Capítulo 12

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A voz de Alexandre embargou. Ele parecia ainda sofrer com aquela decepção. Após longo silêncio, Raquel, sentindo seu coração apertado,perguntou:

- O que você fez?

Tomando fôlego, curvando-se, entrelaçando as mãos á frente dos joelhos e prendendo o olhar em algum ponto do chão, Alexandre falou mansamente:

- Fiquei furioso. Verdadeiramente fora de mim. Invadi o quarto,esmurrei Júlio o quanto pude. Sandra, enrolada em um lençol, tentou me impedir e... Acabei dando-lhe um tapa muito forte. Ao vê-la caída e chorando de um lado e Júlio, muito machucado, do outro, fiquei atordoado.

Só então me dei conta da situação. Perturbado, decepcionado, ferido, saí sem rumo. Quando dei por mim, estava diante da casa de meus pais. Senti que algo estava errado comigo. Comecei a passar mal. Entrei e minha irmã veio ao meu encontro. A última coisa que me lembro é do rosto de Rosana, minha irmã, falando algo que eu não ouvi.

Acordei uns três dias depois num hospital. Tive uma parada cardíaca. Se não fossem os primeiros socorros prestados por um policial que soube o que fazer, talvez eu não tivesse resistido.

- Por isso que precisou do remédio? perguntou surpresa .- Sim. Eu tive uma parada cardìaca, resultado de uma tensão emocional gerada por uma irrigação sanguínea insuficiente no músculo cardíaco respondeu Alexandre sem encará-la, e na mesma posição.

Continuando em seguida:- Nunca percebi nada. Nunca precisei de um médico. Alexandre riu forçosamente e lembrou:- Praticava esportes, nunca fumei e não bebo, mas tinha o coração fraco e não sabia. Era uma inflamação das membranas das paredes do músculo cardíaco que eu ignorava ter.

Brevemente explicou: - Para problemas cardíacos existem medicamentos, que aumentam a força das contrações cardíacas,chamados "cardiocinéticos". Como também os"cardiotônicos", que contém adrenalina e coramina para estimular a função do músculo cardíaco enfraquecido. Eles agem sobre os centros nervosos que são dependentes da pulsação cardíaca. Isso tudo regula o ritmo do coração.

Virando-se para Raquel, perguntou brandamente: - Entendeu por que eu precisei tomar aqueles medicamentos?

Raquel afirmou com um aceno de cabeça e ele continuou:

Um mês depois, eu estava na casa dos meus pais me recuperando ainda. Ninguém sabia do flagrante que eu dera em Júlio e Sandra. Os pais dela me visitavam com frequência sem entender a distância que a filha mantinha de mim diante do meu estado de saúde.

Perguntaram algumas vezes o que tinha acontecido entre nós, mas não insistiram quando silenciei, talvez por causa de minhas condições físicas. Quanto a ela, nem sei o que dizia a eles. Passados alguns dias, ao me ver a sós com o pai dela, criei coragem e contei tudo o que tinha acontecido, falei da traição, pois a peguei na cama com meu melhor amigo... Nossa,pensei que o homem fosse enfartar. Ele não me disse nada.

Transtornado, seus olhos ficaram cheios de lágrimas e ele emudeceu. Estapeou-me as costas fortemente, parecendo ser um gesto de solidariedade, entendendo a minha situação, e depois foi embora.

Eu já estava bem melhor nessa época,até voltaria a trabalhar na próxima semana, mas no dia seguinte a esse episódio, eu estava assistindo á televisão, tentando arrancar da lembrança a cena de traição, que era constante, quando ouvi um murmurinho e a voz de Rosana, minha irmã mais nova, um tanto irritada.

Levantei-me e fui ver do que se tratava.

Sandra falava alto, estava irritada e á minha procura; Rosana tentava detê-la.

Quando me aproximei, ela me jogou a aliança no rosto e falou:"Toma! Eu odeio você! Quero que morra!" Com o olhar transbordando rancor, ainda disse ironicamente: "Sabe o filho que estou esperando? Não é seu, é do Júlio. Você não é homem para isso. Eu sei por que você gosta de viver com rapazes. Estou sabendo do seu caso com o Celso e que você é 'mulher' dele".

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