Capítulo 22

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"Enfim, sós" foi a única coisa que passou pela minha cabeça quando bati a porta do táxi e encarei aquela imensidão azul à minha frente. Caminhei até a faixa de areia, observando o vazio em que se encontrava a praia àquela hora da madrugada. Qualquer pessoa normal teria sentido medo. Eu mesma não conseguia acreditar que, depois do meu quase afogamento, tive coragem de retornar. Porém, era inegável meu amor pelo lugar e, quando me perguntei para onde poderia ir naquele instante, o único ambiente que me pareceu realmente acolhedor era aquele.

Afundei meus pés na areia gelada. Ainda vestia a fantasia da noite anterior, mas havia tirado a bota preta e a correia, e as segurava nas mãos junto à máscara. Já era ruim o suficiente que estivesse só de top e calça de couro, andar por aí parecendo a Mulher-gato era dar muita deixa para os babacas de plantão.

Meu celular tocava sem parar dentro da pequenina bolsa. Eu queria atendê-lo porque sabia quem era a autora da ligação, mas ao mesmo tempo não queria por suspeitar que minha mãe me daria um belo de um sermão, perguntando onde eu estava, o que tinha acontecido e me mandaria voltar para casa imediatamente.

"Eu tô bem", digitei e enviei a mensagem. Em trinta segundos, recebi a resposta – que mesmo virtualmente conseguia demonstrar toda a preocupação da minha progenitora: "Onde vocês estão??"

Olhei por alguns segundos para a tela antes de desligar o celular. Meu irmão também não tinha aparecido, afinal. Ergui a cabeça, observando minha amada praia de Ipanema. Era pouco mais de duas da manhã. Eu não consegui ficar na festa por nem mais um minuto. E me imaginar sentada ao lado de Letícia, tendo que fingir que nada havia acontecido, era quase insuportável. Eu considerei que minha mãe ficaria louca da vida quando descobrisse que eu tinha sumido, mas não estava realmente preocupada – pelo menos não naquele momento.

Caminhei mais para frente, até o ponto onde as ondas quebravam. Observei a água quase quente deslizar pela areia até meus pés descalços e voltar para o mar com a mesma rapidez que viera. Fechei os olhos por alguns segundos e o vento de inverno vindo do oceano atingiu meu rosto com tamanha leveza que senti que poderia dormir em pé, ali mesmo.

Olhei para a faixa de areia à minha esquerda. Algumas pessoas ainda estavam por ali, participando de luaus; outros sem rumo, assim como eu. Ninguém me notou. Eu, no entanto, foquei meu olhar no garoto a alguns metros à frente. Com as mãos para trás e o corpo inclinado, seus cabelos arrepiados bagunçavam sempre que o vento o atingia, mas ele parecia mais distraído em observar as ondas quebrarem.

– Somos mesmo irmãos, afinal – disse sorrindo sem vontade ao sentar do lado de Douglas. Eu não estava surpresa por encontrá-lo na praia.

Douglas deu de ombros e só então notei a tristeza em seu rosto – assim como o cheiro de álcool que exalava dele. Seu olhar caído era de dar dó em qualquer ser com coração. Estava cabisbaixo e calado. Tudo o que Douglas normalmente não era; ele parecia arrasado.

– Eu sou um idiota, não sou? – perguntou sem me olhar.

Cogitei a possibilidade de mentir para consolá-lo. Mas desde quando eu amenizava as coisas para que Douglas se sentisse bem? Talvez esse fosse o motivo de tanta implicância. No fim das contas, porém, sempre procurávamos um ao outro para nos obrigarmos a enxergar a verdade.

– Quando você quer, sim. – Ele me encarou rapidamente, revirando os olhos.

– Valeu – agradeceu com deboche.

Eu sorri um pouco surpresa por tê-lo chateado.

– Você podia não ter sido tão rude... – expliquei. – Mas a Jullie tava precisando ouvir algumas coisas.

Além da amizade (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora