Já era noite e mais uma vez eu não o via, não como antes. A presença dele me instigava, o coração sempre acelerava e me perguntava se tudo não havia sido um sonho. Das poucas vezes em que me visitara, fora frio e me ignorava, mesmo com o olhar distante eu sentia o seu medo. Não sabia o que estava acontecendo, mas fiquei perdida. Dean simplesmente se afastou, e eu sabia que era ele quem me visitava durante as noites, quem me beijou na madrugada da minha quase morte, e por alguns segundos, eu pensei que ele tentara me matar, talvez esse foi o motivo do seu repentino distanciamento.
Ele não veio hoje, mas aquele enfermeiro bonitão daquela vez, naquele hospital, lembram? Foi ele quem veio, e se demostrou preocupado comigo, me senti menos triste na presença dele. Nem mesmo Peter tem me visitado, e talvez eu deveria ter morrido, de verdade. Dessa vez o "milagre" não foi muito bem recebido, o "milagre" foi uma desgraça.
Meus dias aqui são tão monótonos, entediantes. O tempo não passa, e eu apenas fico olhando para o teto enquanto eu o espero acelerar. É simplesmente ridículo, o fato de evitar pensar, pois mesmo com tantas coisas meus pensamentos são direcionados à ele. Urgh! Que ódio. Seria muito fácil tirar ele da minha cabeça, do meu caminho, ou simplesmente da minha vida, se ele não tivesse entrado neles.
Eu me lembro perfeitamente do que senti e ouvi durante o coma, me lembro do beijo e das suas súplicas para que eu voltasse logo.
Dois meses e 15 dias, é o tempo exato em que estou na mesma cama, mesmo quarto, mesma situação e mesmo hospital. Há 7 dias eu acordei, e eu não sei se deveria estar aqui. Crises existenciais são comuns, e temo que possa estar com depressão. Ansiedade foi comprovada, pelo menos passo 16 horas esperando que ele chegue aqui e diga que está tudo bem, mas tudo o que faz é falar sobre exames, sobre meu estado e tudo o mais, e tudo o que faço é balançar as pernas freneticamente, comer as unhas, e ficar procurando outras coisas mais. Claro, ele está sendo profissional e talvez ele não saiba o quão envolvida estou, sei lá, me perdi no tempo.
A porta se abre, e ele entra. Dentro do seu jaleco branco impecável, os cabelos louros tão brilhantes quanto a luz; ele está tão inalcançável que me sinto diminuta. Ele está tão alheio a mim que se quer diz "Boa noite" ou olha na minha direção. Me encolho na cama.
- É só uma verificação rápida, não precisa se incomodar. - É o que ele diz, todos os dias.
- De qualquer forma, não faz diferença. - Digo com desdém na voz, vendo ele analisar os irritantes aparelhos sem ao menos menear a cabeça. Ele anota coisas na sua prancheta e volta e meia coloca a caneta na boca, o que de fato, tira a minha concentração. Decido parar de olhar, talvez assim eu consiga pensar direito. Estico as pernas e deito na cama novamente, se ele não liga pra mim, então não devo ligar pra ele.
- Parece que está tudo ok, amanhã volto para avaliar seu estado novamente, boa noite. -Diz simplesmente, e já sai abrindo a porta. Não me dou ao trabalho de responder, afinal eu preciso? Devo parar com isso, tenho certeza de que o que aconteceu é só coisa da minha cabeça, então tenho o dever de acabar com isso.
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Celeste
Teen FictionE se a vida lhe apunhalar por todas as direções? E se ela lhe derrubar e te machucar ao ponto de você não se levantar? Essas foram as 2 perguntas que me fiz durante algum tempo, até eu mesma sofrer as apunhaladas e me machucar. Talvez o empurrã...