17. FLORESTA NEGRA - PARTE III

534 78 8
                                    

Fomos caminhando pela calçada, cada um com sua térmica na mão com o chocolate que eu havia feito para nós dois. Andamos em silêncio lado a lado. Eu queria dar a mão para ele, mas não tive coragem. Me contentei sentindo o cheiro do meu xampu que ele tinha usado de manhã e que agora vinha dos cabelos dele.

Ele reclamou que ficaria gordo comendo como estava comendo depois que me conheceu, e foi só. Quase não trocamos palavras. Até dividir o silêncio com ele era gostoso, longe de ser constrangedor.

Quando chegamos à porta da patisserie, agradeci por ele ter me ajudado.

- Ajuda? – deu aquele sorriso sugestivo mais uma vez.

- Bom, a intenção de me ajudar esteve lá em algum momento.

- Verdade.

- Obrigada por isso.

- Você fica me devendo uma, aeromoça.

- Safado... Tá bom – respondi rindo.

Ele me deu um beijo na testa e se despediu. Continuou seu caminho quando entrei no café.

Madalena veio correndo em minha direção com os olhos arregalados.

- O que foi isso? – quis saber me seguindo até o escritório.

- Madalena... – falei sentando. – Nós ficamos juntos ontem.

- Ai meu Deus. Como foi? Você está bem? Está tudo certo?

- Está tudo ótimo! Perfeitamente ótimo. Mas eu estou com medo.

- Por quê? – perguntou indignada.

- Porque eu não estou acostumada a isso, é diferente de tudo que já senti. Não quero que passe.

- Então não perca tempo pensando nisso, aproveite o momento. E me conte tudo!

- Vou tentar, Mada. E eu vou te contar. Senta aí.

***

Não conseguia tirar os olhos do bolo a caminho da casa dos meus pais. Ele estava viajando de forma segura no banco do passageiro do fusca ao meu lado, devidamente embalado. Apesar de tudo que havia presenciado, Cristofer tinha razão, o bolo estava lindo, modéstia a parte.

Minha mãe morreu de amores por ele no instante em que me viu parada na porta com ele nas mãos. Colocou na mesa principal onde já havia mais guloseimas espalhadas.

- Quero que o bolo seja o centro das atenções! – falou levantando os braços animada, me deixando desconfortável.

Não tinha como eu não me sentir culpada. E só piorou quando cantaram parabéns e minha mãe deu o primeiro pedaço de bolo para o meu pai que se deliciou com a iguaria. Se alguém estivesse analisando meu comportamento estranharia os movimentos involuntários que eu fazia a cada bocada que davam no bolo. Agora todo mundo guardava dentro de si um pouco do que tinha acontecido na noite anterior, ainda que temporariamente.

Um sorriso envergonhado passava pelo meu rosto toda vez que me vinham à cabeça as cenas da noite anterior. Era inevitável. Acompanhando os sorrisinhos bobos também vinham as batidas descompassadas do meu coração, mas era com o que eu já havia aprendido a viver.

- O que é isso, hein, Sofia? – minha mãe cochichou ao passar por mim.

- De onde você veio, mãe? Não vi você chegar – falei rindo nervosa.

- Eu estou há algum tempo observando você. Onde você está?

- Estou aqui.

- Fala como se eu não conhecesse minha cria.

O Novo InquilinoOnde histórias criam vida. Descubra agora