Capítulo 19

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O som prepotente do sinal do Honório de Paula ecoou por todo o colégio e, pela primeira vez, fiquei mais do que feliz em ouvi-lo. Levantei da carteira, retirando de cima dela a mochila já arrumada há mais de vinte minutos. Com a alegria de quem tinha acabado de ganhar na loteria, virei instantaneamente e pulei em Gustavo, abraçando-o pelo pescoço. Nem soube quantas vezes gritei "férias!" em seu ouvido até soltá-lo. Só sabia que, quando o fiz, tínhamos em nossos rostos enormes e radiantes sorrisos.

Bah! Isso tudo é felicidade de não ter mais a escola atrapalhando a gente por duas semanas? – perguntou, presunçoso, enquanto guardava seu material.

– Claro que sim, namorado. – Brinquei, ainda sentindo o coração palpitar com a palavra, mesmo depois de um mês e meio para me acostumar.

O problema era que não dava para me acostumar. Namorar Gustavo era interessante e divertido, principalmente pelo fato de nunca ficar entediada. Ele era a pessoa mais surpreendente que eu já havia conhecido. Bem, até essa parte eu já sabia; porém, como namorado, descobri que ele era ainda pior – ou melhor, nesse caso. Chegava a ser raro quando eu não me admirava com algo que ele fazia. Mas eu amava as coisas exatamente dessa maneira.

Gostaria de poder dizer, no entanto, que namorar Gustavo me fez enxergar que o que eu sentia por Natan era apenas carência do meu momento pós-término. Mas, infelizmente, ainda me pegava imaginando, vez ou outra, o que teria acontecido se eu tivesse lhe contado o que estava sentindo quando tive a oportunidade.

Embora possa parecer loucura, eu não me arrependia da minha decisão. Gustavo era melhor do que qualquer "namorado perfeito" que eu já havia imaginado. Eu gostava dele, de verdade, e estava relativamente feliz – pelo menos, o quão feliz poderia ficar uma pessoa dividida.

Além disso, Natan estava bem agora, também. Ele e Letícia seguiam firmes e fortes e eu não duvidava nada de que um namoro estivesse por vir. Estava na cara que eles se gostavam bastante – e que qualquer coisa que pudesse ter sentido por mim tinha sido esquecida. E eu iria esquecê-lo também, era uma questão de tempo.

– Ei, vocês dois! Não se esqueçam da minha festa hoje à noite!

Desgrudei de Gustavo por alguns segundos, virando a cabeça para o lado, e observei Jéssica passar por nós com o sorriso do tamanho do mundo.

– Nem por um decreto! – avisei.

Não bastassem as férias, sua festa de quinze anos seria naquela noite e ela estava mais do que ansiosa. Aliás, todos estávamos. Sabíamos que vindo de Jéssica, aquela seria a festa do ano. A garota havia aceitado a sugestão de minha prima sobre o tema Personagens da História, mas ninguém sabia ao certo sobre as fantasias dos outros. Tínhamos todos concordado em manter segredo até o evento, para aumentar a expectativa. E assim vinha sendo, sigilo total – apenas Letícia sabia sobre a minha fantasia, pois me ajudara a escolhê-la.

Esperei Gustavo guardar suas coisas enquanto observava a sala se esvaziar rapidamente. Encostada em minha carteira, vi Jullie carregar sua conhecida bolsa pré-férias (a que ela usava durante a semana anterior ao fim das aulas para levar somente o necessário, praticamente considerando-se de férias) para fora da sala de aula sem nem mesmo olhar para trás para se despedir – o que era de se esperar, pois não nos falávamos desde sua explosão no shopping.

Eu tinha tentado conversar com ela depois, descobrir o que tinha acontecido e até me desculpar por qualquer coisa que eu pudesse ter feito sem notar. Percebi, no entanto, talvez tarde demais, que o problema de Jullie era ser o tipo de garota extremamente possessiva e intensa em seus relacionamentos. Seu ciúme em relação à minha prima era tão grande (e irracional) que a nossa amizade foi quebrada simplesmente por ela achar que eu defendia a garota e estava trazendo a discórdia diretamente de Recife – o que, é claro, não fazia o menor sentido.

Além da amizade (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora