Capítulo 5

199 15 1
                                    

Bem mais tarde, ao chegar em casa, Raquel estranhou ao ver aquela vela de grosso calibre, acesa em algum lugar elevado da cozinha.

Após o jantar, enquanto ajudava a cunhada a arrumar a cozinha e assegurando-se que Alice não iria se irritar com sua curiosidade, Raquel perguntou, um tanto cautelosa:                                       

- Para que aquela vela, Alice?

- Ah! É uma simpatia que estou fazendo. Quero arrumar um emprego, para ter algum dinheiro, manter-me ocupada e ter mais valor para o seu irmão.

- Ora, Marcos a valoriza. Mas se quer arrumar um emprego, creio que ele ficará ainda mais contente, porque a situação de vocês se estabilizará mais rapidamente.

- Não tente me adular Raquel. Marcos nunca me valorizou - retrucou a cunhada em tom de ironia.

- Para mim, já. Outro dia mesmo ele comentou do seu capricho com a casa. Sabe Alice, meu irmão a quer muito bem. Você e os meninos, são a única família que ele tem. Quanto a mim...bem, eu sou irmã, estarei aqui 'por pouco tempo. Marcos só tem a vocês.

Deixando-se envolver pelos modos mansos que Raquel naturalmente usava, mais branda, Alice perguntou:

- Não sei porque brigamos tanto. O que será que posso fazer?

- Pensativa e cuidadosa com as palavras, Raquel arriscou:

- Sabe, quando a situação é crítica, se os ânimos dos outros estão enervados e se eu vejo que posso tumultuar ainda mais com uma pequena opinião, eu me calo. Fico quietinha. Depois, quando tudo se acalma, eu posso até arriscar um palpite ou esclarecimento, mansamente.

- Ah! Isso é você. Eu não sei ser assim não - reagiu Alice rapidamente.

- Sabe, Alice, para tudo na vida precisamos treinar. Tente! Quantas vezes forem necessárias. Quando você verificar os bons resultados, a mudança estará ocorrendo naturalmente.

A cunhada ficou pensativa até que o espírito Sissa aproximou-se dela e interferiu a fim de não deixá-la branda e refletir sobre o que é bom, pois se isso ocorresse, Alice não mais se deixaria envolver por ela.

- Ela está querendo ditar normas pra você? - Pelo visto já começou a mandar na sua vida!

Repentinamente, Alice transformou a face serena em um rosto franzido e sisudo arrematando o assunto, e falou quase arrogante:

- Quem quiser conviver comigo, tem que me aceitar como sou.

Raquel emudeceu, sentindo seu rosto aquecer por uma sensação de vergonha, mista de mágoa pelo que ouvia. ela guardou no peito, como se uma dor, aquela sensação de desapontamento sem nada comentar, Raquel havia prometido a si mesma não discutir com Alice, pois então não o faria e nem ofertaria nenhum conselho ou opinião que não fosse bem vindo.

                                                                                  * * *

Passaram-se alguns dias. Marcos, agora, se encontrava mais tranquilo, pois, com o dinheiro oferecido por sua irmã, ele colocara em dia o pagamento da locação da casa. A presença de Raquel parecia oferecer maior serenidade, ela era agradável e contornava a situação com Alice, que quase não se alterava mais. A nova hóspede procurava fazer de tudo para não incomodar a cunhada, e ainda ajudava-a no que era preciso, de acordo com sua disponibilidade.

Sabendo que Alice desejava trabalhar, Raquel procurou, junto aos conhecidos, uma oportunidade de emprego para a cunhada.

Certo dia, onde o início da noite era agraciado com um belo pôr-do-sol, por se tratar da época do ano em que o gostoso verão parece animar a todos, Raquel bem disposta, nem sentiu o trajeto de volta para casa, quase não percebendo que naquela hora o sol ainda podia ser visto, belo e alaranjado, bem na linha do horizonte.

UM MOTIVO PARA VIVEROnde histórias criam vida. Descubra agora