Capítulo 17

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– Ai, Jesus! Comi tanto que fiquei triste – brinquei, dando palmadinhas na barriga e me afundando na cadeira do restaurante onde eu almoçava com minha mãe e as recém-chegadas.

Nós quatro rimos em uníssono.

As três ainda terminavam seus almoços. Estivemos conversando sobre a época em que Letícia e tia Rosa ainda moravam no Rio, rindo das lembranças. Agora estávamos caladas porém, e eu aproveitei o silêncio, inspirando fundo o ar morno e me sentindo maravilhada com a brisa batendo em meu rosto. Desviei os olhos para a vista daquele restaurante no Botafogo Praia Shopping, que dava para a enseada de Botafogo com o Pão de Açúcar como pano de fundo, e falei para Letícia:

– É lindo, não é?

Oxi... Se é! Nem acredito que tô de volta. – Ela suspirou.

– Vai sentir falta de lá? – perguntei, referindo-me à cidade onde ela morava.

– Já tô sentindo. – Letícia soltou uma risadinha e depois deu de ombros. – Mas vou me acostumar. Num me acostumei quando fomos para lá?

Eu concordei com a cabeça.

– Deixou muitos amigos?

Letícia pousou os talheres no prato e se virou para mim antes de responder. Desembestou a falar dos amigos que deixou para trás, e da melhor amiga que era quase irmã e tinha sido sua primeira companhia no Recife. Ela fez piada para evitar o choro, mas vi seus olhos se encherem de lágrimas ao pensar na vida que deixou para trás.

Poucos minutos depois, minha mãe nos chamou para ir embora.

Não tive muito tempo para matar a saudade de Letícia naquela tarde. Estava atarefada com testes e trabalhos na escola e precisava estudar. Minha prima aproveitou para tirar um cochilo. Ela deitou em minha cama – "Ave Maria, essa cama é tudo! Eu vou é me dar muito bem no teu quarto." – e apagou em menos de cinco minutos.

Só à noite, depois que eu declarei que não conseguia mais estudar, pudemos parar para bater um papo.

Enquanto minha mãe preparava o jantar com minha tia, eu ajudava Letícia a arrumar suas coisas em meu armário – durante o final de semana anterior, eu havia separado metade do espaço do meu quarto para ela. Colocávamos seus pertences no lugar e conversávamos ao mesmo tempo: Letícia me contava de um garoto que deixara para trás.

– Era só um boyzinho. A gente não tava namorando nem nada. Ele sabia que eu vinha pra cá... Mesmo assim, saímos por um tempo.

– Mas você gostava dele? – Sentei na cama depois de colocar as últimas peças de roupa na gaveta.

– Ele era legal, mas tenho certeza de que não daria em nada se eu tivesse ficado. – Ela me olhou com um sorriso maroto. – E tu acha que eu trocaria os boys cariocas pelos pernambucanos?

Eu ri. Dei-lhe um empurrão no braço e ela se apoiou na cama para não cair.

– Safada!

Oxi, mas eu? – Ela forjou uma expressão inocente.

– Não! Minha avó!

– Coitada da vovó, nega! – falou, rindo.

Eu sorri, e coloquei as últimas roupas na gaveta restante antes de me arrastar para minha cama.

– Tava pensando que a gente podia sair no sábado com uns amigos meus – mudei de assunto, aproveitando o silêncio para falar dos planos da semana. Meu colégio havia aceitado a transferência de Letícia, e já seria mais fácil para ela se enturmar estando em uma escola em que conhecia alguém. Mas ainda assim eu queria facilitar sua vida o máximo que pudesse. – Sei que você já vai conhecer eles essa semana no colégio, mas tenho certeza que vai ser muito melhor se a gente fizer uma coisa mais descontraída.

Além da amizade (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora