Capítulo 28

2.5K 211 44
                                    

Alguma vez você já sentiu como se sua vida tivesse parado? Como se todo mundo ao redor tivesse uma vida perfeita, menos você? Como se faltasse uma parte sua e você não soubesse o que fazer para recuperá-la? Era assim que eu me sentia. Mesmo que já tivessem se passado quase cinco meses desde que falara com Natan pela última vez.

É claro que nos víamos. Afinal, a gente estudava na mesma escola; e eu ainda era amiga do seu irmão. Mas nunca passava de um cruzar de olhares, talvez até um "oi" meio cansado da parte dele. Ele não tinha mais tempo para nada e, quase sempre, estava atolado de livros e cadernos para lá e para cá pela escola. Tudo o que eu sabia sobre seu pai era o que me contava Davi, que uma vez por mês ia com Natan visitá-lo e ajudar o irmão.

Mesmo sem as notas oficiais do vestibular, ele parecia estar indo bem de acordo com os gabaritos publicados. Era isso, pelo menos, que Davi me contava sempre que a data de alguma prova passava e eu corria para perguntá-lo. Eu me informava sobre o dia do vestibular de cada faculdade graças a Douglas, que, apesar de não estar tão interessado nos estudos quando Natan, também estava para terminar o ensino médio.

Quando o fim das aulas chegou então, com a aprovação direta de todos nós, soube que Natan havia ido para Santos. Para ficar. Não a vida toda, é claro, mas as férias inteiras. Ele ainda tinha que vir para o Rio para as provas restantes, mas na maior parte do tempo era no litoral paulista que se encontraria.

Os primeiros meses tinham sido difíceis. Vê-lo tão perto e ainda me sentir tão incrivelmente distante era doloroso, talvez até cruel. Era como colocar um prato de comida na frente de um morto de fome. Simplesmente não se faz.

Aos poucos, porém, eu aceitei.

Não gostava. Não queria. Mas entendia.

Eu entendia que se era complicado para mim, era mil vezes mais complicado para Natan. Porque era o pai dele quem estava doente e se tratando de um tumor descoberto não tão cedo quanto deveria ter sido. Porque, mesmo com isso para se preocupar, era ele quem também precisava dedicar seu já curto tempo aos estudos para realizar seus sonhos. Porque, por mais que me amasse, era ele quem tinha que pôr sua própria vida à frente de tudo. E, por causa de tudo isso, naquele momento, não havia espaço nela para mim.

Eu sabia que não era justo. Não era justo conosco e, principalmente, com ele próprio. Não era justo que tivesse que enfrentar tudo isso sem nem ao menos ter alguém para estar ao seu lado. Mas ninguém disse que a vida era justa – mesmo que, esperançosamente, eu tivesse achado que ela poderia ser. Que mesmo tendo seus altos e baixos, ela um dia daria um sorriso como se dissesse: obrigada por ser paciente, aqui está a felicidade pela qual você tanto esperou.

Só que não era assim que funcionava. E confesso que, apesar de tudo, apesar de aceitar, apesar de entender, eu meio que deixei de acreditar que o amor poderia, um dia, dar certo. Afinal, cinco meses deveria ser tempo o suficiente para esquecer alguém, não deveria? Para mim, não foi. Durante aqueles cinco meses talvez não infelizes, mas incompletos, eu me peguei pensando nele mais do que o normal. Em nossos momentos juntos, quando ainda éramos amigos, quando não existiam complicações. E por causa disso eu passei a detestar tudo aquilo que o amor me fazia sentir. Passei a detestar aquele sentimento miserável, que me fazia sofrer tanto sem nem um pingo de piedade. Eu percebia, cada vez mais, que ele era a arma mais poderosa que podia existir no mundo. Enquanto, para algumas pessoas, tinha o poder de curar corações destroçados, para outros, podia destruir tudo o que uma vida inteira demorou a construir.

Então, era oficial: eu odiava o amor. Odiava amar. Odiava aqueles casais estúpidos que eu via a cada esquina, em cada canto, em cada lugar que ia. Aqueles casais se beijando e trocando promessas de amor enquanto eu estava ali, sem a pessoa que eu mais desejava. Para que acreditar nisso? No final, tudo dava errado de qualquer jeito.

Além da amizade (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora