– Ei, Jullie, por que você continua fingindo que não me dá bola?
Eram seis e quarenta da manhã. Douglas, Jullie e eu tínhamos acabado de sair da casa da minha amiga e ele já começara com suas piadinhas. Eu fiquei em silêncio enquanto escutava meu irmão paquerar minha melhor amiga. De novo.
– Porque eu não dou – respondeu, com um tom de obviedade.
– Qual é, Ju? Nós sabemos que isso não é verdade.
Nós duas bufamos.
– Você é inacreditável, Douglas. Você me conhece há séculos e agora, só porque te dei um fora, fica correndo atrás, igual a um cachorrinho!
– O que eu posso fazer se você conseguiu me deixar de quatro? – E, para ilustrar a resposta abusada, meu irmão curvou o lábio inferior para baixo, colocando no rosto sua melhor expressão de cachorro que caiu da mudança.
– Aproveita a posição pra tomar no...
– Jullie! – repreendi minha amiga. Meio chocada e meio divertida.
Ela deu de ombros, mas só depois de acertar meu irmão com sua mochila.
– Eu mereço, viu?
E saiu andando apressada à frente, nos deixando para trás.
Pelo canto do olho, vi os lábios de meu irmão se retorcerem em um sorriso. Eu balancei a cabeça e corri atrás de minha amiga. Douglas, ainda insistente, foi também.
Assim que pisamos no colégio, eu me apressei para chegar à sala, coloquei minha mochila em cima de uma mesa próxima à Jullie e já corri para a turma de Natan. Como de costume, ele estava no corredor, junto a alguns de seus amigos. Ao me ver, se desencostou da parede e falou alguma coisa com as pessoas ao seu redor, antes de se afastar e vir ao meu encontro. Ele mantinha as mãos no bolso e não deu nenhum sorriso como fazia sempre que me via.
– Oi – falei, sem encará-lo. Pelo canto do olho, notei que ele também não o fizera.
– Oi. – Sua voz fria fez meu estômago revirar.
Tomei fôlego e falei de uma vez:
– Desculpa. Desculpa mesmo. Eu tava de mau humor com toda a história do Davi e... Bem, você sabe que eu... Nãogostodevocêcomoutrasgarotas – admiti, me atropelando com as palavras e cruzando os braços sem conseguir olhar para ele.
– Não gosta, é? – Ele deu um risinho convencido, e eu ergui o rosto para encará-lo.
– Deixa de ser metido. – Bati no braço dele, tentando desviar o foco da minha confissão. – Eu só não gosto de ninguém roubando meu amigo.
Ele soltou uma gargalhada e me abraçou, dando um beijo demorado no meu rosto.
– Nina, você sabe que ninguém, nunca, vai roubar o lugar que você tem no meu coração. Você é minha melhor amiga e nenhuma garota vai substituir você.
– Ahh. – Me derreti com o que ele disse.
Abri um sorriso feliz e ele o retribuiu. Joguei meus braços ao redor do seu pescoço, apertando-o no abraço em que estávamos.
– Desculpa, tá? De verdade – murmurei com a voz abafada, já que meu rosto estava afundado em seu ombro. – Eu sei que fui grossa, mas eu tava irritada e acabei descontando em você. Sinto muito mesmo.
– Tudo bem, Nina. Não ia conseguir ficar brigado com você por mais um dia mesmo – falou, me fazendo sorrir de novo.
Apertei ainda mais o abraço, fechando os olhos, e inspirei seu perfume, sentindo-me infinitamente melhor. Tudo estava novamente em seu devido lugar.
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Além da amizade (COMPLETO)
Teen FictionAquele poderia ser um dia como outro qualquer - mas, tão inusitado quanto uma frente fria no verão carioca, aquele sábado estava longe de ser banal. É por causa do seu rumo inesperado que Anna Schwartz se vê entrar em uma nova (e não tão boa) fase d...