uma estátua dentro de um pijama azul de hospital. Continuei me encarando. Decorei cada detalhe do meu rosto e cada pedaço de mim, como se fosse lembrar de algo se eu morresse.

Foi esse ritual que acabou me fazendo desmoronar derrubando junto uma chuva de lágrimas acompanhada de trovoadas. Chorei de medo, de raiva por ter medo e de raiva de ter raiva de mim mesma. Não é nada fácil enfrentar sua própria imagem aterrorizada diante de você e pensar que esse poderia ser o último vislumbre de si mesmo.

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