Capítulo 9

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O fim de semana foi realmente destinado para que Celeste ficasse para trás, reduzi o meu contato com as pessoas para que isso fosse possível. Liguei para Peter naquele dia mesmo e pedi para que cremassem os corpos, não sei se o meu pedido foi atendido e se não foi não ligo para isso. Gente morta é gente morta, de baixo da terra ou em pequenos grãos de cinzas não fazem a mínima diferença. Não para mim, não mais. Adiantei também a visita à empresa para hoje, segunda-feira às 09:00am, então estou acordada a um bom tempo. Já tomei o meu banho e agora procuro por uma roupa formal e própria para o ambiente de trabalho. Acho um terninho preto feito sob medida e o visto. Faço uma maquiagem simples e arrumo uma bolsa, desço para o café. Na sala de jantar vejo que a mesa está posta para 3 pessoas, me sento na ponta. Fico ali a espera e nenhum mísero empregado aparece para trazer o café.
- GRACE! CADÊ O MEU CAFÉ? -Grito. E em alguns segundos Grace surge da cozinha.
- Perdoe-me Celeste, a casa acordou agitada, vou buscar seu café.
- Volta aqui, como assim a casa acordou agitada? - Faço aspas com os dedos. - E eu não fico sabendo?
- O Sr. Robert chegou cedo hoje e está fazendo mudanças na casa. Vou buscar seu café. - A mulher baixinha diz e sai apressada para buscar meu café, não me dando tempo de perguntar quais mudanças. Quem o Robert acha que é para simplesmente chegar aqui e fazer mudanças? Ficou muito claro que ele não pode encostar um dedo se quer no que é meu até que eu seja responsável pelos meus bens, meu tio não pode de maneira alguma fazer mudanças na minha casa! O meu ótimo dia foi para um lugar bem longe, Robert sempre conseguiu me tirar a paciência. Estava até desconfiando do seu papel de bom moço durante os primeiros dias, mas foi só questão de tempo. Como minha mãe não está aqui para colocá-lo no lugar dele, vou ter que aprender a me defender sozinha. Grace adentra a grande sala segurando bandejas e Margot a ajuda. Vejo elas montando a mesa e vez ou outra posso ver seus olhares de canto de olho. Minha atenção é voltada para a porta da sala onde Robert e um homem desconhecido entram conversando na sala. Parece que ele realmente está se sentindo dono da casa. Coloco uma expressão nada boa no rosto.
- Bom dia, Robert. -Digo, com as mãos entrelaçadas acima da mesa. -Vejo que está tomando posse da minha residência.
- Bom dia, Melanie. São apenas recomendações do juiz, tudo para que você esteja em boas condições de vida. Este é o seu consultor administrativo, se quer saber. -Seu olhar exala ódio, provavelmente por me ver sentada no lugar onde ele sempre quis estar, meu tio é forjado da mais pura inveja e ambição, ele me odeia. Sorrio. Me levanto e sigo até eles.
- Sou Melanie Mayers, prazer. -Digo esticando a mão para o homem à minha frente.
- Travor Mckay, o prazer é todo meu. -Um sorriso cínico brinca em meus lábios. Olho para meu tio.
- Sinto lhe informar tio, mas já tenho meu consultor administrativo, polpe seus esforços, não precisa ficar em cima 24 horas ok? Dispense o Sr. Mckay. -Digo, voltando para a mesa. -Sentem-se, vamos tomar o café. -Meu tio me lança um olhar de puro ódio, é claro que ele não perderia essa oportunidade, controlar tudo o que faço na empresa, talvez dizer que não estou apta e querer pegar um cargo elevado.
- Melanie, o juiz recomendou que você tenha os melhores consultores para poder lhe ajudar, Mckay é o mais indicado. - Robert diz, e eu sei que não é verdade.
- Robert, eu já tenho meu consultor, não vou falar novamente, não se intrometa nos meu assuntos, você só é meu representante legal, não é você quem controla tudo, não fará mudança em nada que seja meu. - Minhas palavras saem em tom determinado e de ordem e é assim que tem de ser. Meu tio abaixa o olhar e tenho certeza de que ele quer me matar aqui e agora. Sorrio por dentro. Paro de me importar com as duas farsas à minha frente e me sirvo de um delicioso cappuccino, um pedaço de bolo de chocolate e torradas. Ao menos tudo está tranquilo. Olho no meu relógio e vejo ser 08:06, pego um guardanapo e limpo a região labial, meu tio e Travor terminam suas refeições.
- Bom, tenho que sair e dispensei todos os funcionários hoje, a casa ficará fechada e sinto muito vocês não poderam ficar mais tempo aqui. O café-da-manhã estava ótimo não? -Digo, a frieza e o sarcasmo estão unidos, olho a expressão sem graça de Travor, quase me esqueci que ele estava aqui. -Sr. Mckay, sinto muito mas não vou precisar dos seus serviços, peço desculpas por qualquer transtorno que lhe ocorreu para que estivesse aqui hoje. -Me levanto da mesa e vejo Travor fazendo o mesmo.
- Melanie, isso não está correto e...
- Não me interessa o seu argumento, Robert. Junte suas coisas e saia da minha casa, por favor, eu espero posso chegar alguns minutos atrasada. -Digo e me viro, indo em direção à sala de estar. Vejo Margot.
- Margot peça para Christopher preparar o carro para me levar a empresa e diga também para Grace arrumar a mesa e as coisa do café, depois pode a dispensar e você tire o dia de folga. Robert e seu amigo sairão em alguns minutos da casa, feche tudo e deixe alguma comida para o Pastel, acho que é tudo.
- Certo. Farei tudo o que pediu. Melanie, acho melhor você dar uma olhadinha no escritório, seu tio passou muito tempo lá e não sei se você vai gost...
Deixo Margot falando sozinha e passo pela sala de jantar vendo que meu tio e o outro ainda estão aqui, passo direto para o corredor e abro a porta do escritório. A visão me deixa com tanta raiva que o grito chamando o nome de Robert sai tão alto que me assusta. Tento respirar para me acalmar, meu tio adentra o ambiente e seu sorriso é descaradamente malicioso.
- Que merda você fez aqui Robert? Esta é a minha casa e esse é o meu escritório. Eu juro que se encostar mais algum dedo se quer em algo que seja dessa casa eu não me responsabilizo. -A raiva em minha voz pode ser sentida à quilômetros.
- Olha a gatinha colocando as garras para fora. - Sua gargalhada me dá ânsias. - Só estava tentando melhorar esse espaço velho e fedido, seu pai tinha um péssimo gosto, nunca gostei dele. - Ele diz tentando me provocar, coitado.
- Que seja, você não tem que melhorar ou piorar nada aqui, agora saia logo da minha frente e da minha casa, não quero ver essa sua cara horrível. -Digo já o empurrando para fora.
- Você ainda vai me agradecer e pedir perdão Melzinha, você vai sim. - Sua voz soa como uma ameça e isso me pertuba, seu tom irônico ao dizer meu apelido na família me faz tremer, mas não vou abaixar minha guarda. Ele sai e o sigo para vê-lo saindo da minha casa, preciso mandar desinfetar tudo agora. O desgraçado destruiu todo o escritório, os quadros das paredes foram retirados e muitos quebrados, as gavetas todas reviradas e fora dos devidos lugares. Tudo foi tirado, até mesmo o carpete, tenho absoluta certeza de que ele está à procura do cofre, haha ele nunca vai achar o meu cofre.
Péssimo dia para dispensar os funcionários, mas o que está feito está feito, quando voltar da fábrica eu mesmo arrumo tudo isso aqui. Me viro e quando estou saindo do escritório um envelope pardo me chama a atenção, nele tem um círculo escrito CONFIDENCIAL e um selo pertencente à outro estado. Pego o envelope e o coloco atrás de um livro na prateleira mais próxima, saio do escritório e o tranco, tomando rumo para a entrada da casa, onde meu carro me aguarda.
O caminho até a empresa é longo, então aproveito para ler alguns e-mails. Ao chegar na porta da grande empresa Mayers, espero Christopher abrir a porta e saio, vejo Peter chegando também e me junto a ele. Os principais acionistas e diretores estão à minha espera na sala de reuniões.

*
A reunião foi breve, fui apresentada à todos e conversamos sobre os assuntos da empresa. Os consultores financeiro, administrativo e empresarial da Mayers se prontificaram a serem também os meus consultores, eles irão me garantir que toda informação e ação feitas na empresa chegue às minhas mãos, serei informada sobre os contratos e transações, nos quais a minha assinatura deve estar presente. Após a reunião o tour pela empresa foi produtivo, conheci os setores, os responsáveis por eles e até mesmo alguns parceiros da Mayers. Almocei com os consultores que me ensinaram coisas básicas como a leitura de contratos e como dirigir uma reunião, ficou decidido que durante 3 dias na semana eles irão ficar a minha disposição para me direcionar e ensinar o ramo da administração. Me sinto bem por estar cuidando de tudo o que é meu e agora mais do que nunca, farei tudo que puder para cuidar dessa empresa e fazê-la crescer.

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