Os dias seguintes passaram terrivelmente lentos. Apesar de todas as superações, eu ainda aprendia, pouco a pouco, a viver sem a companhia de Natan. E, às vezes, eu tinha que admitir: doía.
Foi insuportável vê-lo fingir que eu nem mesmo existia nos dias que se seguiram a nossa briga. Eu tive que respirar fundo para não me deixar abater. Eu tinha prometido a mim mesma que não iria mais chorar. Eu iria ser forte e aguentar. Uma hora, aquele sentimento passaria e eu iria ficar bem. Mas era difícil me manter fiel a essa promessa quando eu o encontrava: tudo o que eu queria era abraçá-lo e pedir para esquecermos aquele beijo idiota. No entanto, isso parecia ser exatamente o oposto de como ele se sentia.
Depois daquela segunda em que nossos olhares se encontraram pela primeira vez desde a briga e eu vi toda a dor estampada em seu rosto, ele se tornou bem mais cuidadoso em esconder quaisquer sentimentos conflitantes que pudesse estar sentido quanto a mim. Agora, toda vez que nos esbarrávamos pela escola, ele apenas me olhava com indiferença, como se eu fosse alguém insignificante. O único momento em que conseguia ver alguma emoção em seus olhos era quando ele me flagrava com Gustavo.
Este, aliás, estava sendo completamente fofo e compreensivo com toda aquela história; não se chateava ou se irritava quando eu tocava no assunto "Natan". Pelo contrário, ele fazia de tudo para me animar e me fazer sorrir. Nós estávamos nos dando muito bem. O único porém era: nós parecíamos muito mais amigos do que um casal! Ele não mencionou nosso beijo uma vez sequer durante a semana e não parecia ter nenhuma intenção de repeti-lo. Eu fiquei nervosa, e pela minha cabeça milhões de perguntas se passaram, como acontecia com qualquer garota normal. Nós continuamos a agir como amigos e, a cada dia, eu tinha mais vontade de perguntar sobre aquela segunda-feira. Até que na sexta, ele me convidou para sair. "Um encontro de verdade, dessa vez", ele disse. E vi toda a minha preocupação ser jogada ralo abaixo.
Nosso encontro estava marcado para a mesma tarde em que Jullie e Douglas sairiam pela primeira vez. Eles haviam passado a semana inteira se esbarrando e agindo completamente envergonhados – como se meu irmão não fosse o garoto mais galinha do Honório de Paula! Finalmente, no entanto, ele a convidou para sair. É claro que foi necessária uma boa ajuda da minha parte.
Eu estava em meu quarto, estudando, quando Douglas entrou feito um furacão.
– Eu não aguento mais isso – reclamou em um tom alto e irritado.
Ele andava de um lado para o outro, falando atropelado. Passava as mãos no cabelo, frustrado, e suspirava de vez em quando.
– Douglas! Calma! Respira! – Tive que gritar.
Ele parou, me encarando. Então, se jogou na minha cama.
– Anna, eu não sei o que faço! Eu perguntei a ela se poderíamos sair e ela disse que sim. E foi isso. Fim. Mais nenhuma palavra. Nenhum encontro marcado. O que eu faço?
Eu pisquei, atordoada, tentando processar o que ele havia dito. Douglas estava nervoso por causa de Jullie? Era isso mesmo que eu estava ouvindo?
– Você já tentou... Combinar com ela?
Douglas se apoiou nos cotovelos, erguendo o tronco para me encarar.
– Você acha que eu sou idiota? – Sim, eu achava. – É claro que já. Mas toda vez que eu chego perto dela, esqueço tudo o que tinha planejado dizer. Tem algo mais patético?
– Douglas. Você gosta mesmo da Jullie – constatei, finalmente entendendo que não era só mais uma brincadeira do meu irmão. Todo o seu nervosismo fazia sentido agora.
– Gosto. O que você acha? – Ele revirou os olhos.
Eu cocei a cabeça, ponderando se deveria ser sincera.
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Além da amizade (COMPLETO)
Teen FictionAquele poderia ser um dia como outro qualquer - mas, tão inusitado quanto uma frente fria no verão carioca, aquele sábado estava longe de ser banal. É por causa do seu rumo inesperado que Anna Schwartz se vê entrar em uma nova (e não tão boa) fase d...