Capítulo 3

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O enfermeiro que ainda não descobri o nome ficou comigo até que eu caísse no sono, quando acordei já não o vi mais. Recebi alta minutos depois de ter acordado, o médico passou alguns remédios para a dor de cabeça que possivelmente eu teria. Voltei para casa de táxi, já que meu tio estava ocupado com seus afazeres.
Margot está me sufocando a cada hora, sempre fazendo a pior pergunta do mundo "Esta tudo bem Celeste?". Eu não sei o que foi feito de Celeste, já que ultimamente eu estou perdida, chorando pelos cantos. Ainda não fui visitar a empresa, resta poucos meses para meu aniversário de 18 anos e terei de administrar o grande império da Mayers, são vários setores na qual serei dona única, pelo fato dos meus pais também serem seus próprios sócios, sou a única herdeira de ambas as partes. Grande responsabilidade, grande peso nas costas. Não sei como farei para dar conta de tudo e não pirar.
Como ainda não terminei o ensino médio, pedi para Margot ligar para a escola e dizer que voltarei na próxima segunda, já que hoje é quinta irei aproveitar para resolver algumas pendências. Margot não entende de administração de empresas, então pedi para meu tio marcar uma visita à empresa no sábado às 09:00am, assim poderei conhecer a empresa e as pessoas que trabalham nela. Não posso fugir de minhas obrigações e agora estou determinada a seguir em frente e tomar conta do que é meu por direito.
  Levanto da cama e vou para o banheiro, faço minha higiene e tomo um banho rápido. Saio do banheiro e coloco uma calça jeans, uma blusa simples azul e sapatilha, desço para tomar café da manhã e me surpreende ver meu primo sentado no sofá da sala.
-Bom dia Peet, estava com saudades, você me abandonou quando precisei de ti, traidor. -Digo correndo para seus braços. Ele retribui o abraço me apertando e depositando um beijo no topo de minha cabeça.
-Desculpe pequena, passei por alguns problemas e tive de ir para Manhattan, minha mãe estava doente. Sinto muito não estar aqui. -Peter responde, me soltando. - Mas agora estou aqui e vim para ficar aqui do lado dessa chata.
-Heeyy, eu não sou chata. - Digo socando seu braço. -Venha, vamos tomar café pois estou com um javali no estômago!
Seguimos para a sala de jantar, me adimiro todos os dias com tanta variedade de comida que eles colocam nessa mesa, até parece que consigo comer isso tudo.
-Tenho que brigar com Salma de novo, ela não deve entender que eu não sou um batalhão do exército, olha esse tanto de comida, é desperdício!
-Calma Celeste, sabe como era quando seus pais estavam aqui, eles xingavam até a última geração desses empregados: "Esses incompetentes não seguem minhas ordens! Quem dera pudesse botar todos na rua!". -
Abaixo minha cabeça, me sentindo ruim, não sei exatamente se pelo modo que eles tratavam os empregados ou pela falta dos meus pais.
-Hey pequena não fica assim, estou aqui. -Peter me abraça novamente, dessa vez ficamos assim por algum tempo, não queria sair daqui nunca.
-Agora vamos matar esse javali e vamos sair, quero te levar em um lugar, garanto que você vai se apaixonar! -Ele diz, se afastando e sentando em uma cadeira qualquer, me sento de frente para ele. Pego torradas com geléia e coloco suco em meu copo. Olho para frente e começo a rir com a cena. Peter está com o nariz todo melado de geléia e com as mãos sujas tentando botar um pedaço de torrada na boca. Minha gargalhada preenche todo o ambiente e posso ver a cara zangada de Peet. Paro de rir quando sinto um pão todo melecado voar diretamente para meu rosto. Então inicia-se uma guerra de comida e geléia, a mesa branca ficou vermelha, devido à geléia de morango. Comida voando para todo lado e vejo alguns empregados correndo, Margot e Salma estão entre eles gritando e pedindo para parar. Olho bem para Peet e ele sabe o que isso significa. Pegamos mais comida e começamos a jogar nos empregados, que gritam e então começa uma guerra maior. Vejo Margot se descabelar e começo a rir. A sala de jantar está uma bagunça enorme e me deito no chão, Peter está ao meu lado, rindo. Quando abro os olhos me assusta a imagem. Margot, Salma, Grace e Christofer o motorista, todos sujos e com expressões de fúria no olhar, então eu sorrio e eles também não aguentam, me dando sorrisos lindos.
-Sabe vocês deveriam ser mais tranquilos, parecem velhos! -Digo.
-É por que somos velhos Celeste. Agora olha a bagunça que está aqui! Se Dona Stella estivesse aqui estaríamos no olho da rua. -Grace diz.
-Acontece que ela não está mais aqui Grace! -Digo seca e rude. Então todos me olham, talvez assustados pela minha atitude, um silêncio estranho se instala ali, saio de lá correndo e subo pro meu quarto, ouvindo a voz de Peter chamando meu nome. Vou diretamente para o banheiro e entro com toda a roupa de baixo do chuveiro, a tirando aos poucos. Não sei quanto tempo fiquei lá, mas chorei muito. Grace não tem culpa, e apesar de tudo, sei que ela sempre quis ser amiga de minha mãe, porém Dona Stella a odiava, nunca entendi o porquê. Muitas vezes Grace não foi despedida por minha causa, nunca deixei que isso acontecesse pois acho que sou a única que enfrentava sem medo a temida Dona Stella. Minha mãe não era um monstro. As vezes só tratava as pessoas com arrogância, ela tinha seus problemas e era muito estressada, porém, bondosa com todos ao redor, claro, as vezes ela enfurecida, maltratava todos, mas tinha um bom coração. Após o banho me visto com um pijama mesmo e saio do quarto. Não sei para aonde Peter foi e sinceramente não me preocupo com isso agora. Saio do quarto e sigo em direção ao quarto dos meus pais, paro na porta, exito um pouco, com medo de entrar. Coloco a mão na maçaneta e a giro, abrindo a grande porta. O quarto permanece exatamente do jeito que deixaram, não permiti que arrumassem. Pois sempre era assim quando eles viajavam, eu deixava do jeito que estava até no dia que eles chegavam, dai eu permitia que arrumassem. E agora o quarto deles ficará para sempre assim. Com o roupão de seda vermelha de mamãe jogado na poltrona branca, os sapatos de papai aos pés da cama, a porta do closet aberta com algumas roupas no chão do mesmo. O perfume de Stella ainda sobre a penteadeira bagunçada e as maquiagens esparramadas. Ficará assim. Ainda posso sentir o cheiro do perfume deles. O quarto é muito luxuoso, mas simples. A cama é king size, totalmente confortável, as paredes de um salmão clarinho, o papel de parede vai até na altura da cintura, nas cores branco e salmão escuro intercaladas. Mamãe adorava salmão, e confesso que aderi ao gosto também. Me sento no chão do quarto com as costas na parede. Não choro, apenas sinto a presença deles ali, junto à mim. Adormeço.
Acordo e ainda é dia. Me levanto e vejo que estou na minha cama. Me levanto e sigo para o banheiro, jogo uma água no rosto e desço novamente. Olho no celular que marca 14:26 pm, estou com fome então sigo para a cozinha e pego uma maçã, vou para o jardim a ao longe vejo as costas másculas de Peet a beira da piscina. Sigo silenciosamente e quando estou perto o jogo dentro de piscina, gargalhando em seguida. Peter aproveita e dá um mergulho, voltando para a superfície logo em seguida.
-Baixinha atrevida. Eu poderia ter me afogado se eu não fosse um excelente nadador. -Ele diz se gabando.
-Nossa, acho que me apaixonei, sempre quis namorar um nadador profissional. -Digo rindo de seu ego.
-Já que a donzela estava dormindo, eu preferi descansar um pouco, afinal vamos sair daqui a pouco. Melhor você se preparar gatinha. -Peet diz, então retiro meu pijama, ficando de top e cueca feminina, entrando na água. Não tenho vergonha de Peter, afinal crescemos juntos e somos como irmãos. Mergulho e volto para pegar ar, Peet joga água em mim, e então se inicia outra guerra, agora de água. Depois de brincarmos na piscina e correr feito duas crianças no jardim, nós entramos e nos arrumamos para sair.

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