Capítulo 11

4.8K 307 274
                                    

Deitei em minha cama depois da escola na esperança de conseguir tirar um cochilo. Minha insônia ficava cada dia pior e já era quase impossível esconder as olheiras com maquiagem. Mas é claro que eu não consegui descansar.

Abri os olhos mais uma vez e repeti os flashes daquele sábado, me martirizando por não ter feito as coisas diferentes. Por não ter sido mais madura e explicado para Natan o que realmente estava acontecendo. Ele era meu melhor amigo, não era? Seria tão ruim assim admitir que estava atraída por ele e que um beijo só dificultava as coisas na minha cabeça? Que eu não queria nada destruindo nossa amizade?

O que eu tinha a perder? Ele?

E eu já não tinha perdido?

Que ironia...

Minha cabeça explodia de tanto pensar nesse assunto. Num ato impulsivo, peguei o telefone ao meu lado e disquei aquele número que agora eu já conseguia lembrar sem consultar minha agenda.

– Alô? – atendeu a voz sonolenta de Gustavo.

– Oi, Gutinho.

Ele soltou uma risada sarcástica pelo apelido, mas parecia feliz pela ligação.

– Muito engraçada. – Eu abri um sorriso. Era bom ouvir sua voz nesse momento tão lúgubre. – Sentiu minha falta no colégio, guria?

– Você faltou no colégio? Sério? Nossa. Nem reparei – brinquei. Era fácil esquecer todo o resto quando falava com ele.

– Vou considerar isso como um sim.

– Eu tô começando a achar que você é convencido demais pro meu gosto.

– Eu não sou convencido, guria. Sou realista. Eu não posso fazer nada se sou irresistível.

– Ah, cala a boca, guri.

Ele riu com minha tentativa de imitar seu sotaque.

– Ao que parece, minha mãe não conseguiu me acordar. Ela deixou um bilhete. – Ouvi um barulho de papeis sendo mexidos. – "Da próxima vez que tu não acordares quando eu chamar, a buzina que compramos no carnaval será usada e seu ouvido sofrerá sérias consequências" – leu.

Não evitei soltar uma gargalhada.

– Uau. Sua mãe é bastante... Sutil.

Tu não viu nada. – Nós ficamos alguns segundos em silêncio. – Então... O que manda?

– Ah, nada demais. Só aquela minha vida sofrida de sempre... – respondi com um tom divertido.

– Aconteceu alguma coisa? Tua voz tá meio tristinha.

O que era meio controverso, já que eu tinha acabado de fazer uma brincadeira. Talvez, porém, eu estivesse tão mal que nem meu tom engraçado conseguisse evitar a tristeza.

– Nada... Eu só tô com uma vontade louca de sumir. Fazer tudo desaparecer.

– Então vamos.

– Vamos o quê?

– Sumir. Fazer tudo desaparecer.

– Tá doido? Não dá pra fazer isso.

– Dá sim. Vou mostrar pra ti – ele riu. – Se arruma aí. Passo pra te pegar daqui a pouco.

– Mas... – Porém, ele já tinha desligado.

Dei de ombros e segui suas orientações.

Quarenta minutos depois, quando ele tocou a campainha, eu estava sentada no sofá assistindo a um filme chato que passava na Sessão da Tarde e já havia avisado minha mãe de que sairia.

Além da amizade (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora