Com a claridade que penetrava suavemente no quarto, ele despertou tranquilo, mas surpreendeu-se por ter dormido ali. De bruços, Raquel estava em sono profundo, deitara sobre o braço de Alexandre, que o sentia até dormente, pois ela fizera seu ombro de travesseiro e ainda o abraçava pela cintura. Alexandre, sorrindo, admirou-a por alguns segundos, mas logo ficou aflito; ela poderia acordar e, do jeito que se melindrava com tudo ultimamente, pensaria que ele fizera aquilo de propósito. A custa de muito jeito, o rapaz se livrou do envolvimento com Raquel sem acordá- la. Levantou-se vagarosamente, mas quando ia saindo do quarto, o rádio-relógio ligou e ela despertou.
Alexandre pensou rápido e, ao invês de sair, virou-se como se estivesse entrando na suíte. Antes de cumprimentá-la, pensou: "Que sorte! Mais alguns minutos..."
Raquel o olhou e ele disse:
- Bom dia! Você está bem? Vim ver como passou o resto da noite.
- Bom dia. Nossa...!
- O quê?
- Parece que estou anestesiada. Não me lembro de já ter experimentado um sono tão profundo assim afirmou a amiga, ao se sentar na cama.
- Dormiu mal?
- Não! Ao contrário afirmou sorrindo docemente.
- Que bom! Antes de sair ele ainda falou: Vou arrumar o café. Depois vou levá-la para o serviço, só que voltarei para casa. Vou me dar ao luxo da convalescência.
- Não precisa me levar... respondeu Raquel, mas Alexandre não lhe deu atenção.
Depois de teimar um com o outro, Alexandre, vitorioso, levou Raquel até o trabalho e retornou para seu apartamento, onde a senhora que prestava os serviços de limpeza já havia chegado.
- Que surpresa, seu Alexandre! Não esperava o senhor aqui. Não me chame de senhor, Lourdes. Mas hoje estou em casa porque não me senti bem. Precisei ir ao médico, que deu três dias para me recuperar.
Sem saber direito como se referir a Raquel, pois fora da noite para o dia que percebeu as coisas da moça no apartamento, sem que alguém a informasse, a senhora falou:
- Sabe, seu Alexandre, estou meio sem graça, mas...
- O que foi, Lourdes? perguntou ele atencioso.
- Sua mulher... Sabe, não quero falar nada contra ela. Mas, seu Alexandre, estou preocupada.
Alexandre sorriu ao ouvir Lourdes se referir a Raquel como sendo sua mulher, apreciando o tratamento, mas não disse nada, perguntando com prazer:
- O que tem "minha mulher"?
- Ela foi muito educada comigo. Não posso reclamar. Mas é que, sabe aquele dia que eu cheguei e vocês não tinham ido trabalhar? Porque no dia da faxina eu sempre chego cedo, né?
- Sei, sim. O que tem? tornou interessado.
- Então, a dona Raquel me chamou e, com aquele jeitinho delicado dela, pediu para eu não lavar mais as suas roupas pessoais, só as do senhor e lençois da casa. Fiquei tão preocupada que nem dormi direito. Será que estraguei alguma coisa, seu Alexandre? Olha, se eu...
- Não! Não foi nada disso. É que a Raquel foi acostumada a cuidar de suas coisas. A mãe a ensinou assim e ela gosta de fazer a seu modo.
- Isso eu percebi assim que ela veio pra cá. Nunca mais lavei louça e a casa sempre está arrumadinha.
- O bagunceiro então sou eu mesmo, não é, Lourdes? perguntou rindo.
- Não! Eu não disse isso, seu Alexandre. Mas é que percebi que ela é uma moça ordeira. Isso é difícil hoje em dia. Sabe, eu também trabalho no apartamento de duas irmãs que moram aqui perto e os pais delas vivem no interior. Puxa! Elas não são nada caprichosas. A dona Raquel, ao contrário, é muito prendada.
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UM MOTIVO PARA VIVER
Spiritual..."A familía autoriza a doação?"i O que fazer diante desta situação? No que nos baseamos para tomar tal decisão? Quais as consequências? É certo? É errado doar orgãos? O que nos diz a espiritualidade? Filhos adotivos? Qual a diferença entre filhos...