Capítulo 24-Dean. O começo da Esperança

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A solução veio do Reino Unido, de um laboratório especializado em tipos sanguíneos raros.
Melanie foi diagnosticada com um distúrbio genético, a Hemofilia, no caso dela crônica, doença na qual afeta a coagulação do sangue, onde cada substância que compõe o sangue tem um função, essas substâncias são chamadas de fatores de coagulação. Na hemofilia, alguns desses fatores não são produzidos, podendo gerar má circulação, hematomas mais dolorosos e mais roxos/vermelhos, e quando acontece algum acidente com cortes ou fraturas expostas, é difícil o controle do sangramento. Infelizmente não tem cura e o tratamento deve durar a vida inteira.
Melanie não teve muita sorte com os pais, pois o pai lhe transmitiu o cromossomo X, responsável por dar à ela a hemofilia, significando que o seu pai era portador da deficiência no cromossomo X.
Mas não é assim que teremos a cura para ela, o fator RH dela também é raro, tal qual afeta apenas 15% da população mundial. O fator RH neutro afeta a produção de anticorpos, fazendo sua quantidade ser baixíssima.
O tratamento de hemofilia é feito através de inibidores dos fatores defeituosos, fator VIII( Hemofilia tipo A) ou IX (Tipo B), esses inibidores agem nos fatores, ajudando em sua produção e função. Nem sempre os inibidores dão certo, assim, se começa outro tratamento, usando remédios ou por meio de reposição sanguínea dos fatores faltantes.
Mas algo está mexendo comigo em tudo isso. Se o fator RH de Melanie é defeituoso como o seu fator IX, significa que ela possui uma Hemofilia talvez ainda não estudada, não sei se o tratamento vai dar certo. Afinal, a nossa esperança que está sendo importada do Reino Unido será apenas doação de sangue, para repor todo o sangue que ela perdeu. E se o tratamento não der certo? Se ela morrer? Essa garota não pode morrer! Droga!
Dou um soco na mesa, que merda! Ela tinha de aparecer na minha vida? Melanie ignorou todos os dias que eu implorei que ela acordasse, mas agora? Ela quer mesmo morrer? Aquele merda de cardiologista tinha de meter o seu nariz lá para dizer que ela vai morrer? Ninguém chamou ele lá, absolutamente ninguém!
Acalme-se Bennett, eu sempre soube que essa garota traria problemas!
Cala a merda da boca!
Olho mais uma vez para os exames dela na mesa, a imagem embaçada do seu coração cansado, quase não conseguindo bombear o pouco sangue grosso. Guardo os exames na gaveta, pego o jaleco na cadeira e saio da sala, seguindo rumo ao seu quarto, sempre muito alheio a todos que passam por mim.
A porta branca fechada, a maçaneta dourada que agora é quase intocada por qualquer pessoa que não seja eu. Coloco minha mão direita sobre o material metálico e o giro, abrindo passagem para o quarto. Coloco os pés para dentro do quarto, olhando para o chão enquanto fecho a porta. Os aparelhos que a rodeiam são mais visíveis do que a própria Melanie. A pele toda pálida cheia de hematomas, os cabos que estão conectados em suas juntas, muitos para evitar sangramentos internos, e alguns curativos na pele, devido aos cortes ainda abertos, que frequentemente fazem ela perder o que sobrou do seu sangue. Contém diversos aparelhos no quarto, e me sinto feliz ao ouvir os bipes, significando que ela ainda está lutando.
Puxo a poltrona do quarto para perto da cama, me sentando em seguida. Olho para seu rosto mais pálido do que o normal, saudade de ver o seu rosto corado.
- Ah garota, eu gostaria de poder dormir de novo. Depois que você chegou, eu perdi a força do hábito. - Minha voz ecoa pelo quarto, sem alguma resposta de sua parte. - Me esqueci que você sempre gostou de me ignorar. Sabe, a gente poderia ter encontros mais legais do que num quarto de hospital, no qual eu sou o único que fala. Fazer um monólogo nunca foi um sonho meu, acredita? Então dê um jeito de acordar logo, porque sei lá, sua chatice faz falta. - Pego sua mão, tentando transmitir conforto. Suspiro alto, acariciando sua pele fria. É inevitável não sentir dor ao vê-la assim. Faz falta o seu desastre, o sorriso, a compania. Eu nunca pensei que poderia ficar assim com algum paciente.
Não me perdoaria se ela morresse, eu não posso deixar isso acontecer de forma alguma. Darei o meu melhor para que ela acorde logo, e seja livre de tudo isso.
Trago sua mão até meus lábios e a beijo, sentindo o arrepio me percorrer as espinhas, fazendo-me estremecer. Me levanto ainda segurando sua mão e me abaixo até chegar próximo ao seu rosto, acariciando ele com minha mão esquerda.
Droga Bennett, você tá fazendo tudo errado! Sabe que pode ser preso seu otário?
Me deixe em paz!
Não acredito que você está apaixonado!
Eu não estou apaixonado, ah fala sério, por que estou te respondendo mesmo?
Porque você sabe que tenho razão seu imbecil! Deveria...
Deixo de ouvir a tão chata consciência para observar o rosto dela, tão pálido e frágil que chego à confundi-lo com uma porcelana, todo trabalhado e esculpido, ahh! Essa garota não pode existir, olha o que ela está fazendo comigo! Droga!
Olho para sua boca, os lábios pouco rosados e carnudos.
Qual será o sabor hoje?
Nem pense nisso Bennett!
Doce? Morango?
Dean, por favor pare com isso!
Salgado, adocigado? Quente?
Ah seu merda! Você vai ser demitido se alguém descobrir isso!
Sempre gostei da presença dela, mas sentir os seus lábios parece tentador agora.
Ah, esqueci que você é um inútil de um irresponsável.
Sem ver me aproximo cada vez mais dos seus lábios, até eu sentir sua fraca respiração no meu rosto. Fecho os olhos e encosto nossos lábios, lembrando daquele beijo na festa. Durante estes segundos meu coração recebe uma calma, um conforto. Separo minha boca da dela, agora sentindo um pequenino vazio. Droga! Trago meu dedão até suas bochechas, buscando talvez outra satisfação.
Então o "Sr. Apaixonado" só busca por satisfação? Um step para o buraco que Beatrice deixou?
Ouvir isso pode trazer dor, mas e se for verdade? E se ela for apenas um step para o que Bia fez com meu coração?
Droga!
Serei determinado em trazer Melanie de volta, do mesmo jeito que serei determinado ao me afastar dela.
Olho novamente para o seu rosto, sentindo um misto de sentimentos me invadirem.
Decepção, dúvida, atração, tristeza e determinação.
Isso está errado, posso ser processado e perder o direito de exercer minha profissão. Está decidido, não terei nenhuma relação à não ser a profissional com Melanie.
Dou uma última olhada em seu rosto, depositando um último beijo nos seus lábios, e um selinho em sua testa. Me afasto, ficando de pé, tendo uma visão da situação dela.
Me sinto um merda agora, não acredito que usei ela, que me aproveitei da situação para poder beijá-la.
- Espero que possa me perdoar um dia, baixinha. Aguente firme, estou do seu lado, para sempre. -Dito isso, afago sua bochecha e saio do quarto.
Esse tratamento tem que dar certo, eu preciso que essa pirralha fique boa logo para poder tirar essa angústia do peito. Sei que não estou apaixonado, só me compadeci com o caso, pois a conhecia antes, só isso.
Entro no carro pensando em apenas uma coisa:
"Aliviar a pressão"

CelesteOnde histórias criam vida. Descubra agora