Capítulo 12

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Encarei o prédio à minha frente, ainda não acreditando que eu estava realmente fazendo aquilo. Qualquer pessoa normal diria que eu havia pirado. Bernardo disse. Mas como ele foi o único para quem eu havia contato – e somente por necessidade, já que precisava descobrir como encontrá-la –, por enquanto, eu não precisaria ouvir as opiniões de mais ninguém.

Respirei fundo, como se tomasse coragem para entrar. No entanto, permaneci parada, observando a estrutura verde e branca que se localizava logo no início da Afonso Pena, na Tijuca.

Estúpida. Era isso que eu estava sendo. Não por estar ali e, sim, por ter chegado até lá e agora estar me preocupando com o que achariam de mim. Que se danasse todo mundo. Não era porque Davi havia me traído que eu não poderia ter compaixão por ele. Nós tínhamos uma história, éramos amigos. O carinho que eu nutria por ele não foi embora por termos terminado. Eu podia estar magoada, mas isso não significava que gostava de vê-lo mal. E deu para ver o quanto ele estava triste, o quanto ele gostava daquela garota.

Com uma determinação surpreendente, caminhei até o interfone e digitei o número do apartamento que Bernardo, o amigo que havia apresentado Davi a ela, me passara.

– Oi? – atendeu uma voz jovem e feminina.

– A Mayara, por favor?

– É ela. Quem é?

– Hm... Eu sei que você vai achar isso meio esquisito, mas é a Anna. A ex do Davi.

O silêncio prevaleceu por alguns segundos enquanto eu apertava minhas mãos em sinal de nervosismo. E se ela não quisesse falar comigo?

– Ã... Oi – disse, enfim, provavelmente achando aquilo tudo a coisa mais esquisita do mundo.

– Desculpa vir sem avisar, mas é que eu queria conversar com você. Você acha que... Hm... Tem algum problema?

– Er, não. Claro que não. – Silêncio novamente. Acho que ela tava considerando se era seguro deixar eu entrar em sua casa, porque se passaram alguns segundos até ouvir o barulho dos portões se abrindo. – Abriu?

Murmurei um sim e entrei.

Enquanto subia de elevador até seu andar, encostei na parede para respirar fundo. Perguntei-me mais uma vez por que diabos estava fazendo aquilo. Então, me lembrei da tristeza de Davi quando mencionei o assunto novamente naquela manhã e do seu olhar cabisbaixo o dia inteiro depois da nossa conversa.

Talvez eu não fosse agir assim na semana anterior. O negócio era que depois de tudo o que se passou com Natan, eu me sentia mais sensível. Sabia como era sentir falta de alguém importante. Entendia também o que era estar decepcionada com alguém. Ela, afinal, tinha sido tão vítima de traição quanto eu. E, no fim das contas, talvez eu simplesmente precisasse ajudar os outros e esquecer minha vida um pouco. E eu esperava muito que aquilo desse certo. Esperava que Mayara me ouvisse.

Quando o elevador parou, empurrei a porta com coragem.

Não foi difícil encontrar o apartamento. A mesma garota de dois sábados atrás estava parada ao lado de uma porta de madeira aberta. Andei decidida até ela, mas por dentro sentia meu coração bater acelerado.

– Oi – cumprimentei, sorrindo ao parar a sua frente. Por mais estranho que possa parecer, não senti nem dor nem remorso para me fazer dar para trás ou querer arrancar os cabelos ruivos da cabeça dela – o que também era uma possibilidade.

– Oi, Anna. – Ela ajeitou uma mecha que caíra do rabo de cavalo, colocando-a atrás da orelha. Parecia tímida. – Que... Surpresa.

Bem... Quem não se surpreenderia com a ex-namorada do cara que você pegou chegando na sua casa para bater um papinho?

Além da amizade (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora