Olho as ruas do bairro nobre totalmente perdido, paro em frente um restaurante olhando a faixada vermelha e preta. Adentro o ambiente sentindo o aroma da comida, meu estômago automaticamente ronca, o que me faz querer sentir o gosto do alimento que está sendo preparado. Me sento em uma mesa perto da janela, onde eu possa observar o bairro onde vou morar agora. Uma senhora para ao lado da mesa.
-Bom dia senhor, o que vai querer?
-Bom dia, traga essa comida deliciosa que está cheirando tanto, por favor. -Peço. A senhora anota o pedido e sai, observo o movimento da rua e uma garota me chama a atenção. Ela está com um vestido preto e de sapatos também pretos, não consigo olhar para o rosto nitidamente. Ela anda calmamente pela rua, olhando para o chão, fico a observando andar até que a senhora chega colocando um prato e talheres na mesa, ela sorri e sai novamente. Olho para a rua onde a garota estava e não a encontro, procuro por todos os lados e eu não faço a mínima idéia do porque eu estou fazendo isso, realmente é loucura. A senhora aparece com a comida agora em uma pequena panela cheia de comida, um barulho vindo da porta do restaurante me chama a atenção, então uma figura de pele branca, vestido e sapatilhas pretos, cabelos castanhos claros e olhos azuis adentra o ambiente. Toda a minha atenção é voltada para ela, que olha para o chão mas escolhe uma mesa qualquer mais ao fundo do restaurante. Sinto uma mão repousar no meu ombro e então saio do meu transe momentâneo.
- Senhor, está tudo bem? -A voz da simpática senhora está em um tom de preocupação.
- Ah está sim, só me desliguei do mundo por alguns segundos, deve ser a fome. -Digo sorrindo para ela, rindo também.
- Tenha um bom apetite. -Ela diz e sai.
Me sirvo com a comida e quando coloco a primeira garfada na boca me sinto no paraíso. Aquilo era sensacional, perfeitamente perfeito, os temperos, as combinações de sabores. Não sei se era a minha fome ou a comida, mas me obriguei a pedir uma porção menor do mesmo prato, pedi também uma porção para levar para minha mãe. Após pagar tudo olho para a direção da garota e vejo que seu corpo está sendo balançado levemente. Suas mãos estão no rosto, apoiadas pelos cotovelos que provavelmente estão nos joelhos, ela parece estar chorando. Olho novamente para a atendente do caixa.
- Vocês servem alguma sobremesa de chocolate? -Pergunto.
- Claro, temos Brownie, tortas diversas e chocolate quente. -Ela responde.
- Teria torta belga de chocolate?
- Sim, o senhor vai querer?
- 2 fatias por favor. -Peço e a moça sai rapidamente para levar o pedido à cozinha. Espero na bancada mesmo, não demora muito e a atendente volta com os dois pratos e talheres, já pago e pego os pratos. Caminho calmamente até a mesa da garota e me sento no banco de frente para o dela, coloco os pratos na mesa e a olho, ela por alguns segundos para de se mexer e os ruídos de choro também cessam. Arrasto um prato para perto dela e começo a comer minha torta que não me surpreende ser uma delícia. O choro da garota não volta e não faço a mínima idéia do que se passa na cabeça dela.
- Sinceramente, você deveria comer isso, está um delícia. - Digo, fazendo um barulho engraçado quando coloco mais uma garfada da torta na boca. Olho novamente para a garota, aparentemente do mesmo jeito.
- Saia daqui. - A sua voz rouca e tremida dá a ordem.
- Nunca recebi um agradecimento tão grosseiro após pagar uma torta maravilhosa à alguém assim, senhorita. -Digo com tom de ironia.
- Eu não pedi nada à você, então saia daqui, por favor.
- Olha só, estamos evoluindo. Então, vou me apresentar, meu nome é Dean Bennett, sou médico recém formado e especializado, tenho 26 anos e acabo de chegar à Nova York. - Digo, tentando começar uma conversa.
- Eu sou uma desconhecida que quer que você vá embora. -Ela diz, agora o tom de voz está firme.
- Ok, me desculpe. - Digo terminando a torta e me levantando. Saio da mesa e quando dou alguns passos me viro para trás. - A propósito, de nada pela torta, vê se não joga fora porque não tem nada além de chocolate e alguma coisa muito gostosa ai, se tiver dúvidas pergunte a garçonete. Tenha um bom dia. -Digo e saio do restaurante, olho para as ruas e não faço a mínima idéia do que fazer, minha mãe deveria ter me mandado a localização do prédio onde mora mas ela prefere dificultar as coisas pra mim. Começo a andar procurando o edifício de nome Masterpiece, vai ser muito difícil achar isso por aqui visto que têm tantos prédios na região. Quando decidi me mudar para NY, imaginei que minha mãe iria me buscar no aeroporto, infelizmente nós brigamos mês passado e ela está fazendo birra, tudo isso porque cancelei o casamento com minha ex-noiva Beatrice, descobri que ela não é só louca como também muito possessiva. Ela colocou câmeras no meu apartamento, no meu trabalho e até mesmo na minha sala da faculdade, ainda por cima descobri que para conseguir me vigiar 24 horas por dia ela subornava os seguranças e administradores do meu prédio, da faculdade e da clínica com "presentinhos" nas noites de domingo, onde a mesma falava que estaria na igreja. Isso realmente se chama doença mental, não acredito que iria me casar com ela, coitados dos meus futuros filhos, ainda bem que os salvei. Andei dois quarteirões e sinto uma falta avassaladora do meu carro, não que eu seja um sedentário pois corro todas as manhãs, mas andar por todo esse enorme bairro a pé vai ser difícil. Entro em um estabelecimento e pergunto para o atendente se ele sabe onde fica o tal prédio e até que enfim eu fico sabendo graças à explicação do rapaz. Agradeço e saio. Terei que voltar para a avenida do restaurante e seguir reto até chegar a um parque, então o edifício estará à minha direita. Faço o caminho de volta até o restaurante, paro em frente ao mesmo procurando o ponto de referência que o meu informante falou, estou quase saindo da porta do restaurante quando uma pessoa se esbarra em mim e cai para trás. Olho para a pessoa no chão e me surpreendo ao ver a mesma garota de minutos atrás. Ela se levanta e limpa o vestido que se destaca na pele branca dela. Seus olhos se encontram aos meus e nos olhamos por alguns segundos.
- Você...deveria olhar para onde anda.
- E você deveria levantar as pessoas que joga no chão. - Ela devolve a ofensa.
- Não fui eu que te derrubei não, estava parado e você fez todo o trabalho sozinha. -Digo levantando as sombrancelhas.
- Claro, foi eu que não sabia que teria um muro humano parado na entrada e saída de um restaurante. -Ela diz sarcástica.
- Ah que seja, tenha um bom dia, novamente.
- Um ótimo dia.
Sigo meu caminho e ouço os seus passos atrás de mim. Continuo andando porém as vezes olho por cima do ombro quando a garora esbarra em outras pessoas, eu rio com seu jeito todo desengonçado e desastrado. Ela cai pelo menos duas vezes até que eu vejo o parque, ela atravessa a avenida e entra em um edifício enorme e muito sofisticado. Olho para o parque e olho para o edifício. Não vejo nenhum outro edifício à minha direita e o nome do mesmo está tão minúsculo que não consigo enxergar. Atravesso a avenida e quando chego a calçada leio o nome Masterpiece em letras garrafais prata. Só pode ser brincadeira comigo. Sigo para a portaria e ao adentrar o hall vejo algumas pessoas de preto conversando. Será que é algum tipo de edifício dominado por um grupo de pessoas totalmente estranhas e será que minha mãe faz parte desse grupo?
- Olá, em que posso ajudar? -Um recepcionista me pergunta.
- Ah sim, sou filho da moradora Grace Bennett Johnson, poderia me dizer em qual andar e apartamento ela mora? -Pergunto lhe mostrando minha identificação.
- Certo. Só um minuto. -Ele pega um telefone e têm uma conversa breve com a outra pessoa. - Sua mãe o espera no 23° andar, apartamento 134, tenha um bom dia.
- Obrigado, ótimo serviço. -Digo e sigo para o elevador, onde a garota também o espera. Olho para o lado e vejo um salão enorme, muitas pessoas vestidas de preto e ao longe vejo um espaço vazio, como estou sem os óculos não consigo distinguir as duas coisas que estão no espaço vazio. Muitas flores estão no lugar e garçons correm para todo o lado, servindo as pessoas. Deve ser algum tipo de confraternização estranha. Olho de canto de olho para a garota, ela tem os braços cruzados, então a olho de verdade. Nesse momento ela me olha e bufa.
- Está me seguindo?
- Não. Estou indo para o meu apartamento, ou você acha que o mundo gira entorno do seu umbigo rico? -Digo grosso. Ela então se cala e abaixa a cabeça, o elevador chega e entro no mesmo, ela entra também mas quando o elevador começa a fechar as portas ela sai correndo, na sua "fuga" ela deixa cair uma correntinha dourada. Me agacho e pego o objeto brilhante, um pingente em formato de estrela me chama a atenção, no verso da mesma as letras MM estão no meio, na ponta direita um J e na esquerda um S. A porta começa a se fechar e olho para a corrente, olho para fora e não vejo mais a silhueta da garota, então guardo a corrente no bolso da jaqueta.
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Celeste
Teen FictionE se a vida lhe apunhalar por todas as direções? E se ela lhe derrubar e te machucar ao ponto de você não se levantar? Essas foram as 2 perguntas que me fiz durante algum tempo, até eu mesma sofrer as apunhaladas e me machucar. Talvez o empurrã...