Capítulo 25

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Eu não tinha um bom pressentimento sobre aquela viagem.

Enfiar dois adolescentes que acabaram de descobrir que os pais iam se divorciar, uma mãe irritada pela discussão sobre o assunto, mais uma prima traída em um mesmo carro para um lugar isolado da civilização era como nos mandar para a forca. E quem dera isso fosse só uma metáfora! Eu me sentia de verdade entre a cruz e a espada.

Suspirei enquanto observava os viajantes daquele carro. Eu estava entre Douglas e Letícia no banco traseiro, os dois olhavam para a janela, e a expressão em seus rostos não era nada amistosa. Minha mãe dirigia, e sua irmã estava no banco do carona. Tia Rosa parecia até deslocada diante de tamanho desacordo. Ela era a única ali que não estava emburrada ou brigada com alguém. E, apesar disso, minha mãe ainda insistiu no final de semana do terror. E agora estávamos ali, naquela sexta-feira ensolarada, pegando a estrada para Visconde de Mauá, uma cidadezinha no interior do Rio.

Tentei achar uma posição confortável, mas estar sentada no meio dificultava a coisas. Acabei me jogando em cima de Douglas, que protestou, mas não tentou me impedir, e olhei para a estrada, os pensamentos voando para a última terça-feira.

Quando acordei no dia seguinte à minha fuga para a casa de Natan, eu me senti como se tivesse sido atropelada por um trem. Estava com uma dor de cabeça infernal e os olhos inchados pelo choro da madrugada, depois de despertar com um pesadelo. Tinha passado quase uma hora chorando no colo de Natan, que acordou com os meus soluços. Incrível como ele tinha talento para me acalmar.

– Vai dar tudo certo, meu anjo – disse com a voz serena. – Vai ser melhor assim, não vai? Seu pai tá mudado, sua mãe tá feliz...

Solucei, sabendo que ele estava certo, mas ainda sem conseguir expulsar aquela tristeza.

– Eu sei – admiti, limpando inutilmente as lágrimas que caíam. – Mas eles tão juntos há tanto tempo que eu não consigo imaginá-los separados de verdade! Eu achei que... Eu achei que fosse tudo provisório.

– Eu sei que você achou. – Ele acariciou meus cabelos enquanto falava. – Eles com certeza acharam também. Mas o tempo foi necessário pra que tomassem suas próprias decisões, não foi? Há muito tempo essa situação tava ruim, Nina. Você via, você odiava. E agora tá se resolvendo, mesmo que não seja da maneira que todos vocês esperavam.

Como sempre, Natan estava certo.

Respirei fundo, inspirando uma boa dose do seu perfume. Minha cabeça estava encostada em seu tórax e eu deslizei minhas mãos até seu pescoço, puxando-o para um abraço. Ele apertou os braços que mantinha ao redor do meu corpo e ficamos assim por vários minutos.

Fechei meus olhos, tentando acalmar minha respiração. Fiquei tanto tempo assim que perdi a noção das horas, como se eu tivesse entrado em um estado de torpor. Natan, pensando que eu havia dormido, se mexeu e começou a retirar seu corpo de perto do meu com calma para não me despertar. No entanto, eu não tirei minhas mãos do lugar, ainda em seu pescoço. Abri os olhos novamente.

– Fica aqui – pedi, manhosa. – Só um pouco.

Seus olhos analisaram minha expressão triste e ele acenou com a cabeça, deitando-se ao meu lado na cama antes que eu deslizasse para perto, apoiando meu rosto em seu ombro e pousando meu braço por cima da sua barriga. Ouvi Natan suspirar baixo, mas agora que eu tinha parado de chorar e ainda o tinha perto de mim o sono voltou rápido, não me dando tempo para analisar sua reação.

Quando acordei, com a choradeira da madrugada finalmente me abatendo, ainda estávamos na mesma cama – provável que ele tivesse apagado também. Nossas mãos estavam entrecruzadas e seu rosto bem próximo ao meu.

Além da amizade (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora