Capítulo 19

146 13 7
                                    


A caminho de seu apartamento, ás vezes, Alexandre ria sozinho, perguntando-se onde tinha arrumado modos tão corajosos e cínicos para falar daquele jeito. Em outras circunstâncias talvez tentasse ofender com palavras bruscas para esclarecer aquela situação, querendo tirar satisfações com Alice pelo que ela inventara. Entretanto, a ideia de estar com Raquel o agradava.

Ele a amava, tinha certeza disso. Por um instante, Alexandre se lembrou das últimas palavras de Alice sobre levar a filha de Raquel para junto deles. Por que ela dissera aquilo?

Se fosse mentira, Alice deveria saber que ele falaria com Raquel e, mais uma vez, seria desmascarada.

Deveria ser mentira mesmo. Raquel lhe dissera que nunca tivera um namorado. Alexandre sentia um frio invadir-lhe o ser. A insegurança por ignorar os fatos lhe causava temores que chegavam a abalar seu equilíbrio emocional, antes inalterável por ser muito racional. No apartamento, ao entrar, não viu Raquel. Não a chamou, acreditando que estivesse dormindo.

Reparou que tudo estava muito arrumado. Por não ser muito ordeiro, sempre largava suas coisas pela sala, que agora estava bem ajeitada. Indo até a cozinha, comprovou que alguém passara por ali colocando ordem, pois tudo estava muito limpinho.

Chegando á porta da suíte, que estava entreaberta, ele a chamou baixinho, espiando ao mesmo tempo:

- Raquel...?

Deitada em sua cama, ela se mexeu, voltando-se em sua direção. Em seu olhar havia uma expectativa aflitiva em saber o que tinha acontecido.

Alexandre entrou e se sentou na cama, ao lado da amiga, perguntando:

- Você está bem?

-  Estou. respondeu com voz branda, mas seus olhos estavam vermelhos, denunciando que havia chorado.

- Eu trouxe suas coisas. Bem, trouxe o que Alice me entregou. Se faltar algo, não se preocupe, deixe para ela. Que faça bom proveito.Depois compramos o que lhe faltar.

Sentando-se para vê-lo melhor, podia se notar que sua aparência exibia uma angústia intraduzível em palavras, ela sofria fatigada e amedrontada. Frágil, avisou tímida:

- Alexandre, eu não estou me sentindo bem. 

- O que você tem? perguntou preocupado, franzindo o semblante. 

- Não sei... sussurrou. 

- Como assim? 

- Parece que dói o corpo todo, algo que incomoda muito. Sinto-me tonta... 

- Raquel, você está abalada. Podemos dizer que é normal, tendo em vista o que sofreu.

Aproximando-se, tentou envolvê-la em um abraço.

- Não, por favor... pediu meiga e sussurrando, afastando-se lentamente com lágrimas correndo-lhe pela face.

- Por quê? perguntou em tom deprimido e brando. Em razão do silêncio, expressou-se com sutil generosidade: Não vou lhe fazer mal algum. Confie em mim. Só vou lhe dar um abraço. Vem cá...

Aproximando-se cautelosamente, puxando-a para si, abraçou-a enquanto avisava:

-  Vou cuidar de você. Não quero vê-la sofrer mais, viu?

Alexandre afagava-lhe suavemente os cabelos, quando percebeu que ela estava tensa, amedrontada e trêmula. Acreditando que lhe fazia sofrer mais com aquele carinho, afastou a de si, percebendo que ela escondia o rosto choroso.

- O que foi, Raquel? tornou carinhoso.

Ela não respondeu e se afastou ainda mais. Secando o rosto com as mãos, ao se recompor um pouco, perguntou acanhada:

UM MOTIVO PARA VIVEROnde histórias criam vida. Descubra agora