Capítulo 15

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Sempre ouvi dizer que a aflição que a gente sente quando se afoga é horrível

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Sempre ouvi dizer que a aflição que a gente sente quando se afoga é horrível.

Quando eu tinha quatro anos, meu pai e meu irmão foram arrastados pela correnteza até o fundo do oceano. Mesmo usando todos os movimentos possíveis da natação que já havia aprendido para tentar tirá-los de lá, meu pai não conseguia voltar. Minha mãe entrou em desespero total; não parava de chorar e gritar. Um minuto depois, o helicóptero do corpo de bombeiros passou zunindo em direção a eles e os tirou da água. Foram alguns poucos segundos, mas esse curto tempo que tivemos que esperar pelo resgate foi um dos piores da minha vida.

Até aquele instante.

Quando consegui recobrar a consciência, tive vontade de voltar a estar desmaiada. Tudo à minha volta estava preto; por mais que eu tentasse, meus olhos não se abriam. Meu pulmão queimava como brasa, minha garganta ardia e eu não conseguia respirar.

Tive a sensação de ainda estar na água, com as ondas batendo em mim e me causando uma vertigem terrível. Porém, dois segundos depois, senti o chão se chocar contra minhas costas – os grãos de areia não me machucavam como sempre faziam; pelo contrário, eu estava sobre uma superfície fofa e macia – e percebi que havia sido carregada. Alguns segundos depois, senti duas presenças ajoelhadas ao meu lado.

Havia um burburinho a minha volta. Eu não conseguia entender nada do que falavam, com algumas exceções.

– Será que ela tá bem? – perguntou uma voz desconhecida.

– Esses jovens não sabem que o mar hoje em dia é perigoso?

– Já avisaram os bombeiros?

Por causa da ardência na minha garganta, eu não consegui emitir ruído algum quando experimentei falar. E meu braço nem mesmo oscilou no momento em que arrisquei movê-lo.

Enquanto tentava lutar para dar sinal de vida, uma mão tocou minha testa e outra tocou o meu queixo, forçando minha boca a se abrir. O dono delas abaixou o rosto em direção ao meu ao mesmo tempo em que a mão que tocava minha testa voava para o nariz, tapando-o. Ele comprimiu sua boca contra a minha e soprou ar com força. Em seguida, as mãos seguiram do meu rosto para meu tórax, pressionando-o para baixo.

Senti a tontura aumentar. Meu estômago revirou, fazendo-me sentir ânsia de vômito; meu pulmão queimou tanto que estava cada vez mais difícil respirar. E eu ainda não conseguia me mexer.

As mãos voltaram para meu rosto, soprando ar novamente para minha boca, e retornaram ao meu tórax. A ânsia de vômito foi ainda mais forte dessa vez e a água que ficara presa em meus pulmões forçou passagem até minha boca. Por mais difícil que estivesse sendo, eu conseguia respirar novamente.

Tentei reabrir os olhos. Consegui, mas minha visão estava embaçada. Tudo o que eu podia distinguir eram ainda aqueles dois vultos acima de mim.

– Anna? – chamou uma voz desesperada que eu conhecia melhor do que ninguém.

Além da amizade (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora