Era escuro, não tinha começo ou fim. Não havia nada, era apenas eu vagando naquele espaço horrível e sem um mínimo sinal de que outra coisa existia ali. Eu caía numa baixa velocidade, aquilo era angustiante, me deixava doida. Comecei a pirar em poucos segundos. O medo era maior do que qualquer outra coisa. Então de repente caí em um campo, com gramíneas bem verdes e lindas flores; um rio ao fundo e um cachoeira muito linda ao seu final. Segui em direção ao rio, queria ver minha aparência.
Já perto do rio, surgiu uma estrada, era simples e me oferecia conforto. Segui a estrada, por um tempo indeterminado. Já estava cansada e queria parar de andar, mas logo à frente eu via novamente o rio, e cruzando ele uma ponte.
De repente, uma vontade insana me invadiu, eu queria atravessar a ponte. Eu queria muito. Corri até o seu começo, podia ver meus pais do outro lado, minha cadela Pipoca que morreu há um certo tempo. E então eu entendi, a ponte era a travessia para o outro lado. Eu ainda sentia vontade de atravessar, mas agora que eu sabia o que iria acontecer comigo, eu reprimia a vontade em mim. Me afastei, correndo o máximo que podia. Passei algum tempo vagando naquele lugar tanto quanto estranho, mas sua calmaria era reconfortante, seu silêncio. Eu queria ficar ali.
Senti algo ser arrancado de mim, e sem olhar para trás eu corri. Eu corria, mas não saía do lugar, senti meu corpo ser arremessado para longe, me choquei contra algo duro. Eu estava apanhando de alguém, mas não sentia dor alguma.
Olhava desesperada para todos os lados, e quando me virei para olhar para trás, algo me atingiu a cabeça, e eu adormecera.*****
Eu não ouvia mais os bipes, mas sentia meu sangue fluir, não sentia dor alguma, tudo estava dormente. Deixei meus olhos fechados, aproveitando a sensação do ar em meus pulmões, sentindo minhas células trabalhando como máquinas, eu sentia o coração bombear o sangue, e o sentia percorrendo cada veia e artéria do meu corpo.
Estou viva. Eu estou viva.
Abro os olhos, semi-cerrados, se acostumando com o ambiente muito iluminado. Encaro o teto branco, sentindo cheiro de álcool com desinfetante de lavanda.
Olho para os lados, os aparelhos desligados e uma certa bagunça no quarto. Uma prancheta na mesinha me chama atenção. Me estico o máximo que posso para ver o que está escrito.
Haviam muitas coisas escritas, mas haviam palavras detalhadas, me esforcei para ler.
Paciente Melanie Mayers Walker.
Horário de óbito: 02:57 am.
Assinatura do responsável pelo corpo:
__________________________________
Médico responsável:
___________________________________
Causa da morte:
____________________________________________________________________________________________________________________________________________Meu Deus! Eu sou uma alma penada!! Eu vou pro inferno! Isso não pode estar acontecendo. Tento mexer os meus membros, estão dormentes mas todos se mexem normalmente. Estranho. Com um pouco de dificuldade me sento na cama, há um botão vermelho na parede com a descrição "Em caso de emergência" sorrio, será que acordar morta é uma emergência? Não custa nada tentar não é mesmo?
Aperto o botão, e uma leve campainha soa no quarto, e posso ouvir a que tocou do lado de fora do quarto. Eu estou viva, viva mesmo!
Em poucos minutos a porta se abre, e uma enfermeira completamente pálida adentra o quarto. Tento dizer "Oi" mas nenhum som sai.
- Santo Deus! - A enfermeira diz, e simplesmente sai do quarto, correndo e gritando coisas ininteligíveis. Minutos depois um grupo de pessoas chegam e cercam o quarto, todos parecem impressionados, me assustando. Olho para todos, que dizem coisas que me bagunçam a mente. Não consigo destinguir a fala de nenhum deles, mas vejo que festejam e sacodem muito as mãos. Parecem abobalhados. Nenhum rosto me parece familiar, mas todos parecem me conhecer. Alguns até mesmo me abraçam e falam coisas para mim, coisas que não consigo ouvir. Então balanço a cabeça negando, começando a doer, e agora sinto algumas lágrimas no rosto.
Eu tento falar, mas nada sai. Me esforço muito, e ouço um grunhido estranho.
Fico assim por bastante tempo, infelizmente não posso ouvir o que falam. As pessoas estão fazendo rodízio para virem até mim.
Uma sensação de conforto me atinge, me acalma. E uma força surge dentro de mim. Então ouço eles, todos eles de uma vez. É completamente insano. Balanço a cabeça e um grito agudo escapa por meus lábios. Um silêncio invade o quarto.
- Ela precisa descansar, saiam todos! - Uma voz feminina diz. E quando bastante gente já foi embora, consigo ouvir com mais clareza a voz da simpática mulher, que agora conecta alguns aparelhos em mim.
- Está sentindo alguma coisa? -Ela diz, então tento falar novamente. Apenas um grunhido. Sinto uma energia me invadir, me trazendo paz.
- E.eu e.e.stou be.e.em. -Digo com dificuldade, sentindo minha garganta doer pelo esforço feito.
- Ótimo querida, se deite e descanse ok? Ficarei por aqui para que não corra qualquer risco, tudo bem? -Balanço a cabeça positivamente, triste agora, pois não sinto mais a calmaria que me invadiu momentos atrás.
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Celeste
Teen FictionE se a vida lhe apunhalar por todas as direções? E se ela lhe derrubar e te machucar ao ponto de você não se levantar? Essas foram as 2 perguntas que me fiz durante algum tempo, até eu mesma sofrer as apunhaladas e me machucar. Talvez o empurrã...