Capítulo 11 -Parte 2 Dean.

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  Desde que cheguei a NY minha mãe ficou me torrando a paciência, pois escolhi morar com meu pai para fazer a faculdade de medicina, depois que terminei entrei no programa de alistamento para o Médicos sem Fronteiras da África, fui convocado e passei dois anos lá. Depois que cheguei da África passei alguns meses tentando buscar serviço em Los Angeles e decidi me mudar, a propósito foi no MsF que conheci a Beatrice, e foi com ela que fiz minha especialização em Hematologia, decidi essa especialidade pois vi muitas crianças anêmicas e com problemas sérios no sangue, dos quais a maioria delas morreram.
  Procurei a faculdade da cidade em busca de outra especialização, lá conheci uma galera até legal, saímos para festas durante a semana e fui convidado para uma festa da fraternidade hoje.
  Tomo meu banho tranquilamente e saio do banheiro. Pego uma jeans preta e blusa branca, uma jaqueta também preta, ainda estou na casa de minha mãe, mas meu apartamento já foi comprado e mobiliado, estou esperando apenas mais alguns detalhes do contrato, mas as chaves estão comigo. Pego as chaves na cômoda do quarto e saio de casa.
*
Estou começando a ficar bêbado, pois vejo aquela baixinha irritante do outro dia dançando na pista, então balanço a cabeça e ela some. Por incrível que pareça ela deixou algo na minha cabeça.
Só se for uma tremenda dor, fala sério Dean, que gay!
Infelizmente a tal consciência me atormenta, isso costuma acontecer algumas vezes mas agora é frequente. E como sempre, eu ignoro. Sigo para o bar, preciso beber.
- Whisky por favor. - O barman pega um copo e o enche com o liquido amarelado. Agradeço com um aceno e pego o copo. Tomo metade do líquido em um gole e com toda a certeza essa foi a bebida mais forte que já tomei, pois o efeito é rápido. A baixinha que vi aquele dia aparece em todos os cantos agora? Será que ela é gêmea? Que merda eu to pensando, ela ta batendo na cara de uma loira e eu não to fazendo nada? Uma aglomerado de pessoas se formam à nossa volta, tento entender o que está acontecendo, a baixinha bate tanto na loira que me assusta. Me levanto da cadeira para afastar as duas, mas sou engolido pelo povo. Me afasto e deixo as pessoas as separarem. Saio de perto de todo mundo, será que ela se machucou? Ahh, por que é que eu me importo? Com toda a certeza ela me odeia, pelo jeito que me tratou. Garota maldita! Aquele olhar.
Pare Bennett, não ouse!
É verdade, não posso pensar nisso.
Me afasto da festa em si, indo para um jardim separado, então me escoro em um poste apagado, e fico aqui. Por que essa coisa sem tamanho tinha de aparecer? E ela ainda é capaz de perguntar "Está me seguindo?" Aahh, aquela vozinha irritante, tudo nela é irritante. Porra, sai da minha cabeça! Tenho que focar agora em procurar um emprego, montar a minha vida.
  Minha atenção é dispersada pelo rangido da porteira sendo aberta, e agora tenho certeza de que alguém está me pregando uma peça. A baixinha entra no jardim e logo se senta no banco, ela parece querer chorar, mas não chora, fica ali refletindo, então ela se deita. Eu penso algo, e me seguro para não falar. Meu instinto diz para ficar calado, mas a minha consciência... Ahh, eu preciso segurar. Segura, não fala. Então olho para ela, e posso pela primeira vez perceber o seu corpo, seu rosto. De lado, vejo seus olhos brilharem, marejados.
-Olha, que você era mimada eu sabia, agora lutadora clandestina é novidade. -Merda. Vejo ela se assustar, mas tão rápido que me pergunto se realmente aconteceu.
- Só acho que a vida é minha, e o que eu faço dela não te diz respeito. - Sua voz é incrivelmente calma. Ui, doeu.
- Só queria chamar sua atenção. Você parece...irritada. - Digo, saindo do escuro e me aproximando dela, que  continua deitada.
- Um pouco. Estou passando mal e estou bêbada. - Ela diz, seu tom de voz entrega seu desinteresse.
- O que está sentindo? - Urgh, minha voz sai tão preocupada.
- Aquela loira estranha deu uma joelhada no meu estômago, e me deixou careca. Estou careca não estou? - Ela pergunta, passando as mãos no cabelo, o que me faz rir. -Seu idiota pare de rir. Meu couro cabeludo dói. - Agora, ela faz biquinho.
- Você tem muito cabelo ai, poderia ser confundida com um poodle, se juntar o seu tamanho e essa cabeleira. -Digo, sorrindo. Recebo um soco no braço.
- Como ousa me chamar de cadela seu estranho! Eu posso te bater também.
- Pode é? -Digo zombando, outro soco. - Posso.
- Hum, mas está doendo muito?
- Vou ficar bem. - E então um silêncio. Não sei quanto tempo ficamos assim, então fico cansado de ficar em pé.
- Posso me sentar? - Pergunto, pois ela ainda está deitada.
- Não, o banco está ocupado.
- Poxa, quanta maldade a sua!
- Quanta chantice a sua! - Ela diz se levantando. Mas não me sento.
- Qual é? Você me faz sentar e vai ficar ai? - Ela me olha irritada.
- Não te obriguei a nada. - Levanto as sombrancelhas.
- Argh! Eu te odeio, saia daqui seu idiota! - Ela tira um sapato e joga em mim, desvio. Sorrio e me sento ao seu lado, a olhando.
- Vai ficar me olhando como se eu fosse uma exposição de museu? - Um olhar esnobe.
- Pensei que não fosse proibido te olhar, não precisa chamar seus seguranças. - Ela revira os olhos, eu odeio que façam isso.
- Eu não tenho seguranças. Olha só, vá catar suas negas vá, me deixe em paz!
- Adoro as negas, pele morena, boca boa de beijar, cabelos negros e os cachos perfeitos, corpo definido e bem delineado, gostoso, e... - Ela se levanta com raiva, me fazendo parar de falar, ela torce um pé, caindo pois está sem um salto, solta um grito, acho que de dor. Me levanto rapidamente e chego perto.
- Saia da minha frente! - Ela grita, mas choraminga com as mãos em volta do pé torcido, me agacho e a pego nos braços. - Me solta seu inútil, me solta agora! - Ela me bate e chuta o ar.
- Fica quieta, vai doer mais se você se mexer! - Digo calmo, então deito ela no banco. Ela fica me xingando e dizendo o quanto sou um idiota e blá blá blá enquanto olho seu pé direito, no qual ela conseguiu torcer. Ela é realmente muito desastrada, como pode? Isso me irrita um pouco, me incomoda, não sei. Será que ela consegue passar um dia sequer sem quebrar algo, cair, tropeçar ou sei lá o que mais? Balanço a cabeça. Toco o seu pé e ouço seu gemido de dor, a temperatura aumentou devido a torção e ao fluxo de sangue no local, mas o que me chama a atenção é a vermelhidão, não deveria ficar tão vermelho imediatamente, a não ser que... não, isso não é possível.
- Consegue mexer o pé? -Pergunto e olho para ela, sua expressão é de dor, vejo uma lágrima escorrendo pela lateral do seu rosto, e isso me dói. Então olho para seu pé, os dedos mexem, então alguns segundos depois ela mexe o pé de um lado para o outro, lentamente. Ótimo, ao menos não quebrou. Porém, o seu pé fica mais vermelho, em algumas regiões roxo.
- Isso sempre acontece? - Pergunto.
- Eu ser sempre desastrada e cair? Todos os dias. - Ela ri, mas sem humor.
- Disso eu já sabia, digo a vermelhidão e o roxo imediato.
- Apenas quando me machuco de verdade, quando caio e bato alguma parte do corpo, é quase imediato. Mas sou muito branca, então nunca me preocupei.
- Certo. Tudo bem, foi só uma torção. - Digo, talvez preocupado. - Mas evite cair, pelo visto isso acontece com frequência, preste mais atenção onde anda, seja menos voada, uma dessas quedas pode te quebrar.
- Não sou de porcelana. - Ela se senta, irritada.
- Não é o que parece. Branquela. - Fico de pé, rindo.
- Seu idiota, como pode falar assim comigo em? Eu não te dei liberdade, não mesmo. Não vá achando que você pode chegar aqui e mandar em mim.
- Você ta vermelha, tem se estressado muito? - Sua raiva aumenta e ela fica de pé, então ela pula de um pé só até mim.
- Seu insolente cara-de-pau, você é uma pessoa horrível. Você é a pior raça que se possa existir e eu..eu.. Eu te odeio! Saia da minha frente! - Ela diz batendo no meu peito. - Idiota, idiota, idiota! Eu te odeio. - Seguro os seus ombros, mas ela continua me xingando de idiota, então num gesto rápido seguro suas duas mãos e colo meus lábios nos dela, um selinho rápido. Agora ela me olha assustada.
- Argh, você me beijou? Que nojo. Eu te odeio, te odeio! - Ela soca meu peito. Eu rio com a cena: ela está apoiada mais em mim do que nela mesma, seu rosto tão vermelho quanto sangue. Então começo a gargalhar. Quando paro de rir, olho para ela, e surpreendente um tapa voa até meu rosto. Agora ouço o som de sua risada.
- Garota mimada e abusada. - Sem ver as palavras saem. Merda de novo.
- Como é que é? Mimada é sua mãe!
- Com toda a certeza isso é verdade.
- Argh! Seu metido infantil, você deveria sum...- Não deixo ela terminar, e de novo beijo sua boca. Após algum tempo ela para de resistir me batendo e me beija. Os lábios são macios, delicados. Passo meus braços ao redor de sua cintura, carregando ela até ficarmos corpo a corpo. Suas mãos estão no meu cabelo. Santo Deus que merda eu to fazendo? Separo nossas bocas, merda! Olho para ela, e não sei decifrar a expressão do seu rosto. Ainda estamos colados um ao outro e eu realmente não sei o que fazer. Ela simplesmente abaixa a cabeça, incrivelmente a colocando no meu peito. Isso é estranho, completamente estranho. E eu, não sei o porquê, mas a pego no colo e me sento no banco, e ficamos assim, em silêncio. Eu não sei o motivo, mas ouço ela chorar.
- Hey, o que foi? Eu, hum, te machuquei ou sei lá, você era BV? - Indago, estou preocupado de novo. Que droga, será que eu machuquei ela, ou ela não gostou, ou sei lá, ela é mulher certo? Quem é que entende? Sua cabeça balança, negativo. Uffa. Mas espera, se não é isso, então o que seria?
- Você...quer conversar? - Outro aceno negativo. - Tudo bem, está tudo bem. -Ficamos ali, eu não sei por quanto tempo ficamos assim, ouço apenas o barulho da música que toca ao longe, alguns das árvores e os soluços dela, que se aconchegou nos meus braços toda entrelaçada à mim, então a deixo ali. Depois de um tempo o choro cessa, sua respiração fica tranquila, então acho que podemos conversar agora.
- Hey. - Digo. Nenhuma resposta.
- Hey, baixinha irritante? - Pergunto, essa com toda a certeza ela vai responder. Mas ela não se mexe, muito menos me responde. Então eu só penso uma coisa.
MERDA!

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