Capítulo 16- Peter

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Eu estava em casa quando recebi a ligação de Melanie, no começo achei que ela realmente estivesse tirando onda com minha cara, mas quando ouvi sua respiração falhada e seu pedido de socorro entrei em total desespero. Eu não sabia onde ela estava e eu, apavorado demais, com medo demais, não conseguia pensar direito. Fui direto para a mansão, onde talvez ela estaria em um domingo de folga. Tudo estava trancado e nenhum maldito empregado. Segurei a hera que cobria o muro e o escalei, pulando o mesmo. Eu não pensava, só corria. As portas estavam fechadas, e eu odiei isso. Tive de quebrar uma janela e na hora eu não senti, mas quebrei a mão e me cortei, eu não sentia nada. Procurei por todos os cômodos, e não havia nenhum sinal dela. Quando pensei que ela poderia estar no quarto subi as escadas e quando abri a porta do quarto a pior cena do mundo invadia meus sentidos. Celeste estava pálida, com tantas manchas roxas e vermelhas por todo o corpo, havia muito sangue na cama e no chão. Eu fiquei estático, parado, imobilizado. Não sentia nada, nem as lágrimas que escorriam pelo rosto nem a mão quebrada, a única coisa que me doía mesmo foi vê-la daquele jeito. Morta. Ela estava morta. A minha razão de viver estava morta. O que me fez tão feliz, aquela na qual mesmo me chamando de idiota milhares de vezes por dia, estava morta, na minha frente. E eu morri junto com ela. Não conseguia me mexer. Estava ainda em pé, atônito. Não sei como mas corri em sua direção, pegando ela em meus braços. O meu sangue se misturando ao dela, sua pele fria junto à minha quente. E então vendo ela assim, me lembro de que esqueci de chamar qualquer ajuda. O celular dela ensanguentado estava do meu lado, eu o peguei e liguei para a emergência, agindo automaticamente. Eu não sei como isso aconteceu, mas conversei com a mulher e não tenho a mínima idéia do que. Não me lembro. Ela estava nos meus braços, seu rosto delicado e lindo, pálido, sujo. Os lábios roxos e nas pálpebras um tom avermelhado. Eu não sei quanto tempo se passou, mas fiquei lá com ela, chorando encima do seu corpo desfalecido. Quando o socorro chegou, nos separaram, eu não me lembro de nada. Desmaiei pelo que me falaram. Acordei na ambulância, gritando o nome de Melanie. E agora? Agora eu não sei de nada. Estou num quarto de hospital, com o braço operado e a mão engessada. Segundo um médico qualquer ai, eu cortei a artéria quando arrebentei a janela com a mão e eu não sei como não senti, mas o tempo todo haviam cacos de vidro no meu braço, tórax e havia alguns nas pernas também. Eu não tenho notícias dela há horas, ou dias, não sei exatamente. Agora tudo o que faço é automático, tudo. Não consigo pensar no que pode estar acontecendo e me recuso a aceitar que ela morreu. Sei que não querem me falar, mas eu tenho certeza que ela morreu. Eu vi. Não sei até quando vou ficar aqui, e por algum motivo querem me manter preso, sem o mínimo de informações. Isso me irrita e já até bati em um enfermeiro idiota, piorando a situação da minha mão e meu estado de saúde, pois perdi muito sangue e acabei perdendo mais ainda. Raiva é o único sentimento que ainda aflora dentro de mim, pois o que me doma de verdade é o medo. Medo da verdade, medo de agora ser só eu. Medo de não ouvir a voz, ver o sorriso e o brilho dos olhos, medo de não ouvir o tão adorado "idiota" sair de seus lábios, de não sentir seu corpo quando me abraçar. Medo de não ter ela aqui. E como eu faço todo dia e toda hora, eu choro.

CelesteOnde histórias criam vida. Descubra agora