Capítulo 23

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Havia algo estranho naquele domingo.

Um quê de decisivo, como se escolhas importantes estivessem prestes a serem feitas.

Ignorei as sensações que me atormentavam e me levantei da cama, sentando de costas para Letícia. Pensei na conversa do dia anterior com minha mãe e do quanto ela tinha me ajudado com seus conselhos. Não tinha premeditado contar nada a ela, mas eu devia conhecer dona Tereza melhor. Ela viu na minha cara que alguma coisa não estava certa e quando percebi, eu já estava desabafando.

Contei tudo, detalhe por detalhe, desde meu término com Davi e o que comecei a sentir por Natan a partir de então, até minha declaração para Natan na festa e nosso beijo flagrado.

Foi um alívio tirar aquele peso de cima de mim, especialmente por se tratar da minha mãe. Eu sabia que ela poderia ver as coisas com outros olhos, e talvez tivesse uma opinião mais madura sobre tudo aquilo. E eu estava certa.

– Eu realmente tenho perdido muita coisa, hein? – brincou antes de voltar à seriedade. – Você sabe que deveria ter vindo falar comigo antes de tudo, mas agora não adianta mais ficar se lamentando. Você realmente fez tudo errado, querida, mas só porque não pode mudar as coisas, não quer dizer que não possa consertá-las. Nunca é tarde para fazer o certo, não é o que dizem? – Concordei com a cabeça, em silêncio. – A Juliana tava certa quando te fez ligar para Gustavo. Afinal, ele merece saber que você se arrependeu, mesmo que ainda não aceite. Espere que ele fique mais tranquilo, que as coisas se acalmem, para então conversarem de verdade.

"A questão com a sua prima, já é mais complicada. – Ela coçou a cabeça e só sua expressão já me fez ver que realmente não havia escolha. De um jeito ou de outro, Letícia sairia magoada. – Eu acho que você deve chamá-la para conversar e explicar tudo o que sente por Natan. A amizade de vocês dois é de longa data e vocês têm muito mais história para contar do que eles tiveram. Não se compara dois meses com dez anos. Mas... Você tem que entender que ela pode não ser tão compreensiva. Ainda mais depois de vocês terem se beijado na festa. Uma coisa é sentir algo por ele, outra é beijá-lo. Aquilo foi traição, filha, e você sabe muito bem o quanto magoa. Não vá esperando um perdão automático."

Ela sorriu para tentar amenizar minha cara de desolamento.

– Desculpa mesmo por ontem, tá? – pedi. – Eu só tava tão chateada que acabei saindo da festa e não pensei nas consequências. Eu prometo que nunca mais vou fazer algo assim.

– Não prometa algo que você não vai cumprir – ralhou com um sorrisinho. – Você é adolescente e ainda vai cometer muitos erros.

Eu fiz uma careta, tentando não pensar nisso, e a abracei.

– Te amo, mãe – disse, sem soltá-la. – Obrigada pelos conselhos. Eu devia mesmo ter vindo falar com você mais cedo. Teria me poupado muita dor de cabeça.

Ela riu no meu ouvido e me soltou.

Quando entramos em casa, acabamos esbarrando com Letícia. Eu sabia que hora ou outra eu teria que encará-la para conversar, mas naquele momento eu sentia todo o cansaço da noite anterior pesando nas minhas costas. Eu tinha virado a noite, afinal! Meus olhos estavam praticamente se fechando sozinhos e, quando Letícia começou a desatar em perguntas, eu suspirei e avisei:

– Prima, eu prometo que te explico tudo depois, detalhe por detalhe. Eu tô precisando mesmo conversar contigo. Mas agora eu preciso muito dormir.

Então subi e caí na minha cama, apagando alguns segundos depois.

Dormi por várias horas seguidas. Tinha levantado no início da noite para tomar um banho e comer alguma coisa, mas não encontrei minha prima pela casa e acabei deitando novamente. Então, enquanto me revirava pela cama, tentando me distrair com um livro para não pensar em nenhum problema, acabei apagando e assim fiquei até o dia seguinte.

Além da amizade (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora