Capítulo 14

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Na semana que se seguiu agitada, Raquel demonstrava nítida preocupação. Alice queria que ela acompanhasse ao "tal lugar", que era denominado assim pelo fato de nem mesmo ser um local onde várias pessoas se reúnem centralizadas com o mesmo objetivo, o que seria um centro.

Esse "tal lugar" era uma residência e, em um quartinho nos fundos, aglomeravam-se altares, velas, flores, cortinas e toalhas de renda. Uma pessoa, em transe mediúnico, com vestimenta típica e comum, Aquela seita espiritualista, recebia os que a procuravam. Esse médium ficava dentro do referido quartinho e atendia um a um dos que esperavam sentados em um banco,no corredor comprido, onde seria um quintal. Em uma das vezes em que Raquel, só como acompanhante, foi a esse "lugar" com sua cunhada, um espírito sofredor aproximou-se dela e passou a acompanhá-la. No início, sua presença, suas vibrações, seus desejos e seus pensamentos eram imperceptíveis a Raquel.

Com o tempo, pelo fato de ela ter inúmeras preocupações e nem sequer se socorrer em prece, esse espírito passou a envolvê-la, mas sua presença era ignorada e a moça nem podia imaginar esse envolvimento.

Ela não percebeu que recebia vibrações inferiores, pensamentos queixosos e desejos lamentáveis, aceitando como sendo seus alguns sentimentos e vontades. Raquel não sabia distinguir suas ideias dos desejos do irmão espiritual que a acompanhava. Aliás, bem poucos o sabem.

Por essa razão, suas preocupações e suas angústias ficavam mais intensas e dolorosas. Raquel, que já era uma pessoa calada, ficara mais triste do que nunca. Sua quietude, antes tranquila, exibia-se agora amarga e depressiva.

Alice, ao contrário, mais alegre e extrovertida, em seu serviço revelava-se uma pessoa capacitada e esperta. Ela não cultivava muitas amizades. Todas as colegas que possuía eram por interesse. Alice fomentava a discórdia, sempre falava de qualquer companheira deixando a desejar sobre seu caráter em algum aspecto.

Com o incentivo do espírito Sissa, Alice começava então a se animar em chamar a atenção do gerente de seu setor para si. Ela era uma mulher de aparência respeitável e bonita.

- Você merece coisa melhor do que o Marcos – dizia-lhe Sissa, envolvendo-a a todo instante. Veja, Alice, você pode ter a oportunidade de ser feliz e ter melhor condição financeira, se quiser.

Sem ouvi-la, Alice passava a ter ideias e desejos daquele nível. Assim, sempre que tinha oportunidade, jogava todo o seu charme e

 direcionava olhares de conquista para o referido gerente que, percebendo suas insinuações, dava a entender que estava se sentindo atraído por ela. A pobre mulher não respeitava seu marido nem seus filhos. Alice não se amava, porque não respeitava a tranquilidade de sua consciência, pois não cultivava boa moral, preservando-se de futuras harmonizações dolorosas, porque já adulterava em pensamento. E assim, a cada dia, ela se aproximava cada vez mais daquele homem que lhe correspondia.

Com o passar do tempo, Aldo, o referido gerente do setor em que ela trabalhava, fez um convite a Alice que, sem pensar, aceitou. Eles começaram a sair juntos, frequentando barzinhos e boates, conhecendo-se um ao outro, enquanto tomavam aperitivos.

Alice fazia de tudo para que ninguém percebesse. Pelo fato daquele magazine oferecer opções diferentes de horários, ela adaptou-se ao expediente mais propício e, quando se atrasava muito para chegar em casa, desculpava-se dizendo que pegou uma grande venda e que a cliente demorou na escolha. Ninguém desconfiava. Não havia motivo.

Por outro lado, Raquel, em seu serviço, preocupava-se em demasia. Vagner tornava a se aproximar dela. Temendo-o, procurava evitá-lo o quanto podia, mas era difícil, uma vez que seus serviços se interligavam.

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